Renato CardosoSOB O OLHAR DE UM PROFESSOR

Série: “Sob o olhar de um professor” – Cap.#13 – Crônica: “Presente que conforta o coração” – Renato Cardoso

Série publicada aos domingos na Revista Entre Poetas & Poesias. Instagram: @professorrenatocardoso / @literaweb / @devaneiosdumpoeta / @revistaentrepoetas

Série: “Sob o olhar de um professor” – Cap.#13 – Crônica: “Presente que conforta o coração” – Renato Cardoso

Trabalhar na sexta-feira já é difícil, devido ao cansaço adquirido ao longo da semana, imagina tendo duas turmas de sexto ano?! A primeira era nos dois últimos tempos da manhã, e a segunda nos dois últimos da tarde. Ambas, turmas muito falantes e com suas peculiaridades.

A história a ser narradas foi na turma da tarde. Uma sexta-feira chuvosa e de frio incomum para um final de ano. O cansaço batia, mas entre um turno e outro, eu tinha cerca de duas horas para almoçar em casa e recuperar um pouco as energias.

O horário de sair de casa chegou. Pegava duas conduções para ir à escola. Demorava cerca de quarenta minutos a uma hora, em condições normais, para chegar, mas chovendo durou mais um pouco. O trânsito ficava lento, a quantidade de ônibus diminuía (e eu precisava de dois que sempre demoravam muito).

Entrava às 16h20 e ficava até às 18h. Cheguei um pouco antes e, como de costume, passava na secretaria da faculdade (que ficava na escola, mais precisamente no mesmo corredor da turma do sexto ano) para conversar com os professores, que ali ficavam no recreio.

Confesso que estava muito cansado no dia. Imaginava todo o falatório que me esperava, coisas normais de uma turma repleta de crianças de onze anos. O sinal do fim do recreio bateu. Saí da sala da faculdade junto a um amigo professor de história, que iria para o sétimo ano.

Da secretaria até a sala deveria ter uns vinte metros (vinte longos metros). A inspetora já estava no corredor nos aguardando e vigiando os alunos, que subiam falando, correndo e rindo. O ritmo dos passos, naquela sexta, era especialmente lento.

Cheguei à porta da sala, havia poucos alunos (a maioria ainda estava subindo). Maria Clara, como sempre, me recepcionou e colocou a cadeira dela próxima a minha mesa. Ao lado dela, sempre ficava Gabriela. Duas meninas que, ao longo do ano, fui conhecendo.

A turma no início do ano era muito agitada, quase não dava para conversar com eles, mas com o tempo as coisas foram melhorando. E, com isso, pude conhecê-los melhor. Maria Clara sempre foi mais falante que Gabriela, mais comunicativa.

Todos foram chegando, fui colocando ordem e em silêncio. Isso sempre demorava um pouco, mas até que naquela sexta não. Silêncio feito, recados dados. A aula ia começar, precisava fazer a correção de alguns exercícios de casa.

Maria Clara e Gabriela me chamaram e falaram que tinham um presente para mim. Elas me deram uma cartinha e um bombom de coco. Agradeci e disse que leria depois da correção. Correção iniciada, não demorei mais que vinte minutos para finaliza-la.

Sempre costumava dar uns minutinhos para que eles finalizassem as anotações e assim fiz. As meninas me cobraram a abertura da cartinha. Sentei-me na minha cadeira (o que era difícil de acontecer, pois eles eram muito agitados), abri a carta e comecei a ler.

Toda vez que ganho algo para ler, busco fazer a leitura depois. Fico sem graça de ler na presença da pessoa, mas neste caso foi diferente. A carta dizia:

“Professor Renato,

Obrigada por ser nosso professor e nosso melhor amigo!

Já que a gente não tem pai, te adotamos como. Obrigada também por sempre escolher Gabriela para responder os deveres. Você é o melhor professor de todos! Nunca iremos esquecer você.

Te amamos!

De: Gabriela e Maria Clara

Para: O melhor professor (Renatinho)”

A carta era curta, mas o suficiente para me emocionar e me mostrar o quanto é recompensador o magistério. Li, agradeci de coração e aguardei. Avisei a elas que faria este texto para eternizar o carinho dado a mim.

A aula continuou, agora com uma nova motivação e com uma nova energia. Tinha revisão para fazer para prova que se aproximava. Como a cartinha dizia, ainda chamei Gabriela para responder algumas questões, respondidas sempre com êxito.

Entre explicações, conversas e brincadeiras a aula terminou. O sinal das dezoito horas bateu, me despedi de todos, desejei um bom final de semana. Alguns vieram falar comigo (como de costume).

Sala vazia, luz apagada e fui, feliz, para o terceiro turno que me esperava.

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Renato Cardoso

Renato Cardoso é casado com Daniele Dantas Cardoso. Pai de duas lindas meninas, Helena Dantas Cardoso e Ana Dantas Cardoso. Começou a escrever em 2004, quando mostrou seus textos no antigo Orkut. Em 2008, lançou o primeiro volume de “Devaneios d’um Poeta” e em 2022, o volume II com o subtítulo "O Rosto do Poeta". Graduado em Letras pela UERJ FFP e graduando em História pela Uninter. Atua como professor desde 2006 na rede privada. Leciona Língua Inglesa, Literatura, Produção Textual e História em diversas escolas particulares e em diversos segmentos no município de São Gonçalo. Coordenou, de 2009 a 2019, o projeto cultural Diário da Poesia, no qual também foi idealizador. Editorou o Jornal Diário da Poesia de 2015 a 2019 e o Portal Diário da Poesia em 2019. É autor e editor de diversos livros de poesias e crônicas, tendo participado de diversas antologias. Apresenta saraus itinerantes em escolas das redes pública e privada, assim como em universidades e centros culturais. Produziu e apresentou o programa “Arte, Cultura & Outras Coisas” na Rádio Aliança 98,7FM entre 2018 e 2020. Hoje editora a Revista Entre Poetas & Poesias e o Suplemento Araçá.

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