Ezequiel Alcantara

Lembranças de um garoto sonhador

Lembranças de um garoto sonhador

De coisas passadas do meu tempo de criança é o que faz meu coração pulsar, as lembranças permanecem sempre vivas aqui junto a mim. A minha velha casa de taipa, com aquele terreiro grande, pouco movimentado, onde todas as noites jogava bola com meus amigos, com aquela simples bola de meia e fazendo a trave do gol junto à bela árvore de jucá.

É como um sonho a gente lembrar os tempos de criança, viver aquele instante bom, lembrar o velho vizinho resmungão com raiva das nossas brincadeiras. Lembro-me bem, pois assim que escurecia, junto com os amigos ia brincar no terreiro de minha casa, separávamos os times entre nós, traçávamos nossas próprias regras e fazíamos os melhores momentos que uma infância poderia ter. E brincávamos de todas as brincadeiras populares daquela época: Esconde-Esconde, Futebol, Bandeira, Pega-Pega, Jacarandá e outros, que nos divertia muito. Depois, já exaustos das artimanhas mais ou menos no anoitecer, encerrávamos na “Hora das Almas”, bendita hora do ângelus, em que traçávamos o sinal da cruz em silêncio às almas, aqueles velhos costumes populares. Mais tarde, após tomar o banho e depois da janta, nós íamos e sentávamos na calçada da casa de meu avô, que era bem dizer do lado da minha, para ouvi-lo contar suas belas histórias. Lembrança boa, eu ficava fascinado com o jeito que ele nos contava aquelas histórias, com os seus gestos, seu ânimo e sua esperteza, que deixava não só eu e meus amigos admirados e curiosos, mas também meus familiares. Dentre as vezes que meu avô convidava um amigo para conversar um pouco lá pela casa, era muito bom, pois ouvíamos mais histórias e bebíamos aquele delicioso café que minha avó fazia.

Bate então no peito aquela saudade. Gostava muito quando chegava o mês de junho, festa de São João Batista, o padroeiro da comunidade. O povo nesse período festivo ajudava sempre no que podia para organizar a festa: Dona Maria fazia bolos magníficos e colaborava no leilão, Seu Quinzinho cortava a fogueira, o Sr. Augusto ajeitava as barracas, Dona Margarida organizava a quadrilha, meu avô dava um carneiro e fazia inúmeras coisas para ajudar, e muitos outros ajudavam em diversos outros afazeres. No dia dos festejos, principalmente na última novena, era muito bonito ver a fogueira acesa, muitas bandeiras coloridas, o povo muito feliz, comida boa aos montes e a juventude brincando. Ah! Lembro-me que vestia apenas roupas simples, já que meus pais não tinham condição de comprar roupas de boa qualidade, ficava tímido para conversar com as outras pessoas, mas não me impedia de sentir aquele ânimo de aproveitar aqueles momentos únicos, e eu caprichava no perfume, pois tinha muita moça bonita na festa.

Assim era uma das nossas tradições populares da pequena comunidade de Riacho das Flores. Inventavam vários costumes referentes à cultura que me engradeceram muito. Como era bom ver o povo se reunindo na casa do Sr. Evaristo para vê-lo declamar belos romances, aqueles que vinham escritos em versos nos livrinhos de cordel! E eu gostava muito daqueles heróis, príncipes que lutavam pelo amor de uma princesa, a bravura e luta de grandes sertanejos… Nos dias de hoje são os carros, robôs e desenhos animados que divertem a garotada, e outras coisas muito diferentes daquela época.

Certas vezes, tomando um bom café, fico relembrando de quando era moço, das vezes trabalhei o dia todo no roçado, capinando e plantando os legumes com a minha velha enxada, tirando dali o sustento necessário, porém, sacrificante, para a minha família. Ainda lembro-me bem da minha primeira namorada… Ah! Como era linda! Simpática, os cabelos negros, aquela bela voz suave, que muito me encantava, era com certeza a mais bela e perfeita para mim. Em algumas noites eu pegava o violão do meu pai emprestado e fazia uma serenata em sua janela, e ela vinha com mais de mil beijos apaixonados fazendo-me sentir um amor que nunca mais esqueci.

Todas essas lembranças ficaram cravadas no meu coração, e que serão jamais apagadas do meu pensamento. E minha família, como ela está?! Hoje minha família é excelente como sempre sonhei. Minha primeira namorada tornou-se minha amada esposa, batalhadora junto comigo, sempre fiel a mim e eu a ela, tenho filhos magníficos, muito inteligentes, hoje já adultos, casados, seguindo suas vidas, que sabem ler e escrever – coisa que nunca aprendi, pois há muito tempo as coisas eram difíceis, eu tinha que ajudar meu pai na plantação, trabalhando da manhã à tarde, sempre ajudando-o a sustentar a família, por isso nunca tive tempo ou encorajamento para os estudos, sendo assim uma pessoa não muito letrada. Mas de tudo isso eu nunca esqueço, pois também é uma lembrança, que me faz herói, exemplo singular de minha família.

E agora? Terminou? Não, pois eu ainda continuo vivendo na santa felicidade, ganhando mais experiência, vivendo meu presente, e sempre me recordando do meu passado, daquilo que vivi e aquilo que passei, pois todas essas lembranças fazem meu ser cativo e feliz, ao recordar e reviver os tempos de criança, virando garoto outra vez. Essas lembranças que me tiram da realidade me fazem dizer o quanto foi bom sonhar, foi bom viver, foi bom amar sem medidas e fazer os outros felizes, e é por isso que essas lembranças fazem eu me tornar um velho garoto sonhador.

 

Ezequiel Alcântara Soares

Riacho das Flores, Reriutaba – CE, 2013.

 

Fonte da imagem: https://pixabay.com/pt/illustrations/c%c3%a9u-estrelado-lua-garoto-pescaria-4085315/

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Ezequiel Alcantara

Olá, sejam todos bem vindos ao meu recanto poético! Me chamo Ezequiel Alcântara Soares, nasci em 28 de Julho de 2000 na cidade de Reriutaba no Ceará, onde me criei e vivi na comunidade de Riacho das Flores até o dia em que tive que deixar meu "torrão natal" e viver em São Gonçalo - RJ. Bem, sou apenas um ser humano, que foi se construindo ao longo do tempo, assim como uma colcha de retalhos, formado por luzes e trevas. Desde criança brilho o olhar pela poesia e pela escrita, com muito amor e carinho, o que resultou em cordéis publicados, participação em antologias poéticas e diversos escritos. Faço graduação em Filosofia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e sou membro da União Brasileira de Trovadores (UBT) seção São Gonçalo. Este recanto visa apresentar poesias e textos que inspirem, através de minha poética, o mais nobre que há nos sentimentos humanos e que transcrevam, sutilmente, as estações do coração. Aproveitem! Que possamos amar profundamente, sejamos poesia!

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