Série – Curiosidades Literárias – Cap.#11 – Crônica: “Graciliano Ramos e a multa dos porcos” – Renato Cardoso
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Série – Curiosidades Literárias – Cap.#10 – Crônica: “Graciliano Ramos e a multa dos porcos” – Renato Cardoso
Andar de ônibus realmente nos proporciona coisas que somente quem anda sabe. Você, leitor, que faz uso deste tipo de meio de transporte sabe disto! Não sei dirigir, porque não quis aprender e nem levo jeito para tal. Então, são quarenta anos de andanças de ônibus.
Trabalhava numa escola que ficava na periferia da minha cidade. O município sempre foi pobre, a periferia então… Era normal vermos bichos andando pelas ruas do bairro. Cavalos, porcos, além de cães e gatos, passeavam livremente.
Eu ficava imaginando se em 2022 era assim, como deveria ser em 1900? Ou era a mesma coisa ou muito pior, mas acredito não ter tido grandes mudanças, uma vez que o modo dos políticos nunca mudou. A maioria das cidades continuam largadas.
Um belo dia, depois de aplicar prova, estava saindo desta escola e fiquei observando, não muito de mim, um porco imenso chafurdando no lixo. A minha estranheza era pelo tamanho do animal, era imenso mesmo. Nunca tinha visto nenhum daquele tamanho.
As pessoas passavam e ninguém estranhava, pois era uma coisa corriqueira para elas. Do outro lado da rua, tinham outros, só que menores… Até o trânsito respeitava a presença dele, parecia que todos o conheciam, somente eu que não.
O ônibus veio (graças a Deus estava vazio), entrei e me sentei. Fiquei com a presença do porco na cabeça, não que me incomodava, mas queria saber se aquilo era permitido. Peguei meu celular, aproveitando que a viagem era longa, e fui dar uma olhada no Google.
Pesquisei e encontrei algo interessante, que não sabia e nem esperava. Graciliano Ramos tem uma história ligada a isso. O escritor da segunda fase modernista e autor dos clássicos “Vidas Secas”, “São Bernardo” e “Memórias de um cárcere” já foi prefeito de sua cidade.
O local em questão, Palmeira dos Índios, que fica no Estado de Alagoas. Antes de ser inserido na vida literária, Graciliano foi diretor de uma escola, o que o levou a ter popularidade e se tornar político. Mais precisamente em 1928 ele foi eleito prefeito da cidade.
Assim que começou a trabalhar, criou um código postural com 82 artigos. Precisava fazer aquilo valer, mesmo com a tentativa de clientelismo (o que no Brasil é comum, infelizmente), não deixando ninguém de fora das regras criadas.
Foi quando Graciliano Ramos, evitando o nepotismo (favorecimento a parentes por parte do poder público), viu que seu pai, Sebastião Ramos, estava criando porcos na rua e como um dos artigos proibia tal prática, mandou multar o pai. E assim foi feito…
Quem imaginaria que o autor de “Vidas Secas” tinha uma história relacionada a criação de porcos nas vias públicas?! Logo, ele que retrava a vida difícil dos retirantes nordestinos vítimas da seca, mas lei era lei e teria que ser cumprida por todos.
Depois de ler a história contada acima, terminei minha pesquisa e vi que este tipo de lei só pode ser criada pelo município (como fez Graciliano Ramos). Mas nem sei porque estava pesquisando isso.
No dia seguinte, o porco estava lá novamente e percebi que ele fazia parte do cenário urbano, assim como qualquer figura muito conhecida. Que nenhuma lei seja criada para tirá-lo de lá, afinal ele não faz mal a ninguém e é até simpático.
Graciliano exagerou um pouco, mas deve ter sido como exemplo e não pelos porquinhos…
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