João Rodrigues

Dona Quiterinha: uma mulher à frente de seu tempo

Dona Quiterinha foi uma daquelas pessoas que vieram ao mundo pra brilhar, alegrar, mostrar que a vida pode ser feita a nosso gosto, com raras exceções, é claro. De talento nato, essa professora polivalente encantava seus alunos, a escola e toda a cidade com sua capacidade de ser e suas criações artísticas pra lá de inusitadas.

Casou-se jovem, deixou sua cidade natal – Santa Quitéria – e veio morar em Reriutaba. Batalhadora, pegava tecidos por consignação na Loja do Seu Chaguinha e revendia de porta em porta, ao lado do esposo Osvaldo Passos, em diversas cidades e no interior.

Seu principal hobby era costurar. Costurava para os filhos e sob encomenda. E numa época em que ainda não ouvíamos falar em “reclicar”, ela inovou e, numa gincana, organizou um desfile com roupas feitas de material reciclável. No entanto, o ápice do evento foi quando uma noiva entrou na passarela com um vestido branco de papel-seda, véu, grinalda e buquê, tudo de papel, levando o público ao delírio, mostrando a todos o seu talento.

Formada em Estudos Sociais, lecionou na Escola Raimundo Mesquita (RM), no Alfredo Silvano e na João Furtado Filho. Como alfabetizadora, foi uma professora à frente de seu tempo, sabia que a melhor forma de a criança aprender era por meio do lúdico, metodologia que passou a ser usada por aqui anos depois. Alegre e criativa, nas datas festivas escolares fazia uma verdadeira festa.

Junho era seu mês preferido, sua paixão. Na antiga Rua Siqueira Campos, ela organizava uma quadrilha junina improvisada, com fogueira, bandeirinhas e forró, convidava os vizinhos e fazia aquela festa!

Dona Quiterinha também era empreendedora. Montou sua própria loja de ornamentação e bolos confeitados (que ela mesmo confeitava) para festas de igrejas, aniversários, casamentos e eventos. Com seu filho mais novo, Leomário, montou um “Disk-mensagem” (Tok@.com Você). Com o carro de som enfeitado de balões, saía para entregar mensagens especiais ao vivo, falando ao microfone (às vezes por ligações telefônicas), a aniversariantes, namorados, pais e mães, surpreendendo todos.

Religiosa, participou de diversas pastorais, dentre elas a do Batismo e a do Matrimônio, nas quais atuou por bastante tempo. Também era engajada nas visitações da imagem da Querida Mãe, Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt, que visitava a casa dela todo dia 21 de cada mês.

Empoderada e batalhadora, tirou a Carteira de Habilitação aos 50 anos. Mãe de Gecylvone, Suzy, Taylor e Leomário, esbanjava alegria e vitalidade por onde passava. Esta libriana nascida no dia 21 de outubro foi empreendedora, artista, mãe, esposa, professora, amiga, exemplo de mulher e cidadã, deixou este mundo no dia 13 de maio de 2004, dia de Nossa Senhora de Fátima, da qual tinha uma imagem que levava sempre consigo. Foi a primeira pessoa a ser sepultada no cemitério novo de Nossa Senhora do Carmo, cuja Capela foi construída pelo professor José Teodoro em 2003.

Hoje, dia 21 de outubro, Dona Quiterinha faria 80 anos. No entanto, ela continua viva em nosso coração por meio de seus exemplos e de sua rica memória.

Imagem cedida por Leomário Muniz Passos:

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João Rodrigues

Nascido em Riacho das Flores, Reriutaba-Ceará, João Rodrigues é graduado em Letras e pós-graduado em Língua Portuguesa pela Universidade Estácio de Sá – RJ, professor, revisor, cordelista, poeta e membro da Academia Ipuense de Letras, Ciências e Artes e da Academia Virtual de Letras António Aleixo. Escreve cordéis sobre super-heróis para o Núcleo de Pesquisa em Quadrinhos (NuPeQ) na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.

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