Série: Quarenta, é sério? – Cap.#01 – Crônica: “Um sonho” – Renato Cardoso

Série: Quarenta, é sério? – Cap.#01 – Crônica: “Um sonho” – Renato Cardoso

Eu sempre achei os sonhos uma parte significativa da vida do ser humano. Dizem que sonhamos todos os dias, mas que nem sempre nos lembramos. Freud, em suas pesquisas que originaram a Psicanálise, os estudou profundamente, levando-os a registros que nos dão base, até hoje, a interpreta-los.

Esse ano, eu completo 40 anos e decidi contar algumas histórias que acho interessante. Não seguirei de forma cronológica, nem de importância. Simplesmente as contarei. Acredito que todos deveriam registar, de alguma forma, seus pensamentos, sonhos e histórias.

Voltando aos sonhos… Não sou muito de me lembrar dos que tenho, os poucos que consigo são sempre muito significativos, e desta vez não foi diferente.

Ano passado (2021), depois de um ano trabalhando integralmente em home office, recebi a notícia que deveríamos voltar ao presencial (não com todos os alunos, pois haveria um revezamento entre eles).

Confesso que fiquei assustado, afinal estávamos (e ainda estamos) em uma pandemia. Naquela época, a televisão noticiava mais de 3 mil mortes diárias ocasionadas pela Covid-19.

Reuniões aconteceram entre o final de janeiro e início de fevereiro, explicando como tudo ocorreria. Uma readaptação teria que ser feita. Não estávamos acostumados com os dois sistemas ao mesmo tempo. Até então ou era on-line ou presencial.

O primeiro dia de retorno chegou. Estava ansioso, parecia que nunca havia dado aula. O sinal bateu, entrei numa turma de terceiro ano. Parte estava comigo e outra parte em casa. O protocolo foi seguido. Álcool em gel, máscara e face shield, e lá fui eu.

Fevereiro passou sem problemas aparentes. As notícias chegavam e víamos que, o que antes estava distante, agora começava a afetar aqueles próximos a nós. Rostos conhecidos estavam se contaminado.

O recesso para o Carnaval chegou. Uma certa tranquilidade bateu à porta, afinal teríamos 10 dias de descanso. As vacinas estavam sendo autorizadas, mas ainda não aplicadas.

Uma bela noite, depois de passar pela TV e ver reprises dos desfiles (nunca gostei da folia de Carnaval, mas sempre gostei dos desfiles, sempre os via junto a minha avó) fui dormir.

Naquela noite eu sonhei e foi intenso. Sonhei que estava num determinado local, que até hoje não consigo identificar. Haviam várias pessoas juntas a mim. Um homem se aproximava e me dizia bem baixinho, entregando um papel, “deu positivo”.

O papel parecia uma folha rasgada, o resultado estava escrito em letras maiúsculas. Ao mesmo tempo que era me dado o resultado, me era dito para ficar tranquilo, pois tudo daria certo.

Acordei. Estava assustado e suado. Logo pensei que estava impressionado com tudo que assistia na TV ou com medo por ter voltado ao sistema presencial. Não sabia o que me esperava…

O Carnaval acabou e voltamos ao trabalho. Logo depois da primeira semana, comecei a sentir o corpo febril e uma tosse insistente. Não queria acreditar na possibilidade, preferia me iludir achando que não era nada demais.

Os sintomas começaram e em pouco mais de 4 dias estava com febre de quase 39ºC. A ficha começou a cair quando, em uma noite, cheguei da faculdade e não conseguia nem abrir os olhos. Avisei imediatamente a todos os meus superiores nas escolas onde trabalhava.

Lembro-me como se fosse hoje. Numa quarta pela manhã, fui ao laboratório e fiz o PCR. Voltei para casa rezando para que desse negativo. No final da tarde, o resultado saiu e estava escrito DETECTADO, ou seja, positivo.

A partir daí, toda uma saga se iniciava, o sonho se concretizou, mas estava confiante, pois nele me falavam para ficar tranquilo. O restante será contado nas próximas crônicas.

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