Marcos Pereira

Reencontro.

Inverno de 1990, nasce numa família simples, uma menininha linda. Com grandes olhos negros e amendoados para combinar com seus cabelos lisos, realçando ainda mais o seu rostinho. Gorducha como ela só, era faceira e esperta. Encantava a todos com sua meiguice. Assim, ela foi crescendo. Até um dia que foi acometida por um mal-estar. Ao ser levada ao médico, teve o seu diagnóstico definido. A partir daquele dia, sem saber, passou a lutar por tudo que mais acreditava, a sua vida.  Dia após dia, era uma vitória para ela amanhecer, adormecer, correr e rir.

Os anos foram passando e cada vez mais, sua saúde foi ficando mais escassa. Com mais entradas e saídas do hospital, mesmo sendo uma criança, ensinava a muitos o que era lutar. Vaidosa e cheia de charme, ela continuava a trilhar a sua jornada, encantando a todos. Amante do seu pai, demonstrava a todo o momento esse amor. O abraçava, o beijava e adorava se agarrar nas suas pernas, subindo nos seus pés e o convidando para dançar. Ele por sua vez, cantava para ela e contava várias histórias de princesa. Um dia lhe deu um anel que representava o elo de suas vidas. Ele continha três pedrinhas lilás e quando a presenteou, disse: Este é um verdadeiro anel de princesa, pois você sempre será a minha princesa.

Responsável pelo sustento da família, nem sempre podia estar com ela nas suas idas e vindas do hospital. Apesar de não ser compreendido por muitos, ele não podia se afastar das suas tarefas profissionais, pois eram delas que ele custeava o tratamento da sua princesa.

Ele adorava levava ao parque quando possível. Lá, ela pedia para andar de balanço. Gostava de sentir a sensação do vento em seu rosto e o gosto da liberdade nos empurrões que seu pai dava e pedia-lhe, “mais alto, mais alto”, pois assim, acreditava que chegaria ao céu. Na volta para casa, o seu pai comprava-lhe chicletes. Doce que ela adorava. Tudo tão simples, mas para a ela, esses passeios eram inesquecíveis pois no seu estado debilitado, tudo que podia fazer para se sentir livre era uma felicidade e toda vez que isso acontecia, ela agradecia dizendo: “Eu sou muito feliz”.

Próximo ao natal, seu pai sem saber que seria o último ano a compartilhar da companhia física da sua princesa, pediu aos céus que ela estivesse em casa no Natal, pois ela se encontrava internada desde o início do mês natalino. Caso o seu pedido fosse atendido, ele pessoalmente a levaria para gradecer sua alta na casa do senhor. Justamente naquele ano, ela tinha feito um pedido especial para o papai Noel. Pedido este, que fora escrito numa cartinha conforme ela ditara e que ela mesma pendurara na árvore. Na cartinha, ela pedia uma linda boneca.  Como não poderia deixar de ser, seu pai correu todas as lojas possíveis para conseguir o tão sonhado presente. Na véspera do natal, ele teve seu pedido atendido pelo céus e como prometido, lá foi ele com sua princesa cumprir a sua promessa. Chegando a igreja ele disse: Veja minha princesa, este é o papai do céu. Peça a ele para você ficar curada, pois ele pode tudo e prontamente ela respondeu com toda sua inocência: “Se ele pode tudo pai, porque ele não sai daquela cruz” e o pai, ficando a pensar, disse: filha o que vês é só uma representação, pois ele está aqui a nos ouvir.

Veio o ano novo, e ela estava linda. Vestida de branco com um arco cheio de flores coloridas, de colar, pulseira e seu anel de princesa. A meia noite os fogos começaram a enfeitar o céu. Então seu pai pegando-a no colo disse: Veja que coisa linda, você não acha? E ela por sua vez respondeu: “Pai, é muito bom viver”.

Após alguns dias do ano seguinte, sua princesa teve uma recaída. Seu pai levou-a nos braços para o hospital e antes que lá chegasse, sentiu que sua princesa já não respondia a estímulos. Todos os dias ele ia vê-la. Chorava do lado de fora para que ela não o visse triste, mas com o passar do tempo, ela pirou. O seu guardião, ficou uma semana ao seu lado, até chegar o dia fatal. Neste dia, ele conversou com ela, lembrou de coisas que fizeram juntos. Das malcriações que ela fazia, do menininho do colégio que ela dizia que gostava e o qual chamava de lindinho e tantas outras coisas. Ao voltar para casa, recebeu a notícia de sua partida.

O guardião da linda princesa, fez todas as honras que ela merecia. A vestiu, cantou a sua música preferida e não saiu do seu lado em nenhum momento.

Ele passou anos tentando curar sua dor. Dia após dia, vagava com suas lembranças. As vezes pensava que não ia aguentar. Orava, rezava e clamava ao céu pedindo notícias da sua princesa. Até que um dia em seu mórbido estado, ele teve seu reencontro tão esperado. Em sua imaginação, foi levado a vê-la num lugar lindo. Um parque com muitas flores, brinquedos e várias crianças. Quando ela o avistou, correu para os seus braços e deu-lhe um abraço tão apertado que ele sentiu uma sensação inefável. Beijou-a carinhosamente, alisou seus cabelos e disse; você está linda, igual a uma princesa. Porém, ela respondeu: “Sinto falta do meu anel de princesa”. Foi quando ele lembrou que o anel que ele lhe havia dado, ficou guardado em seu bolso após sua partida.

Conversaram muito e ela falou como estava bem e saudável, mas ela só ficaria melhor se o seu eterno guardião ficasse bem, pois ela via como ele estava sofrendo. Se aninhou em seu colo e lhe disse: “Não se preocupe comigo, eu só quero que você fique bem, pois só assim, eu ficarei feliz. Você sempre estará comigo e um dia, voltaremos a ficar juntos novamente, pois você sempre terá o meu ETERNO AMOR.”

Marcos Pereira

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