Na calçada.
Realizado eu seria,
Se, ao menos um dia,
Num espasmo de atrevimento.
Ou, quem sabe, a sorte de um momento,
Tivesse entre as minhas, o calor de sua mão.
E com o olhar assustado de um menino,
Acuado qual felino,
Eu fitasse o fundo daquele olhar revolto
Onde corre bicho solto,
D’onde jamais regressaram normais,
Os olhares casuais,
Que nele naufragaram.
Ah! Contente eu morreria,
Se num gesto de espontânea rebeldia,
Meus passos se acasalassem aos seus, no trajeto cotidiano.
E tal qual a sugestão de um plano,
Meticulosamente traçado,
Eu seguisse ao seu lado,
Num induto de companhia.
Minha alma em frêmito entraria,
Se sua atenção, ao menos garoasse,
Na vastidão do meu anonimato.
Tempestivas ondas de agonia,
Avançam contra o arenoso solo da minha timidez,
Toda vez que imagino tilintar o acorde doce de sua voz.
E, num rompante de desespero,
Que minha lucidez consome,
Ouço-a proferindo meu nome.
É quando a noite surpreende meu grito,
Num delírio aflito de tormenta e dor.
A noite testemunha meu desejo,
De dar-te um beijo,
E deslizar a aspereza dos meus dedos,
Na maciez de sua pele.
Apavorado, vasculho os grotões do meu caráter pacato,
Buscando a ousadia meticulosa,
De um hábil amante,
Que manipulasse a arte,
De amolecer sem critérios,
Os muitos mistérios da alma feminina,
Nem mesmo toda água do pacífico,
Abrandaria as labaredas esguias,
Que lastram toda vez que imagino seu toque sutil,
Eriçando minha epiderme.
Ah! Tragicamente concluo,
Que, na peça onde atuo,
Produzo um monólogo deprimente,
Pois, honestamente,
O dueto que obstino,
Está na mulher desconhecida,
Dona da minha vida,
Sem saber ainda, que possui tal riqueza.
Nem faz ideia do quão despedaçado fico,
Toda vez que identifico,
Mais uma oportunidade ida,
Já que, a mulher da minha vida,
Ainda não foi notificada,
Que está sentenciada,
Ao perpétuo destino,
De fazer grande este pequenino,
Que a admira, todo dia,
Na mesma calçada.
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Fonte da imagem:
https://www.pexels.com/pt-br/foto/lindo-bonito-atraente-elegante-3951783/
Exelente trabalho, adorei esta poesia.