Diário de um espectro chamado mãeJosilene Pessoa

Diário de um espectro chamado mãe – Texto: Silêncio para os fogos

 

Era um grupo de famílias atípicas que resolveu correr para um lugar afastado no fim do ano. Como se fosse um retiro daqueles que se faz em algumas comunidades evangélicas.

A ideia era estar longe de todo barulho e chuva de informações que poderiam perturbar as crianças e jovens autistas do grupo. Cada um com sua particularidade porém todos com hipersensibilidade de sentidos, o que fazia com que o barulho dos fogos de fim de ano, para eles, soar como barulho de furadeira direto em suas têmporas.

Parece exagero mas, infelizmente não é.

Então as famílias já conformadas que suas comemorações de fim de ano jamais seriam as mesmas depois de seus filhos, seguiram para ele local distante de tudo onde haviam acomodações individuais para cada família.

Quando estava perto de virar o ano, algumas crianças já haviam dormido, alguns ceiaram mais cedo. Alguns se anteciparam nos desejos de um ano novo para o caso de dormirem antes da meia noite.

Um dos pais de uma dessas famílias atípicas costumava gostar muito de fogos antes de seus filhos. Gostava de assistir ao show de luzes coloridas como se junto com elas viesse um “novo amanhã” cheio de esperanças.

Bom, sabendo que o barulho iria incomodar as crianças, ele fez vários testes com diversos fogos de artifício silenciosos. Depois de muita procura ele achou um fornecedor que prometeu e cumpriu um fogo de artifício sem barulhos.

Ele faz os teste antes em local neutro, é claro, depois leva para o “retiro atípico”.

Com o consentimento das outras famílias ele pede licença para soltar no ar.

Com um pouco de medo de não dar certo mas com muita fé ele o fez. Escolheu um somente com o metal de cobre o qual refletiria somente a luz azul que, conforme sabemos, é a cor que representa os autistas.

E assim foi o céu de uma ano novo diferente. Luzes silenciosas levaram às famílias um show de esperanças iluminando a cor azul em meio ao céu escuro da noite.

A vida atípica faz isso, nós renova o tempo todo. É como se tivéssemos a emoção de um ano novo a cada dia mas com emoções variadas. Nós nos reinventamos a cada segundo. Buscamos o novo o tempo todo para que o bem estar dos nossos esteja garantido. Mudamos nosso olhar para o mundo. Valorizamos as pequenas conquistas. E, para quem se permite, essa mudança vem com uma dose resiliência que não impede o sofrer mas nos torna grato em cada superação.

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Feliz ano novo!

Josileine Pessoa F Gonçalves 

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Imagem do texto: https://pixabay.com/photos/fireworks-new-years-eve-574739/

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Josileine Pessoa F. Gonçalves

Nascida no município de Niterói – RJ, Moradora de São Gonçalo, onde tambem cursei a maior parte dos estudos no Colegio Estadual Nilo Peçanha. Formada em Letras/Port. – Inglês pela Universidade Estácio de Sá. Trabalho na área da educação e ensino de inglês. Atualmente ministrando aulas de Produção Textua na rede particular de ensino e aulas de inglês online. Faço parte do Coletivo de Escritoras Vivas de São Gonçalo desde o segundo semestre de 2022 e sou membro da União Brasileira de Trovadores, a UBT São Gonçalo, desde Janeiro de 2023. Colunista da Revista Entre Poetas e Poesias, além da coluna com textos variados, ofereço aos leitores minha "escrevivencia" atípica na Série "Diário de um espectro chamado mãe, onde é possível encontrar textos diversos dentro do universo autista. Sou casada, mãe de dois filhos autistas, poeta, escritora e trovadora sempre gostei de compor e escrever sobre vida e sociedade. Inclusive com composições, paródias e versões para uso educacional. 

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