16 horas de escritaLuis Amorim

Projeto 16 horas de escrita – “Horta milagrosa” – Luis Amorim

De regresso à casa de férias pela aldeia de nascença e presença habitual na sua terra, ao longo dos anos, desde que saíra rumo ao meio urbano, novamente a senhora encantada por estar no seu espaço rural. Tem vivenda para bom descansar e horta de cultivo, iniciado no outro ano, em terreno cheio de matagal, o qual teve primeiro de ser limpo e devidamente pronto ao destinado fim. Chegou a meio da tarde e optou por descansar, mas uma vez no repouso da cama, pensa no imediato em ir ver a horta e como se desenvolveu nos últimos meses, quando estava distante mas pensando nela e planos fazendo para adicional semear. Tinha viajado com numerosas sementes, de tal modo que aos legumes já visivelmente contentes, iria juntar outras tantas frutas. Não parava de imaginar tarefas seguintes, quando acorda e dá conta de ter estado a sonhar em sono leve. Hora de levantar, reunindo as sementes e saindo porta fora, atravessando o caminho para espreitar o seu terreno onde o cultivar tinha sido trabalhoso nos períodos de férias anteriores. Sem demoras, abre um pequeno portão metálico, desce uma dúzia meia em cimentados degraus até princípio de terra, com flores do esquerdo lado e pelo direito, começando o cultivo de legumes propriamente dito, mais a formosa laranjeira, um adicional pessegueiro e vistoso limoeiro, plenos de sumos, mas faltando o resto de árvores distintas. Tinha espaço lá mais para baixo há muito destinado a saborosas frutas que pudessem dar-se bem com aqueles ares nortenhos, quando as três referidas árvores, podem ser vistas sensivelmente pelo meio. Até chegar aí, vê o que já tem pronto a ser colhido de tantas preciosidades alimentares como nabiças, diversas formas na apresentação de couves, batatas, cenouras, ervilhas, courgettes, nabos, agriões, grãos, favas, salsa, feijões, hortelãs, brócolos, alfaces, espinafres, cebolas, alhos, pimentos, tomates, abóboras e pepinos. Os vizinhos residindo na maior proximidade haviam dito que não acreditavam de todo que muitos legumes se conseguissem desenvolver por ali, muito menos a fruta. Mas tais vaticínios surgiram numa fase inicial, quando poucos tinham sido com fé, bem semeados. De tal modo que uns a seguir aos outros, tudo foi pegando bem pela terra e os mesmos vizinhos, depressa mudaram o discurso para um tom percebido como sendo mais profético, assegurando que horta só poderia ser milagrosa e qualquer semente ali utilizada faria crescer em notória rapidez, perante grande espanto ao dito sobrenatural. Chegando à zona destinada ao nascer de tão suculenta fruta, assim mesmo se antevê, senhora começa a trabalhar, quase não parecendo cansada, para dar início no breve aos processos de sementes, cada qual na sua certa residência, prometendo na antecipada, recente ainda, perspectiva que daqui a uns tempos, poderá deliciar-se e bastante com morangos, cerejas, pêras, maçãs, ananases, bananas, ameixas, nêsperas, figos, melões, meloas, tangerinas e porventura mais uns quantos, pois até lhe parece que traz consigo mais saquetas para o efeito. Espera apenas não se enganar e despejar sementes diferentes no idêntico futuro habitar. Alguns vizinhos já se juntaram lá em cima no caminho, debruçando-se em conjunto pelo muro e alertando de pronto senhora à sua presença, quais mirones que espreitam mas que pretendem ser percebidos no estar ali nesse curioso e muito estranho serviço de tarefa que sempre julgam ser necessária, quase como acreditando que o trabalho pela horta será mais profícuo com a sua bendita observação. Têm a firme certeza que vistosa horta no suposto de tão milagrosa, irá dar mais rebentos apetitosos e provavelmente não ficará por aí, uma vez que o espaço de cultivo não está preenchido na sua totalidade. A senhora retribui que sim, as sementes que traz vão fazer o seu importante papel com decisiva ajuda e que, mais tarde, novas ela levará, pois crê em grande convicção que nada com o qual se pode encher um bom prato de comida natural, quererá ficar afastado de tão especial e produtiva companhia em vista horta, eventualmente milagrosa ou quem sabe, a retribuir o seu conversar diante das saborosas e tão saudáveis frutas, com elas mais os similares legumes e sementes e até o que há-de vir em jeito de futura plantação, quando os limites nunca existem para tão singular horta a ser cultivada no trato adequado e deveras especial.

Fonte da imagem: Foto do Autor

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Luís Amorim

Luís Amorim, natural de Oeiras, Portugal, escreve poesia e prosa desde 2005. Tem já escritas cerca de 2800 histórias com 106 livros de ficção publicados, entre os quais, um primeiro em inglês, "Cinema I", onde responde por 28 heterónimos (em prosa e poesia). Dos livros em prosa, tem vinte e oito da série “Contos”, “Terra Ausente”, “A Chegada do Papa” e dois livros de “Pensamentos”. Na poesia, igualmente diversas séries de livros têm alguns volumes, como “Mulheres”, “Tele-visões”, “Almas”, “Sombras”, “Sonhos”, “Fantasias”, “Senhoras” e o herói juvenil “Esquilo-branco”. Todos estas obras de poesia citadas, integram os designados contos poéticos, assim identificados pelo autor, aos quais se acrescentam “Lendas”, “Campeões”, “Músicas”, “Turismo”, “Palavras”, "Flores", “27 Flores”, “Todas as Flores” e mais outros sete do universo “Flores”, onde este elemento surge em todos os enredos, como por exemplo “A ceia do bispo e outros contos poéticos”. A escrita também foi posta em narrativas poéticas, “Beatriz” (inspirada na personagem de "A Divina Comédia" de Dante Alighieri), “Paz”, “O Viajante”, “O Sino”, “A Sereia” e “O Mapa”, este com 3016 versos. Ainda a registar em poesia, “Refrões”, “Sonetos”, “Trovas” e quatro volumes de “Canções”. Dois livros foram publicados segunda vez, então com ilustrações de Paulo Pinto (“Almas”) e Liliana Maia (“Fantasias”). Luís Amorim foi seleccionado por 312 vezes com contos e poemas seus em concursos literários para antologias em livros, revistas e jornais em Portugal, Brasil, Suíça, Colômbia, EUA, Inglaterra e Bangladesh. É colunista da revista “Entre Poetas & Poesias” a partir de 2022 e integrante desde 2021 do Coletivo “Maldohorror”, onde histórias suas são publicadas em ambos os sítios, com regularidade. Tem igualmente publicados 32 livros de Desporto (Automobilismo, Hipismo, Futebol, Vela, Motociclismo) e 4 de Fotografia, o que somando aos 106 de ficção, perfaz um total de 142 livros publicados.

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