LER OU NÃO LER, EIS A QUESTÃO

Não gostaria que este texto tivesse uma conotação partidária, pois não é esta a finalidade, apesar de defender uma posição, ter uma opinião e, portanto, tomar um partido sim.
A questão da educação é algo complexo e que envolve toda a nação. Iremos encontrar problemas dos mais variados em municípios próximos a grandes capitais como em pequenas aldeias lá nas extremidades do país. Por isso, escolhi falar desse problema utilizando a cidade de São Gonçalo, um município metropolitano do Rio de Janeiro, que não foge à regra como muitos por esse chão.
Dessa forma, este não é um problema relacionado ao partido A ou B, nem a este ou aquele político, verdadeiramente, novamente, não se propõe a isto este texto.
São Gonçalo é uma cidade com mais de um milhão de habitantes, com muitos problemas de transporte, saúde, educação, violência e uma renda per capta que dificulta sua gestão. Porém, uma pergunta que remonta os dias atuais é, até onde de fato existem interesses que querem mudar essa situação.
O desenvolvimento do hábito de leitura numa sociedade está intrinsicamente atrelado a iniciativas públicas que produzem um ambiente cultural que promoverá uma cadeia de gerações que se auto fomentará. É a história do “de pai para filho”. Uma cidade com mais de um milhão de habitantes que tem uma única biblioteca pública, e que entre os assuntos ao longo dos anos nos noticiários não tem em evidência essa questão, deve-se ter sim um olhar de suspeita quanto a se ter ou não esse tema como relevante para este povo.
A cidade de Curitiba possui uma população de aproximadamente 1.773,718 habitantes, a capital paranaense é a campeã em número de bibliotecas públicas por 100 mil habitantes entre todas as capitais do país, com índice de 4,34. Possui uma grande vantagem com relação ao segundo colocado: Rio Branco, capital do Acre, que tem índice de 2,6 bibliotecas para cada grupo de cem mil habitantes, uma diferença de 66,9%. Um levantamento, feito com base no Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), do Ministério da Cultura, revela que existem 83 bibliotecas públicas municipais, estaduais e federais em Curitiba. Desde 2015, quando a cidade contava com 55 instituições desse tipo, o número cresceu 50,9%, segundo notícia do portal Bem Paraná de outubro de 2017. Dessas instituições, a maioria (81,9%) pertencem à esfera municipal, com especial destaque às 13 Casas de Leitura mantidas pela Fundação Cultural e que fazem parte do programa Curitiba Lê, cujo acervo se diferencia das demais bibliotecas por terem uma preocupação social em mudar o quadro de interesse em leitura da população por meio de ações específicas.
A citação de Curitiba não é um mero acaso, é para mostrar que gestões interessadas em mudar o perfil dos habitantes de uma cidade passa pela implantação de políticas que promovam o estímulo, neste caso, a leitura. É claro que podemos discutir os impactos no ambiente social promovidos por este hábito, por exemplo, a cidade paranaense, segundo dados do Atlas da Violência de 2019, teve uma redução de 34% no número de homicídios em relação aos últimos dez anos. Óbvio que muitos aspectos estão envolvidos na redução destes números, e com certeza as políticas voltadas para a produção de leitores também, são as gestões interessadas em produzir uma população compromissada com um comportamento civilizatório.
Os dados observados do Atlas da Violência para a cidade de São Gonçalo datam de 2021, três anos atrás, ou seja, não faz tanto tempo, e segundo a plataforma digital Instituto Fogo Cruzado, a cidade neste ano foi considerada a mais violenta do Estado. Muitos aspectos envolvem esses números, claro, porém, sem nenhuma dúvida a falta de compromisso histórico com o investimento na qualidade do seu cidadão, políticas que não priorizam a educação e muito menos fomentem a prática da leitura não podem deixar de ser considerados.
Historicamente a política do curral eleitoral e do coronelismo sempre esteve estruturalmente no bojo da forma como se pensa as administrações públicas em terras tupiniquins, e se olharmos de forma crítica para isso, iremos notar as semelhanças, um povo com índices educacionais altos e com hábitos de leitura certamente terá um senso crítico mais apurado e isso incorrerá em empecilho para muitos projetos pessoais.
Enfim, São Gonçalo é uma alegoria usada para que façamos uma reflexão sobre a necessidade de políticas que promovam o hábito de ler, infelizmente como muitas outras cidades Brasil afora. Como vivemos num regime que nos permite escolher os gestores, então, façamos nossas escolhas de acordo com projetos que nos melhore como cidadãos, simples assim.

Link da foto: autoral

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