Luis Amorim

Flor valiosa

Flor valiosa

I
A flor era valiosa
Por tão maravilhosa
Ser sempre conferida
Por quem a tinha preferida
Sobre outras mais
Que até pareciam iguais.
Obviamente que eram distintas
Para quem era perito
Em fazer profunda análise
Com todo o requisito
Perante quem lhe disse
Faltarem as correctas tintas
Para serem ludibriados
Os que iriam agitados
Em busca da autêntica
Flor, sem outra idêntica
Como a preciosidade
De maior originalidade.
Tudo ficou resolvido
E melhor fingido
Para que a riqueza
Em flor sem comparação
Possível de se ter como visão
Tivesse eficaz defesa
Quando ficasse isolada
Apenas acompanhada
Por flores em demasia
Para a esperada confusão
Em quem iria na função
De lhe dar subtracção
No tão aguardado dia
Não como ocasião desejada
Mas sim numa incidência
Que teria inevitável cedência
Por ser evidência
Que não poderia ser evitada.

II
O tal dia chegou
E tanta flor, baralhou
Quem ia em missão
De localizar a tal
Preciosa sem igual.
Levava mapa do recinto
E manual atado ao cinto
Para estar à mão
Quando precisasse de lição
Ou esclarecimento
Para o dado momento.
Foi necessária instrução
Para avançar no salão
Onde as flores controlavam
Quem as rondavam
Procurando a genuína
Como flor tão fina
E elegante, com a discrição
Adequada à situação.
O manual foi solicitado
Mas vinha bem fechado
E não foi consultado
Com a rapidez ansiada
Havendo uma floreal troca
De posições imediata
Que foi uma bela troca
Nos sentidos confundidos
Dos sujeitos nada esclarecidos
Pois o manual era antigo
E não foi real amigo
Ao não ajudar os perdidos
Que viram tanta flor
Mas estavam sem preparação
Para demasiada cor
A servir de protecção
Em todas elas
Como resguardadas em celas
De alta segurança
Sempre em desconfiança
Pelo par visitante
Que se chegou mais adiante
Com truque em novidade
Que as deixou em perplexidade
Sobre o que iria suceder
Não sem antes rever
Em suas anotações
Como par em confusões
Sobre a melhor direcção
Para fazer remoção
De tinta inesperada
Que não estava apontada
Como possibilidade
Nas instruções trazidas
Sem grande habilidade
E já com feridas
Por deficiente utilização
Dos utensílios em aplicação.

III
As flores bocejaram
E rapidamente acertaram
Nova mexida
Que passou despercebida
Enquanto outros conferiam
E até riam
Perante o que viam
No monitor de vídeo
Ligado por um fio
A outro equipamento
Que permitia a contento
O baralhar certeiro
Das flores em seu canteiro
Enquanto a equipa atarantada
Tinha de fazer substituição
De pilha em lanterna
Outra situação externa
À anterior planificação.

IV
«Mas que filme em exibição!»
Pensou ela numa exclamação
Que apesar de interior
Foi notada por quem, ao redor
A envolvia na escuridão
Do cinema ao ar livre
Com o par na tela
A dizer: «Deus nos livre!»
Fugindo pela janela
Antes que a agente
Chegasse lá acima
Armada da cintura para cima
Conforme tinha avisado
O colega então posicionado
Lá em baixo como indiferente
Compadre que sumiu
Para salvar sua pele
Pois perigo pressentiu
Bem perto dele.

V
As flores sossegaram
E contentes ficaram
Por ganharem tranquilidade
Em seu espaço de verdade
Enquanto os que tinham
Vídeo e diversões
Nas citadas manipulações
Que os entretinham
Naturalmente sabiam
Que o filme terminaria
Dali a instantes
Enquanto a gente ainda ria
E a agente já subia
Em passos vigorantes
Até ao nobre salão
Das flores em exposição
No museu que foi cenário
Do final em filmagem
Que teve sua imagem
Como desenlace necessário
Na tela observada
Pela multidão agrupada
Em recinto improvisado
Mas bem equipado
Com a melhor organização
Que foi possível
Ter em bom nível
Naquele longo serão.

VI
A visita ao museu
Em grupo, continuava
E a turma percebeu
Que depois da sessão
Haveria outro salão
Onde se encontrava
Tanta flor arrumada
Em cristal espelhada
Ou porcelana admirada
Faltando ser avistada
Mais de perto pela maravilhada
Turma, em aula identificada
Como de visita em estudo
Com um enriquecedor conteúdo.

VII
A professora acorda
Sua aluna predilecta
Sem evitar que morda
O lábio inferior
Como jovem sobressaltada
Que saiu de anterior
Introspecção anotada
Pela idosa senhora
Fitando sua neta
Que lhe diz agora
Ter estado a sonhar
No seu vagar
Durante a aula do dia
Com enredo de fantasia.

Fonte da imagem: Foto do Autor

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Luís Amorim

Luís Amorim, natural de Oeiras, Portugal, escreve poesia e prosa desde 2005. Tem já escritas cerca de 2800 histórias com 106 livros de ficção publicados, entre os quais, um primeiro em inglês, "Cinema I", onde responde por 28 heterónimos (em prosa e poesia). Dos livros em prosa, tem vinte e oito da série “Contos”, “Terra Ausente”, “A Chegada do Papa” e dois livros de “Pensamentos”. Na poesia, igualmente diversas séries de livros têm alguns volumes, como “Mulheres”, “Tele-visões”, “Almas”, “Sombras”, “Sonhos”, “Fantasias”, “Senhoras” e o herói juvenil “Esquilo-branco”. Todos estas obras de poesia citadas, integram os designados contos poéticos, assim identificados pelo autor, aos quais se acrescentam “Lendas”, “Campeões”, “Músicas”, “Turismo”, “Palavras”, "Flores", “27 Flores”, “Todas as Flores” e mais outros sete do universo “Flores”, onde este elemento surge em todos os enredos, como por exemplo “A ceia do bispo e outros contos poéticos”. A escrita também foi posta em narrativas poéticas, “Beatriz” (inspirada na personagem de "A Divina Comédia" de Dante Alighieri), “Paz”, “O Viajante”, “O Sino”, “A Sereia” e “O Mapa”, este com 3016 versos. Ainda a registar em poesia, “Refrões”, “Sonetos”, “Trovas” e quatro volumes de “Canções”. Dois livros foram publicados segunda vez, então com ilustrações de Paulo Pinto (“Almas”) e Liliana Maia (“Fantasias”). Luís Amorim foi seleccionado por 312 vezes com contos e poemas seus em concursos literários para antologias em livros, revistas e jornais em Portugal, Brasil, Suíça, Colômbia, EUA, Inglaterra e Bangladesh. É colunista da revista “Entre Poetas & Poesias” a partir de 2022 e integrante desde 2021 do Coletivo “Maldohorror”, onde histórias suas são publicadas em ambos os sítios, com regularidade. Tem igualmente publicados 32 livros de Desporto (Automobilismo, Hipismo, Futebol, Vela, Motociclismo) e 4 de Fotografia, o que somando aos 106 de ficção, perfaz um total de 142 livros publicados.

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