FORA DAS CÂMERAS
Chegou o tão esperado desfile das Escolas de Samba, após dois anos de reclusão. Foi uma proibição necessária em prol da saúde pública . Entretanto, afetou diretamente à Economia, desde os setores mais altos como companhias aéreas, agências de turismo, hotelaria; ao comércio informal. E, por conseguinte, os trabalhadores dos barracões também foram prejudicados, já que confecção dos carros alegóricos e fantasias geram renda.
Falar de um sistema capitalista não é o meu propósito aqui, muito pelo contrário. Algo muito mais subjetivo, pretendo descrever acerca de uma emoção indizível que somente os grandes foliões sabem.
Na verdade, não é aquele que brinca na rua seguindo os blocos ou um frequentador dos bailes em ambiente fechado. Refiro-me à Apoteose sob o jogo de luzes e cores movida em um ritmo frenético!
Porém, o que os telespectadores desconhecem e tampouco imaginam o sacrifício para desfilar. Se a Escola entrar na avenida às 22 horas, você precisa estar na concentração às 19 horas. Parece exagero, mas não. Para chegar até lá, anda-se muito a pé, pois os únicos veículos permitidos são os carros alegóricos e alguns motociclistas autorizados.
Durante esse longo tempo que antecede à entrada aguarda-se em pé! A ansiedade tamanha não permite que sinta fome, apenas sede. E são os assistentes distribuem água. Todos em suas respectivas alas, ensaiam de última hora alguns passinhos. Outros cumprem um ritual de incensar os grupos.
O som alto do enredo da concorrente disputa o espaço com o falatório ao redor, até o momento em que o intérprete no microfone anuncia a entrada. De súbito um silêncio palpável cresce entre os componentes, rompido segundos depois com um samba de “esquenta”.
Em mio a multidão, o diretor de harmonia grita: “Aê, rapaziada! Muito samba no pé e o enredo no gogó, afinado! Afinado! Tem que ser junto! Vam’booooora!” Até quem nunca dançou, imediatamente começa a sambar no ritmo ensurdecedor da bateria! E como uma avalanche, o colorido inunda a passarela! Você não consegue identificar a localização do diretor de sua ala, mas inacreditavelmente seus gritos sobrepõem a bateria e no meio do desfile avisa aos berros: “Cabine dos jurados! Samba no pé! Samba no pé! Olha o sorriso! Quero ver o sorriso das gatinhas! Todo mundo! Todo mundo! Vamos ganhar!”
Carnaval, ao contrário do que muitos pensam, não é bagunça. Trata-se de uma organização arquitetada durante 365 dias, por grande família com uma torcida gigantesca e ligada por fortes emoções!
Ivone Rosa
Instagram: @profaivonerosa
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Referências:https://pixabay.com/pt/photos/rio-de-janeiro-carnaval-o-samb%c3%b3dromo-4965438/
Abril/ 2022