Descobri bem cedo acerca dessa emoção. Pois, o prazer é uma emoção que está diretamente ligado à felicidade – segundo Epicuro.
Refiro-me ao primeiro prazer que, de acordo com Freud, começa pela boca. Sim, pela boca! A partir do nascimento, o recém-nascido busca o seio da mãe sem que ninguém precise ensiná-lo.
De certo que identifiquei a felicidade precocemente sim. Porém, sempre fiquei em dúvida entre a emoção e o sentimento. Exatamente hoje cedo, relembrei o dia de domingo durante minha infância. Era o dia mais importante da casa. Desde o café da manhã ao jantar, todas as refeições eram servidas à pequena mesa. Minha mãe organizava os seis lugares que só comportavam quatro cadeiras. Eu e meu irmão caçula, sentávamos em banquinhos confeccionados pelo meu pai.
Assim nós ficávamos, ao redor da celebridade indispensável à mesa! Meu pai com um jeito tímido e muito carinhoso, contava sobre os objetos que inventava para brincar porque não tinha brinquedo algum. Sonhou em ser um craque do futebol, embora não jogasse bola. Raramente falava sobre sua vida sofrida no interior da Bahia.
Meu autoquestionamento começava aí. Nunca soube se o prazer maior centrava nas refeições mais caprichadas, ou por causa da presença dele aos domingos. Era tão bom que até os dias nublados pareciam ensolarados no dia de domingo! Sem falar em minha mãe: bem vestida, com penteado, maquiada e cantarolava músicas de Elizeth Cardoso o dia todo!
Parte dessa felicidade acabou quando papai partiu para sempre, e eu ainda era adolescente. Permanece em mim a frustação de nunca ter falado, diretamente, para ele o quão especial era. Apoio-me em evasivas que ele era excepcionalmente inteligente, que sabia a linguagem do olhar sobre sua importância em minha vida.
Ivone Rosa
