Penso em você sem idealização
Fico confusa e perdida
Por que você entrou em meu coração?
Não quero essa transformação em paixão
Quero a minha solidão
Não quero viver nessa imensidão de dor…
Olhar-te, não te olhar
Isso não importa, pois eu não paro de pensar…
Tu a me importunar,
A me hipnotizar com tua beleza…
Não quero, luto contra isso
Não quero sofrer
Corro de você
Corro deste sentimento ilusório
Mas um sentimento doentio.
Tento entrar em desvio
Procurar outro caminho
Fico perdida
Mas não consigo parar de pensar, de imaginar
O dia em que você vai me amar…
(Versos de Princesa Prometida – Michelle Carvalho)
Recentemente fui questionada em uma entrevista sobre o que eu sentia por ser inspiração de muitos adolescentes e leitores e ser colocada entre os escritores que estes admiram.
Minha resposta não foi sobre um único sentimento, mesmo estando extremamente feliz e realizada por todo esse carinho, também sinto uma grande responsabilidade.
Ser alguém em quem o outro se inspira é algo desafiador!
Embora eu não tenha nenhuma pretensão de ser diferente do que sou e sendo autêntica em todos os lugares que estou, é fino o liame entre a aprovação e a decepção, principalmente entre crianças e adolescentes.
Tantas pessoas pensam que existe um ser humano ideal, com um todo perfeito, com fatores que são moldados na verdade dentro da nossa mente, eis que todos somos falhos, cheios de defeitos e qualidades.
Não existe pessoa ideal para ser admirada como perfeita, nem mesmo ideal para ser nosso par para vida toda, por exemplo. Existem sim pessoas certas, seres que cabem dentro das limitações de cada um e cheias de virtudes, nas quais o amor complementa sem cegar, mas acolhendo os prós e contras.
Revestimos o outro em uma aura de perfeição, pensando saber exatamente quem e como o outro é, sem sequer sabermos realmente quem somos nós e como queremos seguir com nossas vidas. É até mesmo engraçada essa duplicidade. Pensarmos saber mais do outro do que de nós, talvez seja porque ter ciência de nós mesmos implique olhar para dentro e encarar nossas misérias.
É como diz a música de Marília Mendonça: “Me apaixonei pelo que inventei de você”.
Existem por aí corpos perfeitos que despertam prazeres, desejos estéticos e voláteis, mas nem sempre despertam o desejo.
Desejo de querer mais que um corpo, de se apaixonar, de estar ao lado ao longo dos anos mesmo quando essa perfeição externa se for.
O conhecer melhor, internamente, demoradamente vem dos desejos além das idealizações.
Na idealização que fazemos do outro, aproximamos o ser almejado da nossa psique, mas não da realidade. É como um castelo de fumaça que parece sólido em sua mente, todavia pode se esvair na primeira brisa de vida real.
A palavra idealização tem como sinônimo “fantasia”, “imaginação”, “planejamento”, “projeto”, “ideal” e assim vemos que é algo que não é real, algo moldado na cabeça de cada um.
Somente coisas são projetadas; momentos são planejados!
Pessoas são amadas, aceitas, e acolhidas juntamente com seus defeitos e virtudes, pois quando desejamos mais tempo com o outro, mergulhamos além de qualquer ideal pré-determinado na nossa mente.
Assim, desejo continuar mantendo-me transparente para que minha humanidade de virtudes construídas e defeitos a serem superados mostrem que é isso que tem de ser admirado… O eterno aprendizado que é viver!
Michelle Carvalho
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Imagem destacada: Acervo pessoal da autora – Fotografa: Michelle Carvalho