Você, Escritor! – Texto: “Tormenta” – Niellem Sousa Rodrigues
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TORMENTA
Niellem Sousa Rodrigues
São Gonçalo-RJ
13/04/2019 – sábado às 22:40
Eu já imaginava que a insônia me destruiria e então planejei conversar entre as linhas telefônicas com uma mulher, ao passo que me vejo no escuro vendo e ouvindo um filme obscuro, bem sei que não saberei dormir e que ela estará ao meu lado… não sei se devo dizer seu nome, tampouco que seja minha amante amorosamente, mas, isso não o vem ao caso, meu caro leitor.
Ainda hoje, dia 13 – sábado 23:30
Eu me emaranho entre os lençóis e escondo minha visão como quem pressente um susto eminente por entre a tela da televisão, enquanto tenho a quem apertar na sofreguidão de quem se impressiona com qualquer bom enredo e cortes mal feitos, eu continuo.
14/04/2019 – domingo 00:30
Sim, já passam da meia noite. Eu chego em casa após um filme obscuro terminado para repousar meu corpo inerte mediante tamanho pavor, início o contato com minha amada pela linha telefônica.
Enquanto, pânicos me assombram, mesmo que ainda acalentada pela voz de minha amada e de minha fiel escudeira cachorrinha chamada Lana, a noite foi dura e penumbrada como uma cortina de fumaça igualmente escura, de modo, que minha voz ao ecoar nos ouvidos dela, ecoavam em mim chamados vazios.
14/04/2019 – domingo 02:00
As horas por mais rápidas que pudessem parecer não amanhecia, a tormenta de olhar as janelas e estarem elas mostrando a escuridão me angustiavam. Confesso que meus olhos me enganavam, minhas mãos gelavam e os vultos frequentes nas silhuetas nebulosas da noite dançavam rindo-se do meu desespero.
14/04/19 – domingo 03:00
Eram então, três horas da manhã em ponto e confesso que me senti mais ainda amedrontada mediante o horário, dizem e eu acredito, ao menos nessa madrugada – mas, voltando dizem que é nesse horário que os vários fantasmas se tornam fortes e aparece para nos visitar sejam eles bons ou malignos.
Atentei-me a voz de minha amada cada vez mais sonolenta pelas horas passadas, imaginava que ela logo dormiria, seria o normal para mim também, mas eu não conseguia cerrar meus olhos em meio a escuridão.
14/04/2019 – domingo 03:00, 3:05, 3:07…
As horas se arrastavam, já não possuíam para mim a velocidade de um vídeo acelerado, eram horas amenas, no entanto, as correntes dos ponteiros aprisionavam meu penar. Eu imaginava e via vultos, silhuetas me amedrontavam.
Ouvia sons de risadas e essas me assustavam, não eram do mundo terreno, tenho eu total certeza, não viam do bar da esquina que nunca fecha e caminha noite a dentro sem medo de medos terrenos, não era da vizinha e do marido que sempre se divertiam, se é que você me entende, todas as madrugadas, pois aquelas risadas, eu conhecia.
No entanto, eram risadas presas em minha mente, eu não sei explicar a você, meu caro, eu só sei que as horas se arrastavam e eu me desesperava toda vez que uma nova aparição surgia em minha janela.
14/04/2019 – domingo 04:00
A noite pairava, a madrugada escura se esticava, enquanto eu e minha amada relembrávamos momentos que vivemos no início de nosso relacionamento e as memórias me traziam um pouco de acalento além da sua voz.
Senti um frio descomunal, eu estava gelada e parecia sofrer de uma hipotermia generalizada em todo o meu corpo, cobri-me pensando cessar essa sensação pálida e gélida, não adiantou. Entretanto, as horas, ainda que arrastadas estavam passando, logo iria amanhecer de fato e a insônia daria lugar ao cansaço, que daria lugar ao sono, que daria lugar ao fechar dos olhos.
14/04/2019 – domingo 05:00
A cidade já fazia certos ruídos, pessoas começavam a levantar de suas camas, trabalhadores se esgueiravam para fora de suas casas rumo a mais um dia. No entanto, o céu aqui no Rio de Janeiro ainda se encontrava escuro, minha amada ante outro local, já que, mora em Recife, perguntava-me:
– Já está claro, aí?
E o som estridente de minha voz evidenciando o obvio era agudo e sofrido.
– Não, meu amor, está escuro, mas se quiser pode dormir.
14/04/2019 – domingo 05:30
Em meu coração a falta de sua voz faria do enredo noturno muito mais angustiante e pesado do que se encontrava aquele momento, mas não a deixaria ali sem dormir, por conta de minha insônia. Seria egoísta, seria até mesmo cruel com quem se ama. Enquanto, imaginava, eu que minha amada havia dormido, sua voz cortou o silêncio
– Ficarei então, mais um pouco, até que os primeiros raios de sol adentrem seu quarto. – Sorri, pois me senti acompanhada de tal forma que toda a ansiedade passou de alguma maneira, me sentia acolhida.
14/04/2019 – domingo 05:40
Olhava eu, pela janela mais uma e outra vez, todas as vezes que olhava para lá, mandava ao meu amor uma imagem daquela paisagem sombria ainda não tocada pelo nascer do sol. E ao visualizar as fotos, ela dizia
– Aqui já está claro, meu amor, e os ônibus começam a passar nas ruas.
Eu ouvia pelas linhas telefônicas o barulho dos motores alçando mais um dia de entradas, saídas, passagens, paradas, subidas e descidas, parecia-me até estar com ela em pessoa.
Assim, chegamos às 6 horas da manhã, os primeiros fachos de luz adentram o meu quarto. Meu amor parecia ter cochilado em meio a uma fala ou outra de minha boca, não a culpo, a mesma passou comigo toda a madrugada e firme me acompanhou em todas as empreitadas sombrias da noite.
14/04/2019 – domingo 6:30
Olhando ao redor, agora com o quarto mais claro evidenciei que as silhuetas assombrosas que eu havia visto eram cabideiros com casacos pendurados. Eram bichos de pelúcia e objetos naturais do meu cotidiano. Também notei que talvez o frio gélido fossem próprios efeitos da estação do ano, o outono misturados ao vento do ventilador.
14/04/2019 – domingo 6:10
O som da voz da minha amada do outro lado se instalou em meus ouvidos.
– Amor, já está claro aí? Logo lhe disse
– Sim, amor, vou te mandar uma imagem para que você vá dormir tranquila, mandei-a
Logo depois a ouvi dizer
– Vamos dormir, então?
– Sim, vamos. E o sutil aceite saiu de minha boca.
Então, ela se foi. Desligamos o aparelho e me vi só, me ouvi só, minha cachorrinha se achegou ao meu peito e deitou-se.
Quisera, eu conseguir dormir no claro de imediato, mas não.
14/04/2019 – domingo 7:00
Eu estava ainda acordada, sentada na cama, não, não estava assombrada, tão pouco com medo, meu caro. No entanto, as ideias me ocorreram e então, pus-me a escrever.
Minha casa acordava e os que comigo moram juntamente abriram os olhos, e eu nem mesmo os fechei. Entretanto, com três linhas escritas desse relato me forço a dormir na imensidão da claridade.
14/04/2019 – domingo 11:00
Por fim, acordei e não sei quantas horas eu dormi, provavelmente bem poucas. Abri a porta do quarto e me encontrei sozinha, ao passo que saio do quarto e caminho pelo corredor, me deparo com penas de passarinho no chão.
Ao final do rastro de penas, encontro minha gata, Julieta. Ela, enlaçada em uma asa despenada termina de tomar o que posso chamar de “café da manhã”, um passarinho de rua.
Pensei eu, pelo menos alguém comeu sua caça essa noite!
Ah… o amor… linda escrita! Parabéns!!!!!