Michelle Carvalho

Vozes do meu eu

 

 

Entre dores, pressões e medos

A voz cala

A ansiedade exala

Em silêncio nos encolhemos

Aquietamos os gritos

Que ecoam internamente

 

Em versos extrapolo

Externizo

Eternizo

Minhas agruras

Minhas amarguras

Dando vozes ao meu eu

Vivente no casulo de minh`alma!

(Michelle Carvalho)

 

Estamos morrendo mais cedo emocionalmente, embora vivamos mais biologicamente. Você já notou isso?

O esgotamento mental, a fadiga cotidiana, o afã de ser sempre mais, a necessidade de cumprir, de manter, de ter, de mostrar padrões deteriora nosso emocional, o qual se curva ao estereótipo do externo, aprisiona, às vezes de forma tão sutil que nem notamos.

Não mais sabemos ser gestores dos nossos sentimentos, fracionar o tempo que temos, dialogar e falar do que se passa internamente, desaprendemos a fazer de nosso tempo útil para algo que não seja externo ou financeiro.

Quando vamos a um evento estamos tão impregnados da “necessidade” de “perfeição” externa que, quando nos damos conta, aquele momento passou e nem realizamos mentalmente o que realmente aconteceu.

Perdemo-nos na emoção que se encontra desgastada, escondida pela correria e pela necessidade de mostrar outras coisas, mostrar força, porque crescemos aprendendo que quem se emociona é fraco.

Não se trata de chorar por tudo ou não chorar por nada, os extremos não são saudáveis, mas conhecer seu momento de chorar, momento de calar e de sentir… Isso está sendo colocado pra baixo do tapete ou externado de forma explícita nas redes sociais para obter mais seguidores.

Iniciamos um trajeto de nos descolarmos de nossas emoções como se elas ficassem alheias a nosso corpo, um corpo externo, um espectro do qual nos afastamos para que não sintamos. Buscamos sempre algo novo para que não nos vejamos entranhados no mar de dor que nos cerca na sociedade, no mundo e nas nossas próprias angustias, afinal, queremos afastar o que dói.

Entretanto nesta desenvoltura construída para afastar os sentimentos, junto se esvai também a capacidade de deglutir os momentos saudáveis e acabamos por mecanicamente focar no ângulo da foto para as redes sociais porque não sabemos mais como nos comportar diante dos sentimentos de um momento bom. Sorrimos, brincamos, porém a essência vai se perdendo… Aquela essência que existia na época que as crianças brincavam nos aniversários quando tínhamos que economizar o filme de apenas 12 poses na máquina fotográfica.

Conforme nos perdemos neste mundo imenso, que muitas vezes parece ínfimo dentro da tela de um celular, aprofundamo-nos mais na procrastinação diante da infinidade de coisas que nos são apresentadas no mundo atual.

São tantas possibilidades que nosso cérebro pede socorro e parece mais uma vez necessitar tanto de descanso que tem sede de procrastinar para tentar se acalmar.

Isso se chama exaustão!

Estamos exauridos, esgotados, muitas vezes sem sequer sair do lugar, todavia com a mente inundada de atividades!

A exaustão vai te sucumbindo, apagando, faz com que você deixe de correr riscos, tudo que você quer é desaparecer; quer que o mundo lá fora deixe de existir porque sente que o mundo dentro de si está oco; quer ficar em silêncio porque está repleto de coisas gritando dentro de si, quando na verdade, não é o mundo que tem que deixa-lo em paz, mas sim você que precisa estar no mundo de uma forma diferente.

O mundo sempre será o mundo, mas você pode ser várias versões de você.

Quando você põe suas emoções dolorosas para debaixo do tapete, aos poucos sua sensibilidade para muitas coisas vai indo junto e acaba por se inundar de um mundo que te afoga de diversidade, tarefas e possibilidades. No afã de tudo querer, acabamos por não enxergar o que realmente queremos porque já nos descolamos de nossas emoções primárias e sucumbimos necessitando do afastamento.

Esta necessidade de sumir das vistas de tudo e de todos é comum a todo mundo, todos podemos sentir isso. A causa está no peso de viver como estamos vivendo, gerando depressão, estresse extremo, exaustão física e mental especialmente aos mais sensíveis.

O esforço de tentar se libertar dos padrões pode não alcançar sucesso na primeira tentativa. Este insucesso gera mais angústia, medo, ansiedade, sensação de fracasso, tristeza e inferioridade, uma sensação de que nunca será possível.

Como sair deste ciclo?

Não existe fórmula mágica, infelizmente!

Tendemos a procrastinar para evitar o que nos é imposto e quando vemos estamos procrastinando até mesmo para fazer o que nos é apetitoso. Ficamos tomados pelo encarceramento da procrastinação que nos prende os membros, olhares, nos amordaça e paralisa.

Aos poucos temos que tomar a iniciativa de sermos nós mesmos e assim conhecer algo que nos faça ter foco e iniciar com passos de formiga, relembrando de quando éramos bebês começando a andar… Queríamos correr, no entanto tínhamos que dar um passo de cada vez.

Temos que desenvolver confiança, reaprendermos a acreditar em nós mesmos sem extremismos, hipérboles ou autocobranças, mas sim com a certeza do que podemos alcançar, do que somos e podemos desenvolver.

Não obstante tudo isso só começa com o primeiro passo, um dia de cada vez e aos poucos porque, como diz um ditado: “devagar se vai ao longe”.

 

Michelle Carvalho

e-mail: michellecarvalhoadvogada@yahoo.com.br

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Fonte da imagem destacada:

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Michelle Carvalho

Biografia: Advogada, Escritora desde os 13 anos, com participação em inúmeras antologias literárias e premiações no Rio de Janeiro e em São Paulo. Ganhadora do Premio Baixada de Literatura em 2014. Lançou 4 livros: “Furor Letárgico da Alma” (2009), “Versos de Princesa Prometida” (2015 – na 17ª Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro) e “Cindy Entre Patas e Reinos” (2018) e Cindy Entre Patas e Reinos 2 (2019 – 19ª Bienal Internacional do do Livro do Rio de Janeiro) , estes dois últimos projetos de leitura na Cidade das Artes/RJ, em várias escolas nacionais e internacionais. Além de diversas participações em projetos culturais literários em escolas com palestras motivacionais, intervenções literárias e poéticas em saraus, sendo o último deles o Programão Carioca da Rede Globo no ano de 2018, Participação na FLIM e FLISGO no ano de 2019, bem como posse na ACLAM – Academia de Ciências, Letras e Artes de Magé.

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2 Comentários

  1. Apaixonada por esse texto, cheio de verdades diárias. Parabéns vc descreveu completamente os dias da grande maioria das pessoas… bjoss

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