Luis Amorim

Ampolas miraculosas

Ampolas miraculosas

Saiu do consultório
Com duplo receituário
Para uso diário
Que, em breve cenário
De interessante falatório
Com a moça relembrada
Como estando enquadrada
Em profissional ambiente
Lhe disse perante
Médico tão confiante
Dever seguir religiosamente
Instrução constante
Pelo doutor assinada
E devidamente validada
Para seu paciente
Que deveria ser crente
Nos imediatos benefícios
Das ampolas miraculosas
Que tirariam seus vícios
E suas disposições gulosas
Sem necessitar de terapia
Complementar que poderia
Trazer a tal azia
Que muito complicaria
O que se pretendia
Como recuperação que renderia
Sempre um adicional
Suplemento de energia
Para seu sentido vital
De orientação que já pedia
Há tempo demasiado
O qual bem sabia
Ser altura de dar melhorado
Saudável ar precisado
A doente impacientado
Por culpa minha
Pois enviado tinha
Ao tempo de solicitações
Tantas em adições
Que se teria perdido
Por eu não ter insistido
Conforme era obrigação
Na minha ocupação.
Mas agora foi permitido
Recuperar saído
Em suspirada hora
Quando já devora
As curiosas ampolas
Na medida certa
Para não ficar deserta
Sua vital capacidade
De discernir com qualidade
O que se vai passando
Comigo observando
Se ele bem merece
A saúde em prece
Que alguém ainda faz
Para ele ser capaz
De voltar ao seu passado
Onde era notado
Como exemplo apontado
De saúde invejado.
Agora precisa delas
Das ampolas em quantidade
Que mistura por panelas
Com sabores em diversidade
A escaparem de mim
E de qual será o fim
Que ele procura
Para a sua cura.
Entretanto, chega o colega
Que me entrega
Um grave relatório
Assim ele o diz
Sem mais acessório
Sublinhado a giz
Que não o principal
A dar-me visão essencial
De que fomos enganados
E todos foram encenados
Os diálogos presenciados
Pois até o médico
Não foi o ético
Que eu pensava
E o falatório que passava
Pela sua presença
Teve outra licença
Pois certamente imaginaram
Que os observavam
E portanto, estavam
Com aquela intenção
De ludibriar tal situação.
O que vale é o suporte
Que eu tenho em sorte
E agora sei
Que ele contornou a lei
Utilizando as ampolas
Como benditas molas
Para salto ou corrida
Que lhe daria outra vida
Bem mais próspera
Ainda antes recebida
Da bela Primavera
Entrar com sua força
Como própria preferência
Que não se torça
Por indesejada incidência.
Tal não vai suceder
Pois iremos actuar com saber
E apanhá-lo em flagrante
Antes que cante
Cantiga de vitória
Em prol de sua glória.

As ampolas foram recuperadas
E rapidamente apartadas
Pois eram complementadas
Com flores e sais
E algo mais
Que eu não posso dizer
Por questões de sigilo
Mas que garanto ter
Actuado a preceito
Até o colocar em asilo
Ou similar conceito
De privacidade em reclusão
Para afamado intrujão.

Fonte da imagem: Foto do Autor

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Luís Amorim

Luís Amorim, natural de Oeiras, Portugal, escreve poesia e prosa desde 2005. Tem já escritas cerca de 2800 histórias com 105 livros de ficção publicados, entre os quais, um primeiro em inglês, "Cinema I", onde responde por 28 heterónimos (em prosa e poesia). Dos livros em prosa, tem vinte e oito da série “Contos”, “Terra Ausente”, “A Chegada do Papa” e dois livros de “Pensamentos”. Na poesia, igualmente diversas séries de livros têm alguns volumes, como “Mulheres”, “Tele-visões”, “Almas”, “Sombras”, “Sonhos”, “Fantasias”, “Senhoras” e o herói juvenil “Esquilo-branco”. Todos estas obras de poesia citadas, integram os designados contos poéticos, assim identificados pelo autor, aos quais se acrescentam “Lendas”, “Campeões”, “Músicas”, “Turismo”, “Palavras”, "Flores", “27 Flores”, “Todas as Flores” e mais outros sete do universo “Flores”, onde este elemento surge em todos os enredos, como por exemplo “A ceia do bispo e outros contos poéticos”. A escrita também foi posta em narrativas poéticas, “Beatriz” (inspirada na personagem de "A Divina Comédia" de Dante Alighieri), “Paz”, “O Viajante”, “O Sino”, “A Sereia” e “O Mapa”, este com 3016 versos. Ainda a registar em poesia, “Refrões”, “Sonetos”, “Trovas” e quatro volumes de “Canções”. Dois livros foram publicados segunda vez, então com ilustrações de Paulo Pinto (“Almas”) e Liliana Maia (“Fantasias”). Luís Amorim foi seleccionado por 311 vezes com contos e poemas seus em concursos literários para antologias em livros, revistas e jornais em Portugal, Brasil, Suíça, Colômbia, EUA, Inglaterra e Bangladesh. É colunista da revista “Entre Poetas & Poesias” a partir de 2022 e integrante desde 2021 do Coletivo “Maldohorror”, onde histórias suas são publicadas em ambos os sítios, com regularidade. Tem igualmente publicados 32 livros de Desporto (Automobilismo, Hipismo, Futebol, Vela, Motociclismo) e 4 de Fotografia, o que somando aos 105 de ficção, perfaz um total de 141 livros publicados.

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