Projeto 16 horas de escrita – “sem título” – Bianca Santana
@revistaentrepoetas
Pudera eu entender todo o processo delicado que me compõe e transcorrer em linhas a sutil arte de brincar com as palavras. Sim, palavras, essas que são capazes de erguer impérios com a mesma potência que os destroem.
Construo-me pouco a pouco diante dos seus olhos, como ondas sinuosas que alcançam à beira do mar, e num afã de angústias tentam dragar tudo que podem para dentro de si. Esse labirinto louco que carrego dentro da alma, onde penso em saber as saídas, não passam de metamorfoses forjadas no fogo, onde deixo-me queimar.
Tenho conversas longas e internas comigo, lavo minha alma na beira das intermináveis interrogações que sustentam minha existência. Narrativas de encontros que nunca aconteceram, mas que carregam a força de um Saara. Me afundo em lama sufocantes e penso sempre que será o meu fim, mas sou resgatada pela senhora que caminha sabiamente ao meu lado.
Da vida não levo nada, na alma carrega tudo, metade de mim é espada e a outra é imensidão, colo e abraço. Quem me teve foi por inteira, para uns eu fui farol, para outras escuridão. Tenho minhas tempestades de areia e minha calmarias em noite de outono, onde farfalho minhas saias em açucenas. Sou floresta e povoado que beira rio carregado de desejos e histórias, sou nevoeiro e noites estreladas, posso ser muitas e às vezes, nenhuma. E no mais, pense em mim como vento terral, que mesmo em suas rajadas, rodopia suas delicadezas.
Bianca Santana
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