O TIK TOK E A POESIA

Nós que somos professores de literatura, que temos a missão de observar o texto e explicá-los em todas as suas nuances para alunos que vivem num mundo que não os dá tempo para degustar uma construção textual mais elaborada, ou ainda que não seja mais elaborada, mas que na simplicidade exija um pouco de reflexão sobre o que e como está sendo dito algo sobre alguma coisa, sabemos o quão difícil é esta empreitada.

Na era das mídias sociais, da internet, dos amigos desconhecidos, dos seguidores, sentar-se para meditar é algo impensável. Recostar numa cadeira de balanço e ler um livro de poesia é cena de filme cult.

O grande troféu ambicionado pelos aplicativos é a atenção dos usuários, e o consumo destes cria uma horda de seres aficionados por dopamina, o passar de dedos na tela libera uma sensação de prazer, é a recompensa que demarca o adestramento. Aquele passar de dedo que carrega uma página e revela os mistérios contido na outra, esse prazer já não obtém respostas tão rápidas como o exigido nos dias de hoje, são necessárias conexões neurais mais elaboradas.

A geração atual é extremamente afetada pelos aplicativos de streaming, nessa realidade alguns sentidos são adormecidos e o ser se “liquifica”, tornando-se volúvel e insensível, porém, plataformas como o Tik Tok podem ser ferramentas para alavancar a produção de poesias nesse mundo midiático e apressado. Nos últimos anos, o TikTok emergiu como uma plataforma culturalmente influente, onde os usuários podem compartilhar vídeos curtos sobre uma variedade de temas. Enquanto muitos o associam   principalmente a danças engraçadas, desafios virais e conteúdo de entretenimento, ele também se tornou um espaço surpreendente para a promoção da leitura de poesia.

A relação entre o TikTok e a poesia é fascinante, pois desafia as expectativas sobre como a arte literária é consumida e compartilhada na era digital. Em vez de exigir uma atenção prolongada, como a leitura de um livro ou a audição de um poema em um recital, ele condensa a experiência, oferecendo poesia em doses curtas e acessíveis. Isso se alinha perfeitamente com a mentalidade contemporânea de consumo de conteúdo rápido e fácil.  Muitos poetas e entusiastas da poesia encontraram no TikTok uma plataforma para compartilhar suas obras e alcançar um público mais amplo. Eles aproveitam os recursos de edição de vídeo, trilhas sonoras e efeitos visuais para dar vida às palavras, criando vídeos que são tanto visuais quanto auditivos. Essa abordagem criativa torna a poesia mais envolvente e acessível para uma geração que muitas vezes é tida como distante da literatura.

Além disso, também facilita a descoberta de novos poetas e estilos. Por meio do algoritmo da plataforma, os usuários são expostos a uma variedade de conteúdos, incluindo poesia, que pode ser personalizada de acordo com seus interesses e preferências. Isso significa que mesmo aqueles que nunca consideraram ler poesia antes podem encontrar algo que ressoe com eles em seu feed do TikTok. É importante reconhecer que sua natureza efêmera pode ter suas limitações quando se trata de promover uma compreensão mais profunda da poesia. Enquanto os vídeos curtos podem despertar o interesse inicial, a verdadeira apreciação da poesia muitas vezes requer tempo, reflexão e análise cuidadosa.

Em suma, a relação entre o TikTok e a leitura de poesia é complexa e multifacetada. Embora o TikTok ofereça uma nova maneira emocionante de descobrir e compartilhar poesia, ele também desafia as noções tradicionais de como a arte literária é consumida e compreendida. O desafio agora é encontrar um equilíbrio entre a acessibilidade e a profundidade, garantindo que a poesia continue a inspirar e ressoar com as gerações futuras.

Link da foto: autoral

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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3 Comentários

  1. Infelizmente parte dos professores, consideram ser, a mídia, uma inimiga. Vivem repetindo que os alunos de hoje, não são como os de antigamente, mas se comportam como professores de antigamente. O equilíbrio desejado pelo autor, é possível, mas demanda persistência.

  2. Confesso que é uma perspectiva nova para mim. Nunca pensada. Não costumo usar o app justamente por não me identificar com esse bombardeio de entretenimento sem sentido ou com o objetivo de nos vender algo no final. Mas vou olhar com olhos mais atentos para esse puxão de orelhas… porque… se os nossos alunos estão com os olhos presos na tela… é onde a poesia pode e deve alcançá-los. O ditado sobre Maomé, não é? Ótimo artigo. Parabéns! Mais desses, por favor.

  3. Mesmo achando o ttik tok divertido, tenho plena consciência de que ele não chega a um terço de folhear um bom e velho livro, mas achei que o texto desperta um outro olhar.

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