A dor do mundo nas costas e o riso no rosto
A dor do mundo nas costas e o riso no rosto
Dona Francisca só vivia assistindo comédia. Sempre os mesmos programas. Gostava da previsibilidade. E ria tanto das mesmas coisas que ninguém aguentava mais suas gargalhadas.
O neto um dia perguntou:
___ Por que só assiste isso, vovó?
E ela respondeu:
___ Para me fazer sorrir!
___ Mas e os outros programas, notícias, a senhora não assiste? Não se informa sobre o que acontece no mundo? A mamãe diz que a rua é um perigo. Viu na TV outro dia… ___ Foi falando assim sem parar.
Antes que ele terminasse ela disse:
___ As outras coisas eu já assisti tanto que estão entranhadas em mim. Conheci de perto a maldade, cruzei com injustiças, fui atropelada por preconceitos. E até tive que engolir minhas angústias.
___ Nossa vovó, não entendi muito bem o que quis dizer?
___ Não se preocupe. Um dia vais entender!
O menino deu com os ombros meio confuso e saiu a brincar.
A vovó se voltou para o mesmo programa que lhe arrancava risos de onde já tinham arrancado a esperança. Após longa gargalhada sozinha, a lágrima lhe escorreu seca por dentro. Respirou fundo e cochilou.
Josileine Pessoa F Gonçalves
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Imagem: https://pixabay.com/photos/old-woman-portrait-sad-elderly-5833786/
Uma dor que cala fundo, um riso que se faz resistência. Bela crônica, Josileine.