Independência?
Independência?
Como é que eu posso
Pintar minha cara
Celebrar nas ruas
A Independência
Se somos escravos
Das garras da fome
Dos grilhões do medo
E da violência
Se pra onde olho
Avisto miséria
O pobre abatido
Pedindo clemência?
Nas ruas onde vivo
Um batalhão de
Crianças pedintes
Passam desfilando
Em vez de uma farda
Com o verde-oliva
Quase seminua
Elas vão marchando
O som do estômago
Roncando de fome
A marcha terrível
Vai cadenciando.
Aqui não se vê
A tal liberdade
Nem terra adorada
Entre outras mil
Os filhos não têm
O doce carinho
Nem a proteção
Da tal mãe gentil
De noite se dorme
Abraçado ao medo
Ouvindo o estrondo
De bala e fuzil.
Não há sonho intenso
Nem um raio vívido
De amor e esperança
E nem braço forte
Não se vê grandeza
Nem mesmo futuro
Tanto sofrimento
Não há quem suporte
Todo santo dia
É um desafio
Anda-se abraçado
Com a própria morte.
Queria eu poder
Dizer: “Pátria amada,
Tu és a maior
Entre tantas mil”…
Queria eu poder
Ter a igualdade
E dormir tranquilo
Sob o céu anil…
Ah, como eu queria
Que a nação que o Hino
Canta tão bonito
Fosse o meu Brasil!”
João Rodrigues