Diário de um espectro chamado mãeJosilene Pessoa

Série: “Diario de um espectro chamado mãe” – Conto: “O banho de lágrimas”

O conto a seguir dialoga um pouco com todas as pessoas que decidiram entrar nessa jornada maternal e que de certa forma precisam segurar as pontas numa situação difícil.

Deixar o choro para depois, ter crises de existência sozinha, respirar fundo e contar até quando for necessário. E as vezes quando separamos “o monento” para deixar fluir nossos sentimentos, daí a coisa toda já passou e o tempo amenizou a reação!

Ou não!

Reconheço que cada um tem sua dificuldade e não desmereço sofrimento de ninguém mas essa coisa toda numa rotina atípica ganha uma proporção monumental.

Num dia quente em que já acordamos suados devido ao calor, a casa está abafada e você tenta se refrescar.
Com um copo de café; e café tem ser quente, você volta a suar. Estamos às portas do verão. Mas qual é o problema de tudo isso?! É só ligar o ventilador e já resolve, não?!

Não!

“O ventilador” é propriedade do espectro; um de seus hiperfocos. Liga e desliga deliberadamente no botão. Tira e põe na tomada outras inúmeras vezes.

Mas você já tentou ligar e pedir para deixar?!
Você já insistiu para ver a reação?!
Mas ele tem que entender!
Mas é só um ventilador! Deixa!

Pois bem! Estava empenhada em mostrar que dessa vez eu “ganharia” e o bendito ficaria ligado!

Deixe ligado que eu te deixo ver o desenho!
Enfim, nem sempre a negociação funciona! E dessa vez não funcionou! Num princípio de um tumulto que eu preferi evitar; “eu perdi”! O ventilador ficou desligado!

A raiva e suor me irritaram mas não podia reagir! Raiva! Que triste sentir isso! Mas nem sempre estamos de todo “amor”. Você pensa: Meu Deus, será que não tenho o direito de ligar o ventilador num dia quente?!

As vezes mesmo sabendo de todo o processo! Entendendo que não há nada pessoal! Que as reações não são propositais e muito menos controláveis, acreditem! Haverá sempre “o dia”! O dia que você reage! O dia que “não quer aceitar”! O dia que  não quer ser forte! O dia que quer desabafar!

Enfim, devido ao calor fui jogar uma água no corpo! Abri o chuveiro! Um barulho de chuva que escorria nos ouvidos! Respiração expulsando a água dos lábios! As mãos para cima na parede e sinal de rendição! Água lavando o líquido salgado dos olhos! O banho de lágrimas que se torna um dos poucos e breves momentos de se permitir deixar fluir.

Josileine Pessoa Ferreira Gonçalves

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Josileine Pessoa F. Gonçalves

Nascida no município de Niterói – RJ, Moradora de São Gonçalo, onde tambem cursei a maior parte dos estudos no Colegio Estadual Nilo Peçanha. Formada em Letras/Port. – Inglês pela Universidade Estácio de Sá. Trabalho na área da educação e ensino de inglês. Atualmente ministrando aulas de Produção Textua na rede particular de ensino e aulas de inglês online. Faço parte do Coletivo de Escritoras Vivas de São Gonçalo desde o segundo semestre de 2022 e sou membro da União Brasileira de Trovadores, a UBT São Gonçalo, desde Janeiro de 2023. Colunista da Revista Entre Poetas e Poesias, além da coluna com textos variados, ofereço aos leitores minha "escrevivencia" atípica na Série "Diário de um espectro chamado mãe, onde é possível encontrar textos diversos dentro do universo autista. Sou casada, mãe de dois filhos autistas, poeta, escritora e trovadora sempre gostei de compor e escrever sobre vida e sociedade. Inclusive com composições, paródias e versões para uso educacional. 

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