O caminho de retorno
Obrigada Deus
Por poder abraçar
Acariciar
Beijar
E respirar o cheiro bom
Daquele que é
E sempre será
Meu ar
Meu mar
Meu par
Ao me deitar
E me aninhar
Em teu sono
Que se perfaz
Antes do meu corpo chegar
Sei que alimento meu ser
No teu amor
Puro
Na respiração calma
Que me faz
Retomar quem eu sou.
(Michelle Carvalho)
Certa vez eu escrevi: “A maior coragem de todas é dar valor às coisas simples quando muitos pensam que é valorizar as mais mirabolantes! Descortinar a vida para subir no palco da vivência!”.
Essa foi a deixa para muitas reflexões…
Escrevi isso quando o Tiago Leifert, jornalista e apresentador da Rede Globo, saiu de uma vida glamorosa de sucessos, projetos vitoriosos que se emendavam um ao outro, cada vez com mais brilhantismo e, disse ele, não estar nem vivendo as vitórias dele. Quando alguém elogiava seu trabalho naquele dia e dizia que ele tinha que comemorar, ele respondia que somente comemoraria quando acabasse no último dia do programa e, quando esse dia chegava, ele já estava emendando em um outro projeto sem tempo de comemorar o que chegava ao fim.
Vivia ele em uma roda de ansiedade sem fim, afastado da família, do crescimento da filha, da convivência com a esposa e com os pais há anos… E ele teve coragem de descortinar uma vida que o fazia viver mecanicamente em uma roda aleatória sem descanso da qual sequer olhava para os lados (mas era repleta de glamour e holofotes)! Desatando esse nó, ele subiu no palco da vivência natural, valorizando o dia a dia, o simples!
Daí bordei meus pensamentos e trouxe para o nosso cotidiano…
Quantas vezes estamos inteiros em um momento, degustando-o, vivendo-o, olhando o processo, o passo?
Quantas vezes não estamos plenamente em uma conversa, em um relacionamento porque os pensamentos incontáveis e acelerados nos fazem viver uma realidade paralela, uma rotina ambivalente e muitas vezes rarefeita, cheia de possibilidades das quais não vivemos plenamente nenhuma por querermos todas ao mesmo tempo?
Tantas vezes vivemos sem profundidade, desacostumamo-nos a sentir porque buscamos uma saída instantânea pra sanar o tanto de dor que temos dentro de nós. Vamos aos poucos incapacitando-nos de sentir, de nos reconhecer, vamos perdendo o que temos de mais profundo e vivemos no raso e na frivolidade.
Também nos perdemos quando doamo-nos além do que nossas energias e possibilidades permitem, quando deixamos que façam conosco o que bem querem e não damos limites, quando somos somente para o mundo, para fora, para os outros e desacostumamos a fazer caminho de retorno para dentro de nós, para o que gostamos… Perdemo-nos de nós e esquecemos o que desejamos e o que somos.
Sequestros de personalidade ou de emoções causam isso!
Permitimo-nos prender neste cárcere emocional no qual, sem nos darmos conta, a vida passa… E não volta!
Quem pode pagar o resgate do sequestro emocional? Alguém que lhe ajude, que lhe ame, mas, principalmente, VOCÊ MESMO, porque quando você é o seu próprio libertador do cárcere, dificilmente recai no mesmo problema, a realidade fica clara a seus olhos e sua couraça se enrijece para futuros golpes emocionais.
Em um mundo onde as pessoas estão desesperadas em demasia por estampar felicidade nas redes sociais, desejo a você a serenidade do retorno à essência, do retorno a si, da descoberta pueril de ser você mesmo.
Desejo-lhe a redescoberta de cada passo encantado de ser você, mesmo diante da loucura da vida que nos atribui a embriagues ensurdecedora de sermos pra fora, pro outro, pra encantar o outro ou seguir o molde que uma sociedade consumidora impõe, esquecendo-se dos desejos que tínhamos quando estávamos descobrindo a vida.
Retornar a si é o mais difícil, todavia é o mais apetitoso!
Desejo-lhe o sabor do primeiro sorvete que provou; o prazer de brincar na chuva e a alegria de gargalhar com os amigos vendo o pôr do sol…
Redescubra seu interior, suas necessidades e, passo a passo, reencontre o caminho de retorno para ser você mesmo sem estar preso a doações externas que lhe escravizam, sem estar acorrentado a quem sequestra sua personalidade e lhe faz perder-se de si ou viver encarcerado a uma vida teatral como todos esperam.
Seja espontâneo!
Como?
Sendo você!
Se não se recorda ou não se conhece mais, busque o caminho de dentro, o caminho do retorno!
Michelle Carvalho
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