Nunca tive a intenção de relatar essa história, porque aconteceu há mais de dez anos e também não gosto de falar sobre situações tristes. Aprendi que a tristeza quando chega, ela precisa ser respeitada. Você não deve fingir não sentir e ao mesmo tempo fugir dela. É necessário olhar com cautela para tal emoção e depois deixá-la partir.
Minha irmã do meio foi para a emergência, em estado de coma. Eu e meus outros irmãos não sabíamos a causa e tampouco acerca da gravidade do problema. Ainda não tínhamos entrado, pois aguardávamos a autorização. Ansiosa como sou, andei pelos setores externos do hospital. Queria saber informações sobre a internação.
Assim que cheguei à portaria, vi uma jovem senhora de corpo franzino, baixa estatura, segurando um menino no colo quase de mesma altura. Olhei ao redor a procura de um funcionário para buscar uma cadeira de rodas. Não encontrei. Diante da fisionomia de angústia da mulher, indaguei sobre o filho. Ela me respondeu que ele precisaria ir para o Hospital Geral de uma outra cidade, só que não tinha ambulância.
Estarrecida com a situação, questionei no guichê de internação. A atendente explicou que só havia uma viatura e não podia fazer nada. Onde estávamos era um local afastado da rua principal. Chamei o meu irmão e sem contar o que acontecia, pedi que carregasse o garoto. Caminhávamos em direção ao estacionamento, um carro com senhor e uma menina dava a partida. Corri, coloquei a mão na janela do banco carona (onde a mocinha estava) e muito assustado o motorista parou. Pedi com a voz emocionada para levá-los ao hospital especializado. Felizmente o homem me atendeu. Abriu a porta para que nós entrássemos, ele ficou surpreso porque era apenas para a mãe e o filho.
Retornei com o meu irmão à recepção da emergência, sentindo uma agradável sensação que não sei descrever. Pouco depois; recebemos a notícia: minha irmã, do meio, faleceu. A dor foi absurda, mas também não foi única! Ficamos com a lembrança de que, naquele dia, salvamos a vida de uma criança!
IVONE ROSA
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