Colei da FFP-UERJ

O FRIO

 

Rolei a caneta repetidamente por cima da mesa. Seguir seu movimento de modo despretensioso, me fazia parar de pensar um pouco. Suspirei, refletindo se deveria fechar a janela ou não, já que a brisa fria da chuva repentina bateu em meu corpo e me fez estremecer dos pés à cabeça.

Dias assim são um saco, porque a chuva vem, junto com o clima ameno e frio, daqueles que me fazem querer ficar debaixo do edredom quentinho, e com uma xícara bem quentinha de chá nas mãos. Eles vêm, e me fazem lembrar de nós. Ou melhor, de você. Porque nunca houve um “nós”, de fato.

Me faz lembrar da ideia passageira que tive, que era dividir esses dias de conforto com você, na esperança que se tornasse mais do que uma ideia vaga do meu subconsciente estúpido e cheio de esperança em nós. Ou melhor, em você. E em mim também, já que a ideia de nós nunca existiu pra você, e a esperança boba de salvar uma relação, que não existia por ambas as partes, me fez persistir mais do que eu deveria.

E isso é uma merda, porque mesmo eu estando aqui, preso entre fechar essa maldita janela e continuar apreciando essa imagem caótica e igualmente linda que o clima frio me proporciona, eu insisto em ficar preso numa mera lembrança de nós. Eu remeto esses dias calmos, com um “quê” de conforto a nós, e eles tem acontecido com muita frequência, para algo que não significou tanto assim.

E eu me sinto estúpido, porque tudo que eu tenho e sempre vou ter vai ser uma ideia, uma simples fantasia, do que poderíamos ter sido.

Poderíamos ter sido tudo. Mas eu só posso viver com isso.

Com a ideia do “quase ter sido”. Mas não fomos.

Ah… Mas e se… tivéssemos sido?

Se tivéssemos começado diferente?

E se você não controlasse quem e quando você gosta de alguém?

E se eu não tivesse medo de me deixar levar no que quer que fosse que nós quase tivemos?

E se você pudesse controlar sua própria vida?

E se eu tivesse pedido pra você ficar?

Teria sido diferente?

Eu estaria aqui, esperando e vendo se eu fecho a janela? Talvez eu resolveria apenas pegar um casaco, para poder continuar a ver a paisagem sem me machucar. Talvez você se machucasse comigo.

Muitos talvez, muitas incertezas. Nenhuma certeza sobre nós, apenas que isso não existe.

Resolvo fechar a janela, o frio não vale mais a pena, por mais conforto que ele me traga.

 

Esse texto não é sobre o frio. (Alison Aguiar de Amorim)

 

Alison Aguiar de Amorim, graduande em Pedagogia pela Faculdade de Formação de Professores da UERJ, Ex-bolsista do grupo de pesquisa Tri-Vértice e Bolsista Voluntário do Colei. Áreas de interesse: Educação Infantil e Infância, Educação Sexual e Literatura.

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