NOITES DO RETIRO
Imagem de PublicDomainPictures por Pixabay
Noite dos bichos
Dos bichos da noite
Noites do Retiro
Sempre de açoite
Açoite do vento forte
Da bala que traz a morte
Mandada pela vingança
Àquele que ofendeu
Da faca que risca o chão
Fazendo subir fagulhas
De ardida ignição
Pro ódio que move a mão
A mão que retalha e fura
Do ronco das motos brutas
Que fazem tremer o chão
Das pedras do calçamento
Que, à noite, também despertam
Batendo na minha porta.
Noite dos cães vadios
Que mijam no meio-fio
Selando um território
Que outros marcaram antes
Das gatas que estão no cio
Puxando, em fila, o cortejo,
Dos gatos pardos que miam
Em cima do meu telhado
Do rato, ladrão que chia,
Correndo em ripas e caibros,
Astuto malabarista
Nas tramas do meu telhado
Noite das mariposas
Que rondam lúbricas chamas
Dançando em serpenteios
De fumo que obnubila
Das almas, que delatoras,
No escuro da meia-noite,
Relatam penas de outras,
Chamando-lhes para o pau
O pau da verdade crua
Da porra que canta loas
Nas carnes do adversário
Calando-lhe a boca rôta
Noite dos bichos
Dos bichos da noite
Noites do Retiro
Sempre de açoite