6ª edição – Crônica: “Ao Redor” – Ivone Rosa
AO REDOR
Ivone Rosa
Era início de uma tarde de sexta-feira. Chamei um carro por aplicativo para chegar mais rápido, bem como por prevenção neste período de pandemia. O motorista, gentilmente, perguntou-me qual a rádio de preferência. Não escolhi, pois, estava no comecinho da música do Lenine, “Paciência”. Com o celular em mão, rapidamente fiz a pesquisa acerca do lançamento: 1999. Pasmei! Seria uma simples coincidência?! Vinte e um anos depois; como uma letra de música criada há mais de duas décadas pode ser tão atual?!
Durante meu questionamento silencioso, observava o comportamento das pessoas no tráfego intenso. Algumas pessoas atravessavam a rua sem esperar a sinalização permitida. Buzinas disputavam o espaço na extensa avenida. Outros carros usavam o acostamento para fugir do grande trânsito. Olhei para o outro lado e presenciei um casal que supostamente discutiam dentro de um automóvel. Não era possível ouvir, felizmente! Mas através dos gestos, não se tratava de uma simples divergência de ideias. A mulher tampava os ouvidos com as mãos, enquanto ele batia com as mãos no volante e vociferava algo bem agressivo de acordo com suas expressões fisionômicas! Triste cena…
Cheguei ao meu destino. Um banco comercial do Governo, mesmo com as regras de distanciamento estava cheio. Suspirei e sentei-me ao lado de uma jovenzinha que sorria com um celular, parecia estar jogando. Naturalmente, a cumprimentei. Ela apenas acenou com a cabeça. Abri minha bolsa peguei meu livro e antes de iniciar a leitura, a jovem perguntou-me se eu tinha um carregador. Sem que eu a respondesse, já estava a procura de uma tomada mais próxima. lamentei por desapontá-la, não tenho o hábito de carregar meu aparelho na rua.
Surgiu uma breve conversa, descobri que mesmo tão nova, já era mãe de uma bebê com menos de quatro meses! Foi inevitável minha viagem ao passado relembrando as duas gestações! Discorri a respeito do aleitamento e de minha inexperiência com o primeiro filho…a conversa foi encerrada com a dura e fria afirmação:
– É minha segunda filha eu nunca amamentei porque não tenho paciência!
Como é interessante observar esses microcosmos circundantes…
Um excelente texto.