Série: Quarenta, é sério? – Cap.#11 – Crônica: “O último dia” – Renato Cardoso
Série publicada quinzenalmente às sextas na Revista Entre Poetas & Poesias - Instagram: @professorrenatocardoso / @literaweb / @devaneiosdumpoeta / @revistaentrepoetas
Amanheceu. Deveria ser por volta das cinco e trinta da manhã e nova troca de turno estava acontecendo. Entre boas-vindas e despedidas a vida no hospital foi seguindo (confesso que o turno que se despedia, foi o melhor dos quatro que eu peguei).
Desta vez duas profissionais ficaram conosco. Como padrão do hospital, as duas eram muito atenciosas e dedicadas. Assim que entraram, eu pedi para baixar o oxigênio, que agora estava somente na marcação um.
Estava confiante que seria, talvez, meu último dia. O café da manhã chegou e imediatamente começamos a nos alimentar. Ali eu já estava certo que havia me livrado da doença que estava mexendo comigo.
Estava extremamente ansioso para a vinda do fisioterapeuta, queria um parecer dele. Comecei a conversar com Seu Carlos, que demonstrava otimismo com a minha alta. Entre risadas e goles de café, a hora do banho chegava.
A enfermeira entrou e observou minha oxigenação e perguntou se não queria que desligasse, pois era quase imperceptível. Pedi que, por favor, esperasse. Ainda tinha medo (manter o controle de tudo foi fundamental para minha melhora).
Ela respeitou meu pedido, mas disse que assim que o médico visse o mesmo retiraria. Entendi, e respondi que não haveria problema, pois se retirasse provavelmente voltaria para casa.
O café terminou e a menina que coletava meu sangue todos os dias entrou. Pediu para que me deitasse e aplicou uma dolorida injeção na barriga (o que era aplicada todos os dias) para não dar trombose.
Ao me ver, brincou comigo dizendo que estava bem disposto e que provavelmente as taxas dariam todas ótimas, que provavelmente não seria mais necessário remédio no soro. Agradeci pelo apoio. Nesse momento, comecei a ver que realmente havia vencido a temida doença.
As roupas de cama começaram a chegar. Meus olhos brilharam, pois sabia que o fisioterapeuta estava por vir. Só ele nos liberava para o banho. Perguntei a técnica de enfermagem, que sorrindo falou para baixar a ansiedade.
Ela me deu novo roupão (se é que é assim que chamamos aquele quase vestido azul de hospital) e deixou meu lençol em cima da cama junto a fralda, que elas trocariam quando eu voltasse do banho.
A fralda foi uma coisa que realmente me deixou um tanto quanto constrangido, mas eu conseguia trocar sozinho. Logo, pedi a ela que me desse para eu levasse quando fosse tomar meu banho.
Tudo estava acontecendo nos mesmos horários de sempre, mas, para mim, parecia que aquele início de manhã não passava, pois não via o fisioterapeuta. Ficava sentado na lateral da cama, ansioso aguardava.
O maqueiro, que sempre vinha me ver, passou e brincou comigo, falando que ia me levar embora em breve. Meus amigos aqui de fora, fizeram com que, lá dentro, eu tivesse a atenção de diversas pessoas.
Seu Carlos ficou quieto. Respeitei e fiquei pensando no momento de ir. Todos os dias, escutávamos a festa de pessoas indo embora e sendo recepcionadas pelas famílias na porta do hospital.
Não sabíamos como era, mas estava doido para saber. Nada contra a instituição, porém ninguém curte ficar internado em um local sem ter a mínima noção do que estava acontecendo com a família.
Meus batimentos, saturação e pressão estavam dentro das normalidades. Escutei no corredor a enfermeira falar: “Tem alguém muito ansioso para te ver”. Finalmente era o fisioterapeuta.
Ele entrou na enfermaria e foi em direção a Seu Carlos, liberando-o para o banho. Olhou pra mim e disse: “Vamos conversar?”. Fiquei com medo, mas…
Que fase!!