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6ª edição – Artigo: “Nós, robôs” – por Kauã Geddes

Nós, robôs
por Kauã Geddes

Ninguém, mais do que o cientista europeu Charles Darwin, pode afirmar que o processo evolutivo é fundamental para a prosperidade de qualquer espécie viva. Desde seres acelulares até organismos pensantes. Os acelulares, Monera, Plantae, Fungi e Animalia desenvolvem suas características em função da maior propagação de sua variabilidade genética em níveis cada vez maiores. Esta é a odisseia da vida de praticamente qualquer ser conhecido. Contudo, destaca-se a evolução do Homo Sapiens. Uma espécie historicamente e biologicamente em evolução constante, podendo ser considerado um ecossistema. A justificativa é a densa biodiversidade em todos os pontos na anatomia do humano, em especial, no sistema digestivo que vive se associando com os indivíduos ali presentes e o meio no qual estão envolvidos. Outro sistema notável é o imunitário, que segue o conceito darwiniano de evolução, adaptando-se ao meio para combater os corpos estranhos no ecossistema.  Mas o destaque principal do Homo Sapiens é o que seu segundo nome sugere: “sapiens”, indica sabedoria e capacidade de pensar e, por isso, os humanos são a espécie dominante no planeta. Ou seja, não há dúvidas de que na história dessa espécie ocorre uma grande evolução intelectual, segundo a qual permite o sedentarismo e a automatização dos processos mais complexos e mais simples. Porém, necessitamos entender que não basta apenas a intelecção do ser humano. Logo, é imperioso o desenvolvimento físico congruente com as intempéries do meio ambiente urbano, interplanetário e assim se amplia o sedentarismo.

A princípio, é recomendável prestar atenção na população amputada utilizadora de próteses biônicas e no físico britânico Stephen Hawking, pois essas pessoas tiveram as vidas completamente mudadas pela biotecnologia e pela neurociência. Dentro desses tópicos, a qualidade de vida dessas pessoas cresce até, praticamente, se igualar com a qualidade das pessoas não utilizadoras de peças biônicas. Mas, infelizmente, pouco se fala sobre o ambicioso objetivo de fazer próteses e exoesqueletos que ampliem igualmente a qualidade de vida de todos os seres humanos, ao invés disso, coexistimos com demasiada especulação, envolvendo a criação de androides com inteligência relacionada à conexão com computadores quânticos, além de, na maioria dos casos, ser necessário a interpretação das emoções humanas por parte dos androides. E erroneamente acredita-se que essa seja a opção de maior viabilidade, contudo, é possível listar as depressões que deixam a produção de androides a desejar.

Sabe-se que a reprodução completa do ecossistema do corpo humano tomaria, pelo menos, meia dezena de décadas, pois isso necessitaria de uma evolução psicoemocional da raça, a nível de compreender boa parte da gama de emoções produzidas. Esse sistema prolongaria o processo de desenvolvimento de máquinas andromiméticas — plena questão de logística. Outro ponto negativo decorre do risco do racismo que androides sofreriam, além do conflito legal que haveria para a permissão de casamentos, adoções, registros, etc. que essa revolução na tecnologia traria. Mas por conta do realismo dos pontos apresentados, torna-se fácil concordar e pensar nas depressões como preços baixos a serem pagos pelo paradisíaco sonho de viver em uma realidade futurística. Porém, ao invés de fazer novos ecossistemas e lidar com suas dificuldades logísticas e éticas, há mais possibilidades de aprimorar os já existentes.

Ao retomarmos o pedido de olhar para a população que utiliza próteses biônicas e tecnologias afins, a viabilidade do aprimoramento humano se revelará incontestável, acelerando o processo evolutivo físico do ser humano, para que o mesmo se alinhe com o desenvolvimento intelectual, evitando com que um não atrapalhe o outro. Então é possível compreender que o futuro está nas próteses biônicas e nos exoesqueletos, torna-se óbvio pela alta aderência que os wearables possuem, sendo eles uma das bases para o desenvolvimento. Em alguns anos, caso haja o entendimento dessa tese pela comunidade científica, isso se tornará parte do nosso dia-a-dia, melhorando a qualidade de vida através da optimização e da adição de funções no ecossistema humano.

Por conseguinte, diversos setores poderiam se beneficiar com esse avanço. Por exemplo, na construção civil, pois operários serão providos de equipamentos de segurança mais eficazes e exoesqueletos nos membros superiores e inferiores, permitindo maior mobilidade de grandes vigas metálicas com a destreza das próprias mãos. Na medicina, com dispositivos capazes de se transformar em diferentes instrumentos cirúrgicos, instantaneamente, ou com tecnologia semelhante aos chips da empresa brasileira Cycor. Seria viável a criação de instrumentos capazes de modificar seu volume e penetrar em diferentes cavidades e, ainda assim, sendo controladas por impulsos nervosos humanos. Outro grande avanço que seria proporcionado é na segurança pública, onde policiais obteriam dispositivos oculares para, com sistema de reconhecimento facial, reconhecer criminosos e capturá-los através de membros destacáveis e exoesqueletos que permitiriam a capacidade atlética muito mais aprimorada.

Todos estes saltos na Neuroengenharia seriam capazes de auxiliar fundamentalmente variadas atividades humanas. E por estarem ligados ao próprio corpo humano, através de conexões e implantes, não seria apenas uma evolução na tecnologia, mas também uma evolução do ecossistema do nosso corpo. Ou seja, uma forma de adiantar artificialmente a capacidade humana de se adaptar as situações do mundo e antrópicas. Além disso, desmistificaríamos a glorificação de um futuro com evoluções baseadas em androides por conta de sua inviabilidade logística.

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Renato Cardoso

Renato Cardoso é casado com Daniele Dantas Cardoso. Pai de duas lindas meninas, Helena Dantas Cardoso e Ana Dantas Cardoso. Começou a escrever em 2004, quando mostrou seus textos no antigo Orkut. Em 2008, lançou o primeiro volume de “Devaneios d’um Poeta” e em 2022, o volume II com o subtítulo "O Rosto do Poeta". Graduado em Letras pela UERJ FFP e graduando em História pela Uninter. Atua como professor desde 2006 na rede privada. Leciona Língua Inglesa, Literatura, Produção Textual e História em diversas escolas particulares e em diversos segmentos no município de São Gonçalo. Coordenou, de 2009 a 2019, o projeto cultural Diário da Poesia, no qual também foi idealizador. Editorou o Jornal Diário da Poesia de 2015 a 2019 e o Portal Diário da Poesia em 2019. É autor e editor de diversos livros de poesias e crônicas, tendo participado de diversas antologias. Apresenta saraus itinerantes em escolas das redes pública e privada, assim como em universidades e centros culturais. Produziu e apresentou o programa “Arte, Cultura & Outras Coisas” na Rádio Aliança 98,7FM entre 2018 e 2020. Hoje editora a Revista Entre Poetas & Poesias e o Suplemento Araçá.

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