Série: “Diario de um espectro chamado mãe” – Conto: “O banho de lágrimas”
O conto a seguir dialoga um pouco com todas as pessoas que decidiram entrar nessa jornada maternal e que de certa forma precisam segurar as pontas numa situação difícil.
Deixar o choro para depois, ter crises de existência sozinha, respirar fundo e contar até quando for necessário. E as vezes quando separamos “o monento” para deixar fluir nossos sentimentos, daí a coisa toda já passou e o tempo amenizou a reação!
Ou não!
Reconheço que cada um tem sua dificuldade e não desmereço sofrimento de ninguém mas essa coisa toda numa rotina atípica ganha uma proporção monumental.
Num dia quente em que já acordamos suados devido ao calor, a casa está abafada e você tenta se refrescar.
Com um copo de café; e café tem ser quente, você volta a suar. Estamos às portas do verão. Mas qual é o problema de tudo isso?! É só ligar o ventilador e já resolve, não?!
Não!
“O ventilador” é propriedade do espectro; um de seus hiperfocos. Liga e desliga deliberadamente no botão. Tira e põe na tomada outras inúmeras vezes.
Mas você já tentou ligar e pedir para deixar?!
Você já insistiu para ver a reação?!
Mas ele tem que entender!
Mas é só um ventilador! Deixa!
Pois bem! Estava empenhada em mostrar que dessa vez eu “ganharia” e o bendito ficaria ligado!
Deixe ligado que eu te deixo ver o desenho!
Enfim, nem sempre a negociação funciona! E dessa vez não funcionou! Num princípio de um tumulto que eu preferi evitar; “eu perdi”! O ventilador ficou desligado!
A raiva e suor me irritaram mas não podia reagir! Raiva! Que triste sentir isso! Mas nem sempre estamos de todo “amor”. Você pensa: Meu Deus, será que não tenho o direito de ligar o ventilador num dia quente?!
As vezes mesmo sabendo de todo o processo! Entendendo que não há nada pessoal! Que as reações não são propositais e muito menos controláveis, acreditem! Haverá sempre “o dia”! O dia que você reage! O dia que “não quer aceitar”! O dia que não quer ser forte! O dia que quer desabafar!
Enfim, devido ao calor fui jogar uma água no corpo! Abri o chuveiro! Um barulho de chuva que escorria nos ouvidos! Respiração expulsando a água dos lábios! As mãos para cima na parede e sinal de rendição! Água lavando o líquido salgado dos olhos! O banho de lágrimas que se torna um dos poucos e breves momentos de se permitir deixar fluir.
Josileine Pessoa Ferreira Gonçalves
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