Recrutando Millennials?
Fiz um processo seletivo há algumas semanas ( ou não sei se foi um sonho, ou pesadelo, que eu tive…), e numa das entrevistas, a jovem candidata veio com um currículo impresso onde constavam conhecimentos de inglês intermediário, pacote office avançado, disponibilidade de horário, cursando faculdade no quarto período e morando praticamente ao lado da empresa.
Perguntei:
-Bem, aqui no seu cv ( “cv” é uma abreviação para curriculum vitae ) você diz que tem conhecimento intermediário em inglês. Posso fazer uma ou duas perguntas em inglês?
-Ah, prefiro que não. Faz muito tempo que não pratico – Respondeu a jovem.
-Bem, posso dar então um texto em inglês para você tentar traduzir ou pelo menos pedir para você escrever uma frase em inglês?
-Sabe o que é? É que eu coloquei Inglês aí mas meu currículo tá desatualizado, sabe? Eu fiz inglês no curso… (não lembro o nome) e lá não ensinou muito bem, e não pratico muito…
Olhei diretamente para os olhos da candidata com sentimentos de compaixão, dúvida, dor e incerteza sobre se eu deveria continuar falando a respeito dos conhecimentos dela. Pensei rapidamente sobre minha função como formador. E depois de fornecer um breve e respeitoso feedback sobre esse assunto, com conselhos paternais sobre como se preparar para uma entrevista de emprego, continuei:
-Muito bem, eu vou precisar que você crie umas planilhas no Excel e monte alguns documentos no word pra mim. Pode ser?
-Olha, posso sim, mas eu mexo mais na internet. Redes sociais, sabe? Esses “programa” assim eu só usava na empresa “quieu” trabalhava antes e desde quando “me mandaram embora” não mexi mais nisso. Queria até fazer um curso, mas ando sem tempo e dinheiro. Mas é isso, né…( risadas leves ) se eu conseguir essa vaga aqui eu entro num curso, porque aí vou ter dinheiro pra pagar… Então só depende do senhor pra eu voltar a estudar! – Declarou convicta, olhando pra cima e levemente para os lados com as mãos cerradas, unidas sobre as mesa.
-Você tem internet em casa? – Perguntei meio que com medo da resposta..
-Claro! “Ai” da minha mãe se tirar o wifi…
-Ok. Você não chegou a pensar na possibilidade de praticar em tutoriais grátis na internet?
-Ah, não, não gosto! Eu vejo vídeos no youtube, sabe, mas é só aqueles videos que todo mundo assiste. Pra estudar tem que ser com alguém me falando ao vivo – Discursou trocando de pose, franzindo a testa e num tom pseudopedagógico…
-Ok. Bem, pelo menos vejo aqui que você tem disponibilidade de horário. Certo?
-Claro – Respondeu hesitante.
-Algum problema?
-Não, não. Mas pega que horas? Eu preferiria o horário da tarde, porque o melhor horário da academia é bem cedo, sabe?
-Bem, mas você mora pertinho, né? Acho que dá pra sair da academia e vir pra cá, até a pé…
-Ah, não sei. Já vou estar cansada das séries, sabe? Acho que a empresa tem que entender…Se eu tenho direito, eu vou querer minha passagem… Eu aprendi na faculdade que a empresa precisa entender o lado do funcionário. Qualidade de vida, sabe?
-Entendi. Mas aproveitando que estamos falando do seu currículo, você colocou aqui que é pontual, dedicada, tem habilidades interpessoais e sabe trabalhar em equipe. É isso mesmo?
-Sim, mas já falo logo que sou muito sincera. E aviso logo que o meu maior defeito é ser perfeccionista.
A entrevista durou mais alguns minutos. O resto faz parte de confidenciabilidade profissional. Ou talvez tenha terminado o tal sonho. Ou pesadelo…
Será que esse é um bom exemplo da geração Millennials ou sempre aconteceu desde quando o mundo é mundo?
Imagem de Trudi Nichols por Pixabay