Marcos Pereira

A EXTINÇÃO DOS PROFESSORES

O ano é 2.025 D.C. – ou seja, daqui a oito anos – e uma conversa entre avô e neto tem início a partir da seguinte interpelação:
– _Vovô, por que o mundo está acabando?_
A calma da pergunta revela a inocência da alma infante. E no mesmo tom vem a resposta:
– Porque não existem mais PROFESSORES, meu anjo.
– Professores?
Mas o que é isso?
O que fazia um professor?
O velho responde, então, que professores eram homens e mulheres elegantes e dedicados, que se expressavam sempre de maneira muito culta e que, muitos anos atrás, transmitiam conhecimentos e ensinavam as pessoas a ler, falar, escrever, se comportar, localizar-se no mundo e na história, entre muitas outras coisas.
Principalmente, ensinavam as pessoas a pensar.
– Eles ensinavam tudo isso?
Mas eles eram sábios?
– Sim, ensinavam, mas não eram todos sábios.
Apenas alguns, os grandes professores, que ensinavam outros professores, e eram amados pelos alunos.
– E como foi que eles desapareceram, vovô?
– _Ah, foi tudo parte de um plano secreto e genial, que foi executado aos poucos por alguns vilões da sociedade._
_O vovô não se lembra direito do que veio primeiro, mas sem dúvida, os políticos ajudaram muito._
_Eles acabaram com todas as formas de avaliação dos alunos, apenas para mostrar estatísticas de aprovação._
_Assim, sabendo ou não sabendo alguma coisa, os alunos eram aprovados._
_Isso liquidou o estímulo para o estudo e apenas os alunos mais interessados conseguiam aprender alguma coisa._
_Depois, muitas famílias estimularam a falta de respeito pelos professores, que passaram a ser vistos como empregados de seus filhos._
Estes foram ensinados a dizer _“eu estou pagando e você tem que me ensinar”_, ou _“para que estudar se meu pai não estudou e ganha muito mais do que você”_ ou ainda _“meu pai me dá mais de mesada do que você ganha”_.
Isso quando não iam os próprios pais gritar com os professores nas escolas.
Para isso muito ajudou a multiplicação de escolas particulares, as quais, mais interessadas nas mensalidades que na qualidade do ensino, quando recebiam reclamações dos pais, pressionavam os professores, dizendo que eles não estavam conseguindo “gerenciar a relação com o aluno”.
_Os professores eram vítimas da violência – física, verbal e moral – que lhes era destinada por pobres e ricos. Viraram saco de pancadas de todo mundo._
_Além disso, qualquer proposta de ensino sério e inovador sempre esbarrava na obsessão dos pais com a aprovação do filho no vestibular, para qualquer faculdade que fosse._
_“Ah, eu quero saber se isso que vocês estão ensinando vai fazer meu filho passar no vestibular_”, diziam os pais nas reuniões com as escolas.
E assim, praticamente todo o ensino foi orientado para os alunos passarem no vestibular.
Lá se foi toda a aprendizagem de conceitos, as discussões de idéias, tudo, enfim, virou decoração de fórmulas.
Com a Internet, os trabalhos escolares e as fórmulas ficaram acessíveis a todos, e nunca mais ninguém precisou ir à escola para estudar a sério.
Em seguida, os professores foram desmoralizados.
Seus salários foram gradativamente sendo esquecidos e ninguém mais queria se dedicar à profissão.
Quando alguém criticava a qualidade do ensino, sempre vinha algum tonto dizer que a culpa era do professor.
As pessoas também se tornaram descrentes da educação, pois viam que as pessoas _“bem sucedidas”_ eram políticos e empresários.
(Autor desconhecido)
Mostrar mais

Artigos relacionados

Verifique também
Fechar
Botão Voltar ao topo