O tempo é rápido e escasso
Contorcendo-nos em um dolorido indolor
Que corrói e destrói
Construindo novos rumos
Novos sonhos
E apagando o que se foi e o que não foi…
Luto contra ele com grilhões
De fogo, ar, terra e água
Mas ele é invencível
Vence-me e deixar-me prostrada
Aguardando a rapidez dos dias
Que desfolham minha vida…
Vivo uma
Insatisfação insatisfeita
Um crescer diminuído
Uma falta de algo indescritível
Não sei o que viver, como viver
Mas indubitavelmente vivo
Dias velozes, vorazes e vazios
Sem saber do amanhã
Mas quando me dou conta
Já é outro dia…
(Furor Letárgico da Alma 2009 – Michelle Carvalho)
Quando pensamos em tempo e olhamos o relógio fixamente notamos a eternidade até que se passe um minuto, mas se estamos em uma ótima companhia ou fazendo algo que gostamos o tempo voa de forma infundada…
Em tempos de distanciamento social, home office, teórico maior acesso ao tempo e desaceleração da vida, vemos duas vertentes: uns que estão entediados por não saberem o que fazer com o momento ocioso e outros que mesmo em casa trabalham tanto quanto fora dela e estão desejosos de mais tempo para realizarem todas as tarefas necessárias.
Estando com tempo de sobra ou tempo escasso, vejo em muitos a dificuldade em produzir devido à estrutura de instabilidade emocional que paira no ar, bem como o próprio corpo que tende a não funcionar tão bem no local que sempre foi usado para descansar. É como se o corpo entendesse que aquele local não é o específico para tal desenvoltura, por isso muitos tem essa dificuldade, e para estes faz-se necessária à aplicação de uma rotina mais específica para adaptar o corpo e a mente.
Decepcionante para alguns pensar que agora que temos muito mais tempo a cabeça não coopera para que tudo flua como esperado, ou por tantas tarefas e desejos de tirar do armário os muitos projetos que ficaram para depois, pensando que não existe tempo possível para tanto.
São tantas as coisas para as quais agora “temos tempo”, mas ainda assim, parece que estamos travados em um bloqueio mental e emocional. Não conseguimos alcançar tais metas ou nem mesmo iniciá-las, e isso causa agonia e sensação de impotência.
Essas sensações causam um círculo que traz irritabilidade e necessidade de sempre estar produzindo, já que se não alcançarmos nossas metas não nos sentimos satisfeitos, tendo que suprir de muitas formas tais déficits, por isso muitos desembocam essas necessidades na alimentação desregrada, outros em uma rotina de exercícios físicos frenéticos, na bebida e outros ainda, em depressão ou fuga da realidade iniciando um agir natural como se nada estivesse acontecendo.
Nestes e em muitos outros âmbitos vemos serem aflorados os melhores e piores lados de cada um.
Certa vez conversando com uma amiga tínhamos a ideia de que tudo isso vinha acontecendo para que cada um se aprimorasse internamente, pensasse, refletisse, mudasse e se tornasse uma pessoa aprimorada, para que pudéssemos ter um mundo melhor para todos quando tudo isso chegasse ao fim.
Mas causa agonia ver que muitos dos que nos cercam, até mesmo pessoas que consideramos muito, tem mostrado ângulos jamais vistos antes e inesperados com características egoístas, com falta de empatia e descrédito na ciência, nas perícias técnicas, pautando-se em invencionices, fake News e pensamentos distorcidos de tudo o que estamos vislumbrando.
Não há um dono da verdade, mas sim lógica e bom senso. Com o decorrer dos anos, o bom senso foi sendo visto como “o que me favorece”, eis que o que era o senso comum, hoje não existe mais, cada um pautou-se em um parecer que lhe cabe ou que lhe enche mais os olhos.
É triste vislumbrar um mundo distorcendo-se e afastando-se das basilares ideias de ética, moral e lógica que sempre existiram mas tornaram-se esfareladas e esvaídas com o passar dos anos e aceleradas nestes últimos meses.
Na verdade, vemos máscaras derretendo-se e sendo afloradas nas pessoas suas reais faces.
Pessoas boas realçando sua bondade, empatia e capacidade de serem melhores, bem como outras de interior maculado tendo refletido no espelho da vida o que realmente tem a oferecer ao próximo.
Mesmo assim, na minha pequenez rogo a Deus para que os corações mudem e possamos ter um mundo melhor… É só o que desejo, porque o tempo… Está correndo!
Michelle Carvalho
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