Sensibilidade de ser gente
Ela queria amor
Ela queria amar
Ela queria ser amada,
E as agruras fizeram-na forte
Fizeram-na firme
Fizeram-na ser…
Mas olham-na e julgam-na fraca
Julgam-na tola
Que não suporta notícias e tristezas
Ela tenta de tudo
Pra mostrar pro mundo
Que sensibilidade
Brota em quem já sofreu demais
E não em quem tem fraqueza no coração…
(Michelle Carvalho)
Estamos vivendo em um mundo repleto de dores, em que os sonhos estão escassos e esperança tem se mostrado ínfima perante a sociedade.
Diante destas dores nos cobram força, dureza, impulsionamento nas redes sociais, rigidez, trabalho árduo, produção incessante.
Quem é empático, quem se coloca no lugar do outro, quem é sensível, é considerado: FRACO! BOBO! NÃO AGUENTA O ROJÃO! NÃO SABE O QUE É A VIDA!
Em meio a tantos desprazeres e imposições, acabamos por nos moldar a “quereres” e “verdades” que não são nossas, “verdades” estas que muitas vezes nos corroem porque não são cabíveis em nós.
O peso do tempo comprimindo e falando através de nossa boca somente o que as pessoas querem ouvir, engolindo o que se deseja falar, indo a lugares que não gostaria de estar e sofrendo ataques de quem jamais se imaginaria, nos fazem repensar cada vez mais:
– Por quê?
– Qual o sentido de continuarmos presos em maremotos internos para agradar?
Não se trata de falta de educação, desdém ou ataques, mas sim de expor o que desejamos com caridade, talvez a caridade que nunca tenham tido conosco, externando nossa vontade.
Quando saltamos na direção da realidade de quem somos, desistimos de seguir com o que fomos moldados a ser, mas neste momento nos questionamos:
– Quem na verdade somos?
– Quem é esta pessoa sem os mandos e desmandos dos outros?
Estas são respostas tão enigmáticas quanto uma expressão física e matemática que somente poderia ser respondida por Albert Einstein, tamanha a dificuldade de se encontrar solução imediata.
Costumamos nos pautar para responder a estas perguntas falando da nossa profissão, da nossa filiação, dos moldes que nos entulharam, mas dificilmente falamos de quem realmente somos, porque a dificuldade em identificarmos nosso eu vai para além de tudo que realmente não foi nossa escolha ser, nos causando enorme dificuldade de identificarmos nossa essência.
Logicamente somos uma colcha de retalhos pautada em muitos pedacinhos de várias pessoas que perpassam nossa vida.
Algumas deixam pedaços que agregam, outras deixam coisas que sabemos detestar, mas que ficam ali apodrecendo nosso ser. Em meio a essa formação, quem você realmente é?
No dia em que desistimos de ser quem somos somente para sermos aceitos, descobrimos um mundo em que fazendo pouco, muito ou nada para agradar, sempre estaremos falhando com algo ou alguém.
Descobrimos que nos cabe sofrer muito além das nossas possibilidades e fazer algumas pessoas satisfeitas e outras não, ou escolher não sofrer para satisfazer o desejo alheio e, ainda assim, fazer algumas pessoas satisfeitas e outras não.
A conta será sempre a mesma no que tange aos desejos alheios, algumas pessoas estarão satisfeitas e outras nem tanto. O que muda é a nossa possibilidade de escolher sofrer ou não, porque agradar e satisfazer a todos, nunca será possível!
Quando desejamos ser livres ao extremo, sem nos importarmos com nada, nem mesmo com regras sociais ou legais, nos vemos encapsulados para não falar o que fere a liberdade do outro, fazendo-nos pesar e aprisionar parte da liberdade. Daí voltamos a nos sentirmos agregados a uma barreira triste de não poder viver a espontaneidade infinita tão sonhada.
Fugir da antiga prisão e não encontrar a presumida liberdade é gritante e aterrorizante por sentir-se no limbo entre os ideais e realidade, causando, muitas vezes, tristeza e desistência da alegria de tentar mostrar-se.
Neste momento vemos a transformação e a escolha de como viver.
A transformação na vida é vagarosa e muitas vezes penosa porque não mais nos encaixamos ou cabemos na armadura engessada que fomos obrigados a carregar. Torna-se impossível vesti-la ou voltar para ela.
Também não é possível sair “nú” pelo planeta, sujeito ao frio, à fome, à chuva, às intempéries climáticas e às regras sociais.
Faz-se necessário encontrar o caminho do meio, o equilíbrio na vida para que não penda para nenhum extremo, nem o que causava sufocamento, nem o que venha a extrapolar.
Assim, necessário se faz encontrar-se realmente no mundo, cobrindo-se das partes boas da colcha de retalhos que deixaram sobre nós, desfazendo-nos das partes puídas e sujas que estragam a vestimenta, bem como queimando a antiga armadura. Pautando-se no que é necessário e plausível para si, cultiva-se a liberdade e direito até o limite fronteiriço de onde se inicia a liberdade e direito do outro.
– Qual é este limite?
Este, quando não delimitado nos códigos, leis e constituição é outro mistério da humanidade que somente pode ser desvendado por cada um de nós, pois o limite se estabelece quando não mais suporto o esgarçamento da vida.
Sendo a vida uma eterna transformação carregada de vivências que só sabe quem experimenta, podemos dizer que sensibilidade, empatia e liberdade de ser uma pessoa que sente é fortaleza de quem já sofreu demais, enobreceu-se por ser gente e segue de forma genuína por ser humano.
Uma fortaleza com coração de pedra que só requer produção, é máquina, concreto, construção do homem, mas quem tem sensibilidade para acolher e agir com amor é genuinamente GENTE!
Michelle Carvalho
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