Finis
Ouço o gemido da mata sofrendo
A motosserra, de ódio, roncando
A mão humana, em um gesto horrendo,
Ceifa a floresta; ri vê-la tombando.
Vidas e vidas… centenas de vidas
Ficam sem sombra, sem pão e sem lar
Humildes almas, ficam ao léu, perdidas
Sem pouso certo ou sem nem pousar.
Ouço o clamor do rio sedento
Só pedra e areia no esquelético leito
Aves e bichos dormindo ao relento
Vendo seu mundo perfeito desfeito.
Pássaros sem ninhos, emudecem os cantos
Ao ver a selva toda devastada
Na alvorada só se escuta os prantos
De quem só tem a vida e mais nada.
Trocou-se o verde por um chão cinzento
O azul do céu por pó e fumaça
Trocou-se o canto por triste lamento
Findou-se aquilo que tínhamos de graça.
Ó homem, tu, que feito o rei Midas
Só pensa em ouro! E onde pões a mão
Deixa sem vida milhares de vidas
Para saciar tua sedenta ambição.
João Rodrigues