6ª edição – Crônica: “PEQUENAS OBSERVAÇÕES SOBRE SONETOS E CORDÉIS” – por Zé Salvador
PEQUENAS OBSERVAÇÕES SOBRE SONETOS E CORDÉIS
por Zé Salvador
Nesses grupos de poesia, na internet, tenho encontrado muitas pessoas que afirmam ser poetas e, por assim ser, postam “sonetos” e “cordéis”, lindos, mas que fogem completamente às regras de cada estilo. Aqui não vai nenhuma crítica, nem tenho a pretensão de desqualificá-los, pois são lindos poemas. Porém, alguns esclarecimentos são necessários.
O soneto é uma modalidade de poema, com forma fixa. Vem do italiano sonetto, pequena canção ou, literalmente, pequeno som. Era cantado na corte de Frederico II (*1194 +1250) da mesma forma que as baladas provençais. Foi criado, como tudo indica, no começo do século XIII, na Sicília, por Jacopo (Giacomo) Notaro, poeta siciliano e imperial de Frederico. Surgiu como uma espécie de canção ou de letra escrita para a música, possuindo uma oitava e dois tercetos diferentes melodicamente. “O soneto possui uma estrutura lógica com uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão”.
É bem verdade que o número de versos e a disposição das rimas permaneceram variáveis até que o poeta Guittone D’Arezzo, de Santa Firmina adotou e aderiu em definitivo o que viria a ser conhecido como forma de expressão, de um pensamento isolado, o soneto. Fra Guittone, como era conhecido, criou o soneto guitoniano, dando forma e padrão, estilo esse empregado (durante o século XIII) com pequenas variações pelo também italiano Francesco Petrarca, que difundiu para a Europa e o mundo.
Vale lembrar: o também poeta italiano Dante Alighieri foi um grande difusor do soneto no século XIII.
Possui 14 versos dispostos em: dois quartetos, no qual “o primeiro quarteto corresponde à premissa maior e o segundo à premissa menor”, enquanto nos tercetos, deverá encontrar-se a conclusão, ou seja: o poeta expõe e desenvolve o tema nos quartetos, e nos dois tercetos responde ou comenta esse tema. Sendo que o último terceto é considerado o fechamento, tendo no último verso a chave de ouro. Outra exigência, eu diria, é usar no esquema de rimas dos quartetos, abba, abba (rimam entre si os versos um, quatro, cinco e oito; e os versos dois, três, seis e sete). Nos tercetos, é frequente o esquema cde, cde. E também são usados, frequentemente, o esquema cdc, cdc. Quanto à métrica, são mais usados os versos decassílabos, (dez sílabas poéticas) ou os alexandrinos (doze sílabas poéticas).
Se o gênero existia antes de Petrarca, ao menos foi ele quem (difundiu) sintetizou e imprimiu as marcas principais que se conservam intactas até os dias de hoje.
Uma advertência amigável para os quebradores de padrões: eu não diria que estão errados, mas insistiria em dizer que é uma invencionice desnecessária. Pois a forma clássica cultivada por Petrarca vem há 7 séculos dando certo.
O cordel fica para a próxima edição do Araçá.
Esse texto vale por uma aula. Magnífico!