TRADUÇÃO E POESIA

TRADUÇÃO E POESIA

Por Elias Antunes

A frase por demais conhecida: “tradutor/traidor” encaixa-se de forma cabal na poesia. Ao transpor um poema para outro idioma pode-se perder algo no processo. Isso ocorre, principalmente, em se tratando de poemas tradicionais, os quais apresentam métrica e rima.

Ao trabalhar com a tradução de poesia, começa-se, em primeiro lugar, com as comparações e com outras traduções.

Até um poeta genial como Jorge Luis Borges iria tomar o caminho da reconstrução, mas deve-se buscar uma certa fidelidade, ou melhor, cumplicidade com o poema original.

Se algo deve ser sacrificado na tradução, prefiro ser fiel à ideia e não à musicalidade. Já li algumas traduções que optaram pela rima e a música e resultaram em verdadeiros desastres: perdem a ideia, o enunciado e a música termina não sendo o melhor a se dizer.

Exemplo disso está nas traduções de “O Cemitério marinho”, de Paul Valéry. Algumas traduções colocaram o excelente poeta francês comparado a um poeta popular, pobre de ideias e de música capenga.

Isso deve ocorrer da pior forma com a retradução de línguas distantes da realidade do idioma de chegada.

Como traduzir uma frase com um adágio que traz musicalidade e ideias interessantes? Dificilmente conseguiria reunir tudo isso em uma tradução e, ainda por cima, procurar manter o tamanho do poema, a disposição dos versos.

Não é por isso, todavia, que não se deve traduzir o poema. A tradução é um grande exercício de criação e ninguém (ou poucos) poderão ser poetas na mais profunda acepção do termo, sem fazer traduções de poemas, reencarnando a poesia com a roupagem de outro idioma.

 

Fonte da imagem: Foto do autor.

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