Michelle Carvalho

Espelhos e rótulos

 

Ao olhar-se no espelho

Você vê seus rótulos

Ou sua face verdadeira?

 

Você realmente se conhece

Reconhece seu interior refletido para o mundo

Ou acredita que é o que cresceu ouvindo?

 

Em um mergulho sem proteção

Olhe-se

Enxergue-se

Não para agradar

Mas para aprender!

 

(Michelle Carvalho)

Não nascemos para agradar!

Parece forte essa frase, principalmente porque crescemos sendo educados para fazer isso ou aquilo de acordo com o que nos mandam, para agradar quem nos cerca e assim somos moldados não como realmente somos, mas como desejam que sejamos.

Lógico que muito temos a aprender sobre a vida desde que iniciamos nosso primeiro respirar neste mundo, mas nem por isso temos que ter apagados nossos desejos, nossa essência e nossas características íntimas.

Claro que não podemos, nem devemos seguir na vida tal qual “cavalo xucro”, mas ninguém consegue viver eternamente como “vaquinha de presépio” baixando a cabeça para tudo que lhe disserem ou mandarem fazer, caso assim faça, acabará por pensar que aquelas características e desejos (que nunca foram seus realmente) são tudo que você tem e o que você é, pois sequer terá a liberdade de se conhecer, fadado a seguir sendo o que lhe rotularam.

Quantos de nós temos um enorme potencial e vamos aceitando as migalhas que nos são dadas por pensarmos que não conseguiremos nada melhor? Vamos nos agarrando ao pouco que nos é fornecido para que tenhamos suprido um pouquinho de carência afetiva, não é mesmo?

Outros tantos, em um dado momento da vida ouvem de pessoas muito próximas, que os “conhecem” desde sempre, palavras que em nada descrevem quem realmente são, na verdade, descrevem uma forma antagônica de tal essência, tratam de forma subestimada, fútil, frívola, superficial o que na verdade não é, demonstrando que aquelas pessoas, que imaginávamos nos conhecerem profundamente, jamais nos olharam com olhar de ver, de conhecer… Decepcionamo-nos, mas também nos fortalecemos nas convicções de que não somos o que dizem pesarosamente de nós.

Assim descobrimos que não fomos vistos nem por quem nos olhava todos os dias, éramos olhados sob o molde do que desejavam ver, o que pode acontecer de forma reversa também, pois podemos estar tendo esse tipo de olhar agora mesmo sobre várias pessoas.

Crescemos moldados pelo que querem de nós, sem no fundo repararem no que sentimos, nos nossos medos, nossas angústias, falas, pedidos de socorro… Olham o que desejam de nós, e é essa visão moldada na mente alheia que se monta ao nosso redor, como um muro, uma couraça que muitas vezes sequer faz parte de nós, mas acreditamos também sermos exatamente aquilo, sem profundidade, fracos, com a capa emoldurada que nos colocam a vestir desde sempre.

Desta feita, caminhamos na insegurança, titubeando, inferiorizando nossas atitudes e mergulhando nesse bloco que enxergamos viver. Outros, com as mesmas características buscam uma psicologia reversa para esconder este trilhar, mesmo acreditando ser inferiores, montam uma blindagem espinhosa e agressiva para nunca transparecer o que lhes  foi embutido por anos.

Não acredite em couraças extremadas de inferioridade eterna, frivolidade intensa, agressividade diária ou gargalhadas infinitas sem momentos de reflexão. Todos nós temos altos e baixos, temos desejos, medos, dores, necessidades que não são ditadas pelos outros, mas sim por nós!

Para que saibamos que não somos o que nos fazem crer e acreditar que somos, necessitamos caminhar sinestesicamente para dentro de nós, rumo a experimentar sentimentos, comportamentos e visões internas diante das mais diversas situações, tal qual criança conhecendo o mundo, o seu mundo interno!

Esse caminhar não é fácil, é doloroso, e muitas vezes nos depararemos com várias partes de nós que acreditam fielmente no que nos encarceraram. O embate pode ser doloroso, mas é essencial para discernir o que nos pertence e o que é fictício enclausurado pelo outro dentro de nós.

Por isso, após essa reflexão, é importante sabermos que “Não nascemos prontos”, precisamos da ajuda alheia para formar a colcha de retalhos que é nossa vida, partilhando com quem nos cerca da melhor forma possível, com ética, discernimento, educação e amor, mas também é importante retomar a afirmação inicial de que “Não nascemos para agradar” porque não devemos nem podemos ser o que querem que sejamos somente para agradar e chegarmos ao ponto de acreditar que estamos reduzidos ao que pensam e falam de nós.

Michelle Carvalho

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Fonte da imagem em destaque: https://pixabay.com/pt/photos/c%c3%a2mara-cadeira-espelhos-5264172/

 

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Michelle Carvalho

Biografia: Advogada, Escritora desde os 13 anos, com participação em inúmeras antologias literárias e premiações no Rio de Janeiro e em São Paulo. Ganhadora do Premio Baixada de Literatura em 2014. Lançou 4 livros: “Furor Letárgico da Alma” (2009), “Versos de Princesa Prometida” (2015 – na 17ª Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro) e “Cindy Entre Patas e Reinos” (2018) e Cindy Entre Patas e Reinos 2 (2019 – 19ª Bienal Internacional do do Livro do Rio de Janeiro) , estes dois últimos projetos de leitura na Cidade das Artes/RJ, em várias escolas nacionais e internacionais. Além de diversas participações em projetos culturais literários em escolas com palestras motivacionais, intervenções literárias e poéticas em saraus, sendo o último deles o Programão Carioca da Rede Globo no ano de 2018, Participação na FLIM e FLISGO no ano de 2019, bem como posse na ACLAM – Academia de Ciências, Letras e Artes de Magé.

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