Direitos e Deveres
O que te fere, te encarcera e te dói
Também dilacera o outro
E neste ciclo de empatia social
Temos o dever de não ferir
Para que tenhamos o direito de não sangrar…
(Michelle Carvalho)
Há alguns anos atrás vivíamos em uma sociedade que desde cedo nos impunha deveres, obrigações e parecíamos silenciados, impossibilitados de falar, responder ou sermos atuantes em nossas próprias vidas. Parecíamos assoberbados de deveres e obsoletos em direitos.
Vivemos em um país que tanto lutou por direitos e que mesmo os tendo conseguido e cravado-os em nossa Constituição e Legislação, ainda assim, não são cumpridos e necessitam de tantas regulamentações.
Tivemos direitos negados por séculos e conseguidos com muita luta e sangue de tantos que não se acovardaram, contudo, muitos mais precisam ser garantidos, afinal, a sociedade é modificada diariamente e com essa metamorfose diária, novas situações surgem e, juntamente com elas, a necessidade de regulamentação de direitos.
Não pensem que com isso esmagamos e jogamos fora a necessidade de termos deveres perante si, perante o outro, perante a sociedade e diante do mundo. Lógico que não! Os direitos andam lado a lado com os deveres, afinal, o direito de um termina quando começa o direito do outro, tudo isso pautado no respeito e no bom senso – o que parece estar totalmente esquecido, personalizado ou ultrajado nos dias de hoje.
Um país que tem pessoas que dizem que “tal Lei não colou” ou que tem como maior lei o “jeitinho brasileiro” deixa nítido que grita por direitos batendo no peito, mas joga no ralo os deveres que necessitam cumprir.
Claro que não podemos generalizar tal pensamento, contudo, a cada dia que passa vemos as pessoas avessas a deveres e obrigações. A mesma pessoa que se diz correta e incorruptível não retorna ao caixa do supermercado quando recebe o troco a maior; reclama da corrupção nos órgãos públicos, mas oferece um “cafezinho” ao guarda para não receber a multa, e se consegue tal “proeza” sai gargalhando porque é o “espertão” e os demais são “bobos”.
Diga aí quantas vezes você não ouviu uma história dessas?
Isso te revoltou ou você concordou com essas atitudes, afinal, “o mundo é dos espertos”?
Olha, uma vez eu ouvi “se o mundo é dos espertos como esses que passam perna nos outros e se vangloriam, o céu é dos bobos que vivem honesta e verdadeiramente!”.
Raramente ouvimos um honesto contando vantagem de uma honestidade, sabe por quê? Porque quem é realmente honesto não tem necessidade de contar o que faz, basta fazer e ser correto, ter a consciência limpa e seguir em frente colocando a cabeça no travesseiro em paz.
Agora, quem precisa muito gritar sua retidão, seus feitos, suas atitudes, provavelmente precisa se auto afirmar e se ouvir honesto, precisa de aplauso, de glória! Contudo, lembre-se: “De nada adianta palavras que falam, se as atitudes calam o que a boca inflamou em proferir!”
É difícil para muitos entender e aprender que os direitos estão sendo garantidos, que não temos de ser massacrados por deveres incabíveis! Quanto a outros, é necessário que compreendam que para que o equilíbrio exista, os direitos andam de mãos dadas aos deveres. Afinal, não só de direitos vive uma sociedade, mas sim, também de deveres para se equilibrar e conseguir subsistir pacificamente.
Trava-se uma luta diária para a mantença do equilíbrio social. Essa luta inicia-se dentro de cada um que grita cobrando a validação de seus direitos, mas que necessita olhar a aplicação de seus deveres.
Inconcebível pensarmos ou desejarmos atingir um futuro próspero se gritarmos por algo que diariamente defraudamos em relação ao próximo!
Michelle Carvalho
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