Nosso Cordel – “Tragédia em Santa Teresa” – Massilon Silva
TRAGÉDIA EM SANTA TERESA
Foi no Rio de Janeiro
Que o fato aconteceu
No ano 2005
A cidade estremeceu
Com tão horrível tragédia
E a forma como se deu
No bairro Santa Teresa
Morava um jovem casal
Ele de boa família
Rica e tradicional
Ela também descendia
Da boa estirpe local
O marido Luiz Colie
Militar de profissão
Conhecia o mundo inteiro
Do Ocidente ao Japão
Alto posto na caserna
Patente de capitão
Tereza sua mulher
De beleza sem igual
Concluiu no Rio Branco
Sua educação formal
Para o Itamaraty
Preparou-se como tal
Estatura mediana
Grossas pernas fartos seios
Olhos azuis e brilhantes
Boca rubra lábios cheios
No andar uma elegância
De delicados meneios
Presumíveis 30 anos
De vida é o que se diz
Apenas 5 contava
De casamento feliz
Sem ver que a desgraça estava
Diante do seu nariz
Era dia 25
Mês de novembro corria
Tereza acordou feliz
Aniversário fazia
Para lhe dar parabéns
Amigos receberia
Por volta das 7 horas
Veio a primeira surpresa
Vistoso buquê de flores
Todas de rara beleza
Recebeu agradecida
E mandou pôr sobre a mesa
Um cartão acompanhava
Por remetente Luiz
Até ali tudo bem
Saber detalhes não quis
Sabia ser seu marido
Ficou então mais feliz
Agradeceu com um beijo
Caliente abrasador
E abraçados ficaram
Num lindo gesto de amor
Em seu colo saliente
Um perfume sedutor
Passaram alguns minutos
Nessa troca de afeição
De um e outro exalava
O perfume da emoção
Duas vidas numa vida
Dois em um só coração
Abrindo seu guarda-roupas
Escolheria o melhor
Entre Carolina Herrera
Dolce & Gabana e Dior
Para logo mais à noite
Em seu momento maior
Receberia os amigos
Numa noite comovente
Vizinhos e conhecidos
Parentes e aderentes
Os votos de parabéns
Muitos e muitos presentes
Então sentados à mesa
Com o café já servido
Ouviu-se bater à porta
Foi atender o marido
Um lindo buquê de flores
Foi por ele recebido
Um tanto ou quanto surpreso
Perante a situação
Passou às mãos de Tereza
Que com preocupação
Examinou o presente
Sem entender a razão
As flores eram iguais
Nos detalhes mais sutis
O cartão da mesma cor
Letras da mesma matriz
No lugar da assinatura
Estava escrito Luiz
Olharam um para o outro
Sem saber o que dizer
Situação como aquela
Não dava para entender
Tereza guardou as flores
Já nada havia a fazer
Foi um momento terrível
O café ninguém tomou
Cada qual mais constrangido
Perante o outro ficou
A sala ficou vazia
O mundo desmoronou
Luiz Baldo era um amigo
Que frequentava a mansão
Não despertava suspeita
Em nenhuma ocasião
Mas entre ele e Tereza
Havia uma relação
Um amor às escondidas
Dos que ninguém desconfia
Mas a força do desejo
Alimenta a cada dia
A esposa era infiel
E o marido não sabia
Restava ainda um alento
Uma salvação somente
Embora fosse verdade
Não se tornou evidente
Que o marido não leu
O nome do remetente
Esse detalhe porém
Tereza não percebeu
Ficou tão atrapalhada
Diante do que ocorreu
Que a certeza do contrário
Com ela permaneceu
Naquele justo momento
Luiz resolveu sair
Mas antes rapidamente
Foi ao quarto de dormir
Cobriu-se com véstia escura
Sem dizer pra onde ir
A mulher logo em seguida
Já meio ressabiada
Revirou velha gaveta
Que encontrou destrancada
Dando por falta da arma
Que ali era guardada
Caiu logo em desespero
Naquela situação
Pensando que seu marido
Ao descobrir a traição
Fora procurar o Baldo
Pra tomar satisfação
Sabia ela o lugar
Onde encontrar o amante
A Rua do Ouvidor
Pensou logo num instante
Vou correr para avisá-lo
E assim evito o flagrante
Mais que depressa chamou
Um motorista de praça
O homem saiu correndo
Ligeiro como fumaça
Para que chegasse a tempo
De evitar a desgraça
Partiu pela Miguel Paiva
Depois Rua do Oriente
Chegando a Riachuelo
Mandou que seguisse em frente
Rua Chile e Lavradio
Sem percurso diferente
Praça XV até Rosário
Parecia o fim do mundo
Pela Rua da Quitanda
Mandou que pisasse fundo
Alcançando a Ouvidor
Numa fração de segundo
Chegando na Ouvidor
Foi direto ao restaurante
Onde era ponto de encontro
Dela com o seu amante
Ninguém pode avaliar
O terror daquele instante
Não encontrando Luiz
Imperativo voltar
Pois para chegar em casa
Não podia demorar
Pra ela o mundo acabou
Ali naquele lugar
Passava das 12 horas
Quando à casa retornou
Perguntou pelo marido
Porém ninguém informou
Não vislumbrando saúde
Logo se desesperou
De tanto arrependimento
Que estava naquela hora
Rezou pedindo perdão
Pelos erros de outrora
E na solução final
Pensou logo sem demora
Tomou dos vasos de flores
Atirou pela janela
Despediu-se dos criados
Que ali estavam com ela
Da casa móveis e roupas
E tudo mais que era dela
Andou até a cozinha
Por ela não conhecida
Pegou mais que de repente
Um frasco de formicida
Ingeriu avidamente
Pondo fim a sua vida
Com todos em desespero
Sem ter a quem recorrer
Ligando para o marido
Que não logrou atender
Muito aterrorizados
Sem saber o que fazer
Por volta das 15 horas
Luiz retornou ao lar
Gente que entrava e saía
Foi o que viu no lugar
Perguntou qual o motivo
De tanto choro e pesar
Foi levado até o quarto
Onde Tereza jazia
Os olhos arregalados
Toda ela inerte e fria
Ali naquele momento
Não pode crer o que via
Avistou naquele instante
Tudo que menos queria
Na mesa ao lado da cama
Um bilhete que dizia
Não me culpe pelas flores
Pois eu de nada sabia
As palavras de Tereza
Dixaram-no atordoado
De onde vieram flores
E como haviam chegado
Tinha esse grande mistério
Nas mãos a ser desvendado
Ligou pra floricultura
Sendo de logo informado
Que dois pedidos iguais
Foram por ele firmados
A loja atendeu a ambos
Por trabalhar com cuidado
Luiz de imediato
O celular consultou
Um tanto ou quanto cismado
O engano constatou
Os dois pedidos de flores
Naquela data postou
O pedido por mensagem
Para a loja foi postado
Era de um buquê de flores
Assim foi encomendado
E por simples acidente
Em seguida renovado
Efetuou manuseio
Inadvertidamente
A mensagem da encomenda
Acionou novamente
O celular replicou
E ele não ficou ciente
O homem não se conteve
Falou alto esbravejou
A explicação plausível
O mistério decifrou
Culpou-se pela tragédia
Que ele mesmo provocou
Tomado de horror e pânico
Quase louco atordoado
O coração em frangalhos
Dos nervos descontrolado
Tomar drástica atitude
Foi o que se viu forçado
E num rompante de fúria
A loucura em iminência
Da razão destituído
Despido de consciência
Com a arma que portava
Pôs fim à sua existência
Tarde do dia seguinte
Era grande o desalento
O Caju movimentado
Pelos dois sepultamentos
Um novo enterro chegava
Ali naquele momento
Chegava então Luiz Baldo
Que no dia anterior
Na estrada Rio-Santos
O seu carro capotou
Um acidente fatal
A sua vida ceifou
Seu celular exibia
Em mensagem registrada
Recado de poucas linhas
Por Luiz Colie enviada
E na data antecedente
Com cuidado elaborada
Dizia assim a mensagem
Sinto-me preocupado
A violência do Rio
Obrigou-me andar armado
Mesmo sendo pra defesa
Pressinto que estou errado
Procurei pelo amigo
Até fui à sua empresa
Liguei ninguém atendeu
Mas me faça a gentileza
Não deixe de estar presente
Hoje à festa de Tereza.
FIM
Autor: Massilon Silva
Aracaju – Sergipe
E-MAIL: massilonsilva00@gmail.com
Fonte da imagem: https://pixabay.com/pt/photos/faixas-homem-o-personagem-do-p%c3%a9-3878406/