Suplemento Araçá

8ª edição – Artigo: “Sociedade Musical Fluminense (1917-1920)” – Rui Aniceto

Sociedade Musical Fluminense (1917-1920)
Rui Aniceto

Muitos saudosistas dos tempos de outrora mencionam a Lira Santa Cecília como uma instituição de relevo no cenário cultural local. Sua orquestra, regida pelo maestro Dudu, marcou época participando de retretas e dos mais diversos eventos do município entre os anos 1930 e 1960.
No entanto, antes dela, existiu uma outra agremiação congênere cuja memória perdeu-se no tempo. Foi a Sociedade Musical Fluminense. Esta foi fundada em 16/02/1917. As primeiras informações documentais sobre essa associação aparecem com a notícia dos festejos de seu primeiro aniversário. O jornal O Fluminense, de 14/02/1918, anunciava o convite para a realização da festa do primeiro natalício da associação. A “modesta” festa seria realizada em 16/02, quando também se daria posse à nova Diretoria. Uma outra nota informativa da posse da Diretoria, notificava os credores que deveriam apresentar notas devidas, em até oito dias, caso contrário não teriam seus créditos feitos. Assinava o convite e a notificação o secretário Ananias Pimentel de Araújo. Sua sede era na rua Coronel Moreira César, nº 34, em São Gonçalo, nas imediações da Igreja Matriz de São Gonçalo.
A nova diretoria convocava, através de uma nota assinada pelo secretário Dário Marinho, uma Assembleia Geral em 27/04/1918. No mês seguinte promoveu um leilão de prendas “oferecidas pelas famílias de S. Gonçalo”.
No ano de 1919 a Sociedade participou de vários eventos do município. Em 23/02/1919 ocorreria a inauguração da bandeira que lhe fora ofertada pela “mocidade” da Vila. O evento teria início às 12 horas e, à noite, os convidados poderiam voltar, pois lhes seria ofertado um “copo d’água”. No mês seguinte a Sociedade cedia o espaço para a realização da reunião de fundação do Grêmio Artístico e Literário. Logo depois, em 27/04, animou uma quermesse no Mutondo, ao lado do bar do Filhote, onde o maestro Humberto regeu um vasto repertório. No Grande festival do Porto da Ponte, em 04/05, a Sociedade também se integrou ao Rancho das Camélias e dos Crisântemos. Os festejos iniciariam as 15h e haveria bondes até o fim das atividades. Em setembro integrou o grupo dos “manifestantes” que surpreendeu Luiz Palmier na celebração de seu aniversário.
Sua sede, em 27/06/1920, acolheu uma palestra organizada pela Federação Espírita do Rio de Janeiro. Depois disso, só há o registro de sua participação nos festejos celebrativos do primeiro ano de exercício da chefia do executivo niteroiense por Manoel Ribeiro de Almeida. É possível que a Sociedade Musical Fluminense e o Grêmio Artístico e Literário tenham se fundido. As matérias que registram as atividades do Grêmio sempre informam que as conferências e apresentações eram seguidas de um baile. A música era, como ainda é, um elemento valorizado e que compunha um dos elementos do povo gonçalense.
Inúmeras outras associações e sociedades recreativas existiram nas freguesias que depois compuseram a freguesia de São Gonçalo, entre a virada do século XIX para o XX. Seu inventário é importante registro do movimento associativo e da vida cultural local, especialmente quando o discurso de uma cidade sem passado invisibiliza as experiências já vivenciadas no local.

Fontes:
Sociedade Musical Fluminense e Sociedade Musical Fluminense. In: O Fluminense. Niterói, Ano 41, nº 10510. 14/02/1918. p. 3.
Sociedade Musical Fluminense. In: O Fluminense. Niterói, Ano 41, nº 10581. 27/04/1918. p. 3.
S. Gonçalo. In: O Fluminense. Niterói, Ano 41, nº 10610, 26/05/1918. p. 3.
S. Gonçalo. In: O Fluminense. Niterói, Ano 42, nº 10868, 22/02/1919. p. 3.
Grêmio Artístico e Literário Gonçalense. In: O Fluminense. Niterói, Ano 42, Nº 10885, 12/03/1919. p. 2.
São Gonçalo. In: O Fluminense. Niterói, Ano 42, nº 10901, 28/03/1919. p. 3. A mesma matéria é reproduzida na terceira página das edições seguintes dos dias 29/03/1919, 30/03/1919, 25/04/1919, e 27/04/1919.
Grande festival no Porto da Ponte em São Gonçalo. In: O Fluminense. Niterói, 04/05/1919. p. 3.
Manifestação. In: O Fluminense. Niterói, 24/09/1919.
Federação Espírita do Estado do Rio de Janeiro. Niterói, Ano 43, nº 11351, 27/06/1920. P. 2

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Renato Cardoso

Renato Cardoso é casado com Daniele Dantas Cardoso. Pai de duas lindas meninas, Helena Dantas Cardoso e Ana Dantas Cardoso. Começou a escrever em 2004, quando mostrou seus textos no antigo Orkut. Em 2008, lançou o primeiro volume de “Devaneios d’um Poeta” e em 2022, o volume II com o subtítulo "O Rosto do Poeta". Graduado em Letras pela UERJ FFP e graduando em História pela Uninter. Atua como professor desde 2006 na rede privada. Leciona Língua Inglesa, Literatura, Produção Textual e História em diversas escolas particulares e em diversos segmentos no município de São Gonçalo. Coordenou, de 2009 a 2019, o projeto cultural Diário da Poesia, no qual também foi idealizador. Editorou o Jornal Diário da Poesia de 2015 a 2019 e o Portal Diário da Poesia em 2019. É autor e editor de diversos livros de poesias e crônicas, tendo participado de diversas antologias. Apresenta saraus itinerantes em escolas das redes pública e privada, assim como em universidades e centros culturais. Produziu e apresentou o programa “Arte, Cultura & Outras Coisas” na Rádio Aliança 98,7FM entre 2018 e 2020. Hoje editora a Revista Entre Poetas & Poesias e o Suplemento Araçá.

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