Michelle Carvalho

Quando o tempo sussurra no ouvido…

 

Não há beleza na dor

Nem poesia romantizada no sofrer…

 

Há identificação no caminhar

Aprendizado no partilhar

 

Mas somente o tempo pode mostrar

O que dentro de si vem para somar ou pra derrotar.

 (Michelle Carvalho)

 

Escutamos tantas coisas desde crianças, algumas coisas doem, outras acalentam.

“Sejamos fortes e corajosos” – Esta é uma frase clássica!

Realmente a vida nos exige força e coragem, mas não temos que ser assim todo o tempo. Na verdade, NÃO PODEMOS SER ASSIM TODO O TEMPO!

O fracasso e a destruição mental não estão no fraquejar, não estão no medo, estão no endurecimento daquele que não se permite viver os estágios que a vida traz.

A vida não é feita só de dor ou de amor, mas devemos ter sabedoria para vivenciarmos, entendermos e deglutirmos cada fase, para que possamos tirar o aprendizado de cada estágio.

No florescer das alegrias, que consigamos colher os sorrisos e aproveitar a felicidade, fazendo-a eterna enquanto durar.

No permear das tristezas, sejamos sábios ao chorar e lavar a alma para alveja-la no luto da dor que nos faz fortes por irrigarmos o coração com a lágrima chorada e redentora.

Diante de momentos complexos, dolorosos e difíceis nos sentimos encarcerados pelo que o outro nos impõe, pelo medo de causar mais dor a outrem, por não saber o que fazer. Assim nos calamos, caímos na cilada da prisão emocional imposta, definhamos, absorvemos a dor do outro para faze-la morar em nós, como se acreditássemos que tudo podemos acolher, aceitar e carregar.

O fardo alheio pode ser compartilhado, mas nunca suportado incólume por nós. A conta chega também para quem aceita carregar as dores alheias em suas costas.

O choro é sinônimo de fraqueza? NÃO! Mas muita gente pensa assim, infelizmente.

Aquele que é taxado de fraco por pedir ou aceitar ajuda, o ser que chora no ombro do outro, este se reabilita na perfeição de ser humano, galgando com solidez um alicerce de vivências e sobriedade diante do que vier pela frente.

Já o endurecido, que não chora e tudo suporta, carrega sua fragilidade disfarçada na máscara de viver uma vida que não é sua, pois a humanidade é feita de sentir e não de petrificar-se.

Chorar por tudo é desespero, mas não vivenciar a dor também é!

Certa vez pensei que eu era forte por carregar dores e medos alheios, não pedir ajuda a outras pessoas, não partilhar, não pedir conselhos por medo de que tudo causasse pioras ao real dono da dor.

Estava enganada, pois minhas fraquezas, minhas dores e meus problemas me faziam cada vez mais frágil a me contaminar e me encarcerar nas profundezas do que não era meu. Arrastava as minhas correntes e, além disso, estava ancorada a pesos de outrem também.

Oscilava ao me sentir fraca, fechada, sozinha e forte por suportar o fardo, a ilusão de estar plena e superpoderosa, embora nunca fosse vista assim, pois ninguém sabia o que se passava dentro de mim, afinal, ninguém nunca sabe o que se passa dentro do outro realmente.

Anos depois vejo uma pessoa próxima vivendo o mesmo encarceramento, medo, dor e tristeza que vivi há anos atrás. Esta pessoa sentiu-se necessitada de pedir ajuda para ser ouvida, chorou com a partilha de sua aflição, fez o que eu nunca fiz.

Naquele momento  olhei essa pessoa com tanta admiração pela dignidade de ter tido coragem de falar, expor o relato a quem é de direito e quem poderia ouvir com caridade. Admirei a lágrima chorada, o soluço redentor e o abraço de acalento.

Na atitude que pode ter sido vista como fraqueza por tantos, eu vi a força que nunca tive, a sutileza de despir-se de si e ser quem é, entendendo como necessário aceitar e viver as emoções, mesmo no meio do desentendimento interno.

Viver as emoções é o ato sublime de elevar-se na caminhada de se reconhecer, de aprender e separar o tempo de plantar e de colher sabedoria.

Esse exemplo me ajudou a tomar uma dura decisão, escolhi me escolher. No cruzamento das escolhas, reencontrei-me com o meu “eu” de anos atrás. Voltei no tempo, olhei-me nos olhos e disse a mim mesma: “ -Não existe fraqueza ou força quando a dor não é sua!”

Neste caminhar, o tempo fala ao nosso ouvido o que vem para curar cada pedacinho de dor, basta que tenhamos a humildade de esperar e acolher o que o tempo nos traz.

Para findar trago uma frase do filme da Cinderela:

“-Seja forte e gentil!”

Sejamos fortes para aprender com cada passo que damos e gentis conosco para acolher as lágrimas que nos darão a redenção da alma, a qual se aprimora com as vivências das emoções.

 

Michelle Carvalho

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Fonte da imagem destacada: https://pixabay.com/pt/photos/anjo-sussurrar-natal-1402794/

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Michelle Carvalho

Biografia: Advogada, Escritora desde os 13 anos, com participação em inúmeras antologias literárias e premiações no Rio de Janeiro e em São Paulo. Ganhadora do Premio Baixada de Literatura em 2014. Lançou 4 livros: “Furor Letárgico da Alma” (2009), “Versos de Princesa Prometida” (2015 – na 17ª Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro) e “Cindy Entre Patas e Reinos” (2018) e Cindy Entre Patas e Reinos 2 (2019 – 19ª Bienal Internacional do do Livro do Rio de Janeiro) , estes dois últimos projetos de leitura na Cidade das Artes/RJ, em várias escolas nacionais e internacionais. Além de diversas participações em projetos culturais literários em escolas com palestras motivacionais, intervenções literárias e poéticas em saraus, sendo o último deles o Programão Carioca da Rede Globo no ano de 2018, Participação na FLIM e FLISGO no ano de 2019, bem como posse na ACLAM – Academia de Ciências, Letras e Artes de Magé.

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