Um brinde à vida
Sento à mesa de sempre,
olhando pra rua.
Lá, a vida acontece,
corre, voa…
Aqui dentro, garçons correm,
e os preços também.
Só meus pensamentos se arrastam.
– Garçom, uma champanhe e uma taça, please!
O garçom me olha, estranho.
Silenciosamente (e solitário), ergo uma taça brindando à vida,
aos que beberam comigo,
aos que choraram ao meu ombro,
aos que me emprestaram o ombro,
aos que passaram em minha vida,
e aos poucos que ficaram.
Brindo àqueles dos quais minha memória já não lembra,
aos que se perderam pelo caminho,
aos que não sei por onde andam,
aos que chegaram.
Levanto a taça ao ar,
olhos me olham, incompreensivos,
bocas sussurram entredentes,
risos silenciosos correm o salão.
Um bêbado grita “Um brinde à vida!”
E o bar acompanha.
Sempre é preciso um louco para mudar as coisas.
João Rodrigues