Mais diálogo e menos ruídos
Feridos, retalhados
Submersos em nossas lutas
Silenciamos gritos e dores
Temores e dissabores
As dores engolidas extrapolam
Aterrorizam e transformam
Por meio de subterfúgios
O rancor guardado por tempos
Eclode, explode, expande
Indiscriminadamente
Pelas telas
Em palavras ainda mais horrendas
Do que as de outrora sufocadas…
A falha ao ouvir
Faz gritar dores guturais
Impedindo o diálogo
Com apavorantes ruídos
Que matam…
(Michelle Carvalho)
Hoje a vida virtual se tornou mais comum do que imaginávamos e quando nos encontramos muitas vezes nos sentimos estranhos depois de tanto tempo lidando somente com telas!
Os relacionamentos parecem estar à flor da pele nos quais um simples olhar dá margem a interpretações negativas, uma palavra é tida como punhal mesmo quando sequer tem ligação com maldade.
As palavras escritas são lidas com a entonação que o receptor imagina e não com a veracidade que foram ditas pelo interlocutor, tudo isso perpassando pelo humor de cada um.
As pessoas parecem estar extremamente frágeis e atacam a qualquer sombra de perigo, tudo isso pra demonstrar força, demonstrar o que internamente não tem há tempos.
Todos nós estamos passando por momentos difíceis, seja pelo isolamento social, pela carência, pela estafa, pela perda da liberdade, perda de quem amamos, pela indignação, pela falta de empatia, falta de caridade… São muitas faltas, muitos buracos, muitas carências que precisam ser preenchidas com amor e não com guerras e ódio.
Sinto como se as pessoas estivessem “espinhentas” e que ferissem quem chega perto indiscriminadamente.
Mesmo depois de tudo que estamos vivendo, onde o aprendizado deveria acontecer nos corações, nas atitudes e nas falas, parece que as espadas estão empunhadas para a guerra.
Sempre sonhei com um mundo melhor, e nesta nova e ainda mais dura realidade queria que as pessoas tivessem se renovado da mesquinhez e fizessem de si e do mundo um lugar onde a equidade predominasse, onde houvesse empatia, justiça e paz.
Onde os assuntos importantes fossem tratados com a devida relevância e sem subterfúgios.
Onde não precisássemos ser rasos por medo de ferir algum lugar de dor de alguém ou não fossemos os anunciadores de “verdades absolutas” que não são de todos.
Queria ver os pratos da balança em equilíbrio com respeito entre mentes calmas e mentes gritantes.
Desejo que a alegria da simplicidade seja real e não tida como algum tipo de absurdo ou afronta.
Que o perdão seja tido como evolução do coração e não visto como falsidade por quem imagina que perdoar é impossível.
Que um olhar não tivesse outra interpretação que não fosse o ver.
Que um elogio a um amigo, a um parente ou a qualquer pessoa não fosse recebido como uma afronta.
Neste momento em que a atitude inconsciente do outro venha a nos ferir, que saibamos agir com uma resposta de caridade, conversando, pontuando, mas sem agressões e violências.
Se o ponto crucial é combater as injustiças que foram e são realizadas, combata-as com atitudes reformuladas e não violentas.
Todos estão repletos de histórias e fragilidades. Mesmo conhecendo as pessoas e até mesmo tendo intimidade, não temos passe livre para futucar feridas, muito pelo contrário, devemos nos pautar no saber destas dores para não ataca-las com palavras desnecessárias.
Saibamos que também podemos estar tocando em um local de dor aparentemente desconhecido para quem fala e nem por isso o interlocutor deve ser enxovalhado por seu desconhecimento. Não somos obrigados a conhecer tudo que se passa dentro do receptor de nossas palavras, não sabemos tudo que se passa dentro das pessoas, principalmente suas dores e conflitos.
Estamos adoecendo por falar demais ou calar demais! Em ambos os casos não estamos falando o suficiente para sermos ouvidos.
Conversemos sem ridicularização, sem humilhação, com falas seguras e saudáveis!
Dialoguemos acima de tudo, porque de violência e medo já basta o mundo que nos sufoca!
Michelle Carvalho
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