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Um presente Especial
Alice Moraes
Era manhã na cidade de Recife, após horas viajando, vindo da Bahia, enfim Caterine chegara ao seu destino. Cidade bonita, movimento, prédios, teria que encontrar a casa de apoio, sim, uma casa onde ficavam todas aquelas pessoas vindas do interior para fazer exames na capital. Seu pai estivera com problema na visão e foi encaminhado para Recife. Ao receber o telefone de um parente sobre o estado de seu pai, Caterine, deixou tudo para dar assistência ao seu velho. Essa era a primeira vez que Caterine viajava só e para um local tão distante; na rodoviária de Caruaru desceu para fazer um lanche e quase se perde no meio de tantos ônibus. Mas enfim, estava na terra do frevo, terra que só conhecia pela TV.
Com as orientações que teve pelo caminho, chegou ao local. A rua era linda! Arvoredos, paisagens belíssimas, monumentos, prédios. Ao lado da casa de apoio, havia uma república, aquelas acomodações onde vivem os estudantes, a casa de apoio ficava ao lado. Ao chegar lá, foi bem recebida por tantas outras pessoas que também iriam fazer exames, gente humilde, alguns com problemas graves. Seu pai lhe apresentou um casal de idosos que moravam na mesma cidade dele e também fariam exame no outro dia, no mesmo hospital que ele.
Caterine ia passar a noite numa pousada com seu pai, se despediram do pessoal da casa de apoio e se comprometeram a voltar lá de manhã para juntos irem ao Hospital de Olhos. O coração de Caterine se compadeceu daquelas pessoas, principalmente do casal de idosos, estavam ali sozinhos, sem os filhos… Caterine sabia que eles precisariam de seu auxílio, além do seu pai.
Seu pai, o Sr. Afonso, queria ficar na casa de apoio, mas por insistência de Caterine, foram para a pousada a qual ela deixou reservada pela internet. O Sr. Afonso, sempre brincalhão, com um humor maravilhoso, fazia Caterine sorrir o tempo todo, nesses momentos ela até esquecia do problema dele, estava temerosa que fosse algo grave e nas suas orações clamava pelo pai e os demais da casa de apoio.
Na manhã seguinte, foram para casa de apoio como prometido ao casal de idosos, amigos de seu pai. Era o Sr. João e Srª Ana! Sr. Afonso quis ir andando para que conhecessem a cidade, e lá foram eles se encantando com a paisagem e monumentos do local.
Ao chegar ao hospital, que não ficava muito distante dali, havia muitas pessoas na fila…. Passaram horas à espera… Srª Ana era diabética e tinha outras complicações além do problema da visão, Caterine a acompanhava ao banheiro e deu toda assistência até seu atendimento. Ela e seu esposo ficaram muito gratos, disseram que Caterine era como um anjo na vida deles. Para sua alegria, o problema do seu pai não era tão grave e nem do casal amigo; o médico passou as medicações e encaminhamentos.
À noite, estavam mais tranquilos, tomaram uma sopinha juntos, lá mesmo na casa de apoio, Caterine conheceu uma estudante da república, ela se chamava Aline, ela foi lá perguntar se precisavam de ajuda, também era do interior e se dispôs a auxiliar no que precisassem. Sr. Afonso, após fazer o povo todo rir, voltou para a pousada com filha, precisavam descansar, afinal, cedo voltariam para o interior. Recife era tão linda, mas Caterine nem pôde conhecer o mar, quem sabe um dia num momento sem tanta agonia?
De manhã cedo, estavam lá com suas malas e todos da casa à espera do ônibus que os levaria de volta para casa. O ônibus atrasou muito e a viagem era longa. Todos já estavam morrendo de fome quando Aline desceu da república com uma panela de baião de dois e ovos estralados. Nossa!! Que delícia! Todos comeram satisfeitos e foram gratos a prestatividade de Aline.
O ônibus chegou e o trajeto foi realmente longo, era um micro-ônibus e não havia banheiro no mesmo, Caterine auxiliava Srª Ana, pedindo sempre ao motorista para parar em alguns locais pois a Srª Ana ficava com vontade de fazer xixi; Caterine a acompanhou a viagem toda, e seu pai, só de cantoria e bate papo com o esposo da Srª Ana.
Após a longa viagem, chegaram ao seu destino, SrªAna e Sr. João agradeceram muito a Caterine pelo apoio e disseram que dariam um presente para ela, tinham certeza que iria gostar. O que seria? Caterine, disse que não precisava, mas eles falaram que antes de Caterine voltar pra Bahia mandariam entregar na casa de seu pai o presente.
Caterine passou 1 dia com seu pai e chegou a hora de retornar. Já estava de malas prontas quando alguém bateu na porta com uma encomenda, era o presente da Srª Ana e Sr. João e para grande surpresa de Caterine, o presente era uma abóbora! Uma gigantesca abóbora, a melhor abóbora que tinham em sua plantação. Caterine se emocionou, nunca pensou em receber uma abóbora de presente, sentiu tanto amor e simplicidade nessa ação, que as lágrimas vieram em seu rosto.
Retornou para sua cidade com o coração cheio de alegria e percebeu que quem dá, recebe, percebeu o grande significado daquela abóbora! Na sua cidade, a abóbora foi repartida com muitas famílias e quando Caterine a provou lembrou de que ela fora a Pernambuco não só para a missão de seu pai, mas para aprender sobre a solidariedade, humanidade, partilha. Até hoje Caterine se emociona ao lembrar do melhor presente que já recebeu, a grandiosa abóbora…
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Biografia:
Alice Moraes é educadora, mãe de três filhos. Gosta de escrever contos, poemas, cordéis, e contar histórias. Já participou de várias antologias tendo seu primeiro poema publicado na adolescência. Atua como professora da Educação Infantil e semeia a arte da palavra por onde passa.
