Daniela Castro

Rato intelectual

      Na ilha da literatura há um lago. No fundo deste lago, ao invés de peixes, há palavras nadando…  Estas palavras se alimentam de letras…

      Bem pertinho do lago há uma casa… Uma casa antiga e pouco conservada, pois somente usavam a casa nas férias ou feriados, sendo que na maior parte do tempo ela era pouco habitada. O dono da casa costumava alugá-la para uma família que adora a natureza e lá é um ótimo lugar para descansar, tomar banho no lago, pescar palavras, ler um bom livro…

      Depois de uns dois anos sem aparecer, aquela família, que é composta por quatro pessoas, resolve convidar outra família de amigos para passarem alguns dias das férias na casa do lago; a qual aceitou o convite. Começaram os preparativos para os dias cheios de aventuras, descansos ao ar livre, leituras e cantos em volta da fogueira à noite perto do lago literário e tudo aquilo que se possa inventar no momento ou que se está sem fazer nada…

      O dia, tão esperado, chegou; as duas famílias se encontraram na Ilha da literatura e se dirigiram à casa do lago literário. Saíram dos carros e olharam, para casa, espantados, pois o dono tinha dito que a casa estava reformada, que parecia novinha em folha; que mentira! A casa estava abandonada, o capim alto na frente e suja. Quase desistiram de entrar. Mas resolveram entrar e dar uma geral na casa, pois não iriam perder de aproveitar uns dias de férias por causa do estado dela.

      As crianças que são muito curiosas foram na frente, enquanto os adultos tiravam as malas dos carros.

      De repente se ouve uns gritos lá dentro da casa. Os adultos largam tudo e correm para dentro e verem o que estava acontecendo. Mal entram na casa soltam um grito, também apavorados! Bem no centro da sala encontrava-se um rato, sentado em uma poltrona, lendo um livro. Que rato malandro! Nem os gritos o fez se mover dali. Estava de dono da casa.

      E agora? O que iriam fazer com aquele rato? Ele não era qualquer rato. Pois até livro ele lê! O próprio rato dá um jeito naquela dúvida.

      – Olá! Sou um rato de biblioteca, moro nesta casa. Não fiquem assustados! Sei que é estranho um rato estar conversando com gente, mas aprendi a falar e leio muito. Eu já sabia da vinda de vocês, por isso que estou aqui. Fiquei esperando para mostrar a casa e tudo o mais.

      – Um rato falante! Disse espantada uma das crianças. Como assim?

      – Que legal! Disse outra criança. É só tu que mora aqui? Tem mais ratos espalhados pela casa?

       – É só eu que moro aqui sim! Não se preocupem, não faço mal a ninguém! Somente vivo por aqui, lendo os livros que gosto. Passo a maior parte do meu tempo na biblioteca, que fica nos fundos da casa. Estou agora aqui para receber vocês. Assim que todos estiverem instalados, volto pro meu canto, na biblioteca.

      Os adultos até o fatídico momento não conseguiram dizer nada. Estavam sem ação, ou melhor, estavam em choque. As crianças já são mais despojadas para conversarem com os animais, poucas vezes tinham medo. Dependendo da situação arriscavam-se muito a própria vida, são vistas como ingênuas e inocentes. Elas não veem maldade, algumas são puras de coração.

      O rato saiu do seu lugar e conduziu os visitantes até seus quartos, mostrou o resto da casa, os banheiros, a cozinha, o pátio, a garagem e a sala, que já tinham conhecido quando chegaram…

      Outra criança pergunta ao rato:

      – Seu rato, vais nos mostrar a biblioteca?

      – Vocês querem conhecer a biblioteca?

      – Queremos! Respondem as crianças.

      As crianças, filhos do casal, que já frequentavam a casa, comentaram que nunca tinham ido à biblioteca, mas que ouviram falar haver fantasma lá dentro.

      – Essas pessoas que falaram para vocês de fantasmas, não sabiam o que falavam e inventaram essa história, para que ninguém mais se aproximasse desta casa. Pois, numa certa vez, uma senhora fofoqueira que mora na ilha esteve aqui e me viu na biblioteca arrumando os livros; perguntei a ela o que queria e começou a gritar! Porque, além de ter visto um rato, este rato falou com ela; não deixou que me explicasse. Simplesmente saiu correndo porta afora e gritando para quem quisesse ouvir que tinha um fantasma nesta casa. Depois disso ninguém mais veio aqui, só vocês que não são moradores da ilha.

      – Então, agora que já sabemos que não és um fantasma, és um rato intelectual, que cuida da casa, leva-nos na biblioteca? Pediu uma das crianças da outra família, que nunca tinham ido lá.

      – Certo! Vamos à biblioteca! Há muitos livros para crianças lá. Vocês vão gostar!

      Um dos adultos se recompôs do choque, falou:

      – Por acaso estou vivendo um conto de fadas? Estou ouvindo um rato falar?

      – Pai, deixa de ser bobo. Isto não é um conto de fadas, é a realidade; bem que poderia ser um conto de fadas, iriam aparecer outros bichinhos falando, mas por enquanto temos só um rato.

      Todos seguiram o rato até a biblioteca. Esta era minada de livros, do chão ao teto, um paraíso literário. As crianças não sabiam para onde olhar primeiro e os adultos pareciam ter voltado a serem crianças, com tanta magia que havia naquele espaço, porque os livros são mágicos! Ficaram um bom tempo ali encantados! Até que o rato os chamou à realidade, dizendo que poderiam voltar ali a hora que quisessem; a porta da biblioteca fica fechada, mas não trancada.

      Voltaram todos para a sala, pegaram suas malas e foram para os quartos se ajeitarem; estava na hora do jantar. Combinaram com o rato de num outro momento sentarem-se na volta da fogueira, à beira do lago literário, para lerem, ouvirem histórias e cantarem algumas músicas.

 

Fonte da imagem destacada: https://pixabay.com/pt/images/search/rato%20e%20biblioteca/

 

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Daniela Castro

Professora, Pedagoga, Especialista em Educação Infantil e em AEE (Atendimento Educacional Especializado) e Educação Especial; acadêmica do curso de Letras – Redação e Revisão de Textos - CLC/UFPel, apaixonada por literatura e incentivadora da leitura literária. Gosta de escrever poesias e se “arrisca” na escrita de narrativas, sendo em sua maioria, infantis.

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