Série: Diário de um espectro chamado mãe – Texto: Os pés pelas mãos – Parte II
Os pés pelas mãos – Parte II
O relato de hoje é sobre um hiperfoco que começa fofo, mas, como tudo em excesso, uma hora se desgasta. Nem sempre a mãe está com disposição e ânimo para ceder os pés.
Nós havíamos acabado de acordar e eu ainda estava em processo de despertar. O meu pé, que já não me pertence mais, tinha que estar disponível. Porém, em um outro momento em que eu cedi, ele feriu o meu dedo com a unha que estava grande. Aliás a unha é outro processo que só acontece através de “suborno”. Então, com o dedo cortado, eu neguei mesmo sabendo que para ele é quase que incontrolável a rotina de entrelaçar os dedos nos meus.
Como se não fosse o suficiente, ele acha graça quando machuca e ainda quer justamente “pôr o dedo na ferida”. Mesmo explicando que esta ferido, ele não entende ou não quer entender. Enfim, isso foi suficiente para provocar uma crise em que no fim acabei machucando muito mais do que o pé, numa dor que foi além da dor física.
Parece incrível descrever uma crise por conta de uma vontade de mexer num pé. Mas no espectro-universo tudo é possível.
Confesso que os últimos tempos não tem sido fáceis com todas as mudanças que fomos obrigados a fazer. Isso mexeu com os ânimos, alterou rotina e aí de repente tudo explode e acabamos colocando os pés pelas mãos sem perceber…
Mas, no fim, depois que o pé sarou e o coração acalmou, a mãe voltou a “dar os pés a torcer”…
Josileine Pessoa F Gonçalves
Imagens do texto: Arquivo da autora.
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