Diário de um espectro chamado mãeJosilene Pessoa

Diário de um espectro chamado mãe – Texto: O evento e o rebento.

Quando uma mãe atípica lhe disser:
– Não dá para levar meu filho(a)

Seja lá onde for, acredite ou pelo menos procure saber os seus motivos.

As vezes quando chegamos ao ponto de não querer ir a determinados lugares com nossos filhos, não é por preguiça ou falta de vontade de fazer interação, mas pura e simplesmente porque já tentamos inúmeras vezes e estamos cansadas de passar por situações de stress.

Hoje trago, aos leitores deste diário, um exemplo simples do que acabo de dizer:

O evento era um aniversário. A mãe estava animada para levar seu filho a festa pois não podia deixar de fazer a interação social da criança.

Ela sabia que enfrentaria alguns desafios aos quais estava acostumada mas, nesse dia o espectro travesso resolveu caprichar na trakinagem.

Depois de já instalados na festa, já haviam entregado o presente e cumprimentado a aniversariante e seus familiares.

O menino, como sempre, fez o reconhecimento do local percorrendo todo o ambiente.

A mãe estava atenta e atrás dele o tempo todo.

Depois de algumas “petiscadas” nas guloseimas da festa, poucos segundos sentados e lá vão eles de novo percorrer o local.

O menino sente vontade de ir ao banheiro, porém, ainda em processo de aprendizagem e rotina de higiene pessoal, ele sente a necessidade e simplesmente quer “liberar” onde for e o mais rápido possível.

Ele tira a calça com cueca e tudo, a mãe corre com ele mas não deu tempo de chegar ao banheiro. Ele acha um cantinho gramado e manda vê quase pelado.

A essa hora todos já olhavam de lado e a mãe ainda sem se importar muito com olhares, pois já estava acostumada.

Até que numa certa mesa ela percebe risos maldosos em sua direção.

Ela ignora na hora, sobe a calça de seu filho e continua.

O menino em toda sua inocência segue correndo de um lado para o outro. Já descalço, acaba sem querer prendendo o pé num buraco que a mãe nem sabe de onde saiu.

Lá vai ela correr atrás dele que já ia direção ao portão para que não fugisse.

E enfim, depois de toda correria e uma imensa vontade de sair dali, nem esperaram a festa acabar.

Se despediram com uma desculpa qualquer e foram embora.

Se a mãe sentiu raiva dos que riram dela e do filho? Sim! Muita! Chorou de raiva da situação. Depois de secar a lágrima respirou fundo e pensou que jamais se permitiria passar de novo por aquilo.

Sabemos que não podemos desistir de ajudar nossos filhos a ganhar o mundo e que situações como essa vão sempre acontecer mas depois que a mãe passa por isso algumas vezes seguidas, há um desânimo natural em querer repetir a dose.

O ideal? Não julgá-la.

Se for oferecer ajuda, ajude de verdade.

E por fim, volto a dizer,
quando uma mãe atípica lhe disser:
– Não dá para levar meu filho(a)

Acredite! Não dá mesmo!

Josileine Pessoa F Gonçalves

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Josileine Pessoa F. Gonçalves

Nascida no município de Niterói – RJ, Moradora de São Gonçalo, onde tambem cursei a maior parte dos estudos no Colegio Estadual Nilo Peçanha. Formada em Letras/Port. – Inglês pela Universidade Estácio de Sá. Trabalho na área da educação e ensino de inglês. Atualmente ministrando aulas de Produção Textua na rede particular de ensino e aulas de inglês online. Faço parte do Coletivo de Escritoras Vivas de São Gonçalo desde o segundo semestre de 2022 e sou membro da União Brasileira de Trovadores, a UBT São Gonçalo, desde Janeiro de 2023. Colunista da Revista Entre Poetas e Poesias, além da coluna com textos variados, ofereço aos leitores minha "escrevivencia" atípica na Série "Diário de um espectro chamado mãe, onde é possível encontrar textos diversos dentro do universo autista. Sou casada, mãe de dois filhos autistas, poeta, escritora e trovadora sempre gostei de compor e escrever sobre vida e sociedade. Inclusive com composições, paródias e versões para uso educacional. 

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