Série: Quarenta, é sério? – Cap.#07 – Crônica: “Um novo amigo” – Renato Cardoso

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Série: Quarenta, é sério? – Cap.#07 – Crônica: “Um novo amigo” – Renato Cardoso

Voltando ao hospital, a enfermeira chegou com a ceia e com os remédios para madrugada, que foram aplicados no soro. O lanche era um tipo de mingau, muito bom. Lanchamos, eu e seu Carlos. Ainda estava um pouco impressionado com a visita inusitada. Fiquei quieto, reflexivo.

Seu Carlos também estava na dele, pouco falou durante o lanche. Estava tarde e ele tinha acabado de chegar à enfermaria, onde eu já me encontrava. Ele substituiu Edmilson, que havia ido embora para casa à tarde. Aquelas foram as primeiras horas que tivemos de contato, mas sabia que ainda teríamos muito tempo para conversar.

A enfermeira voltou com Clonazepan em gotas para que eu pudesse, finalmente, depois de dias, dormir. Tomei a medicação e em poucos minutos, adormeci. Um sono profundo e reparador. Era, de fato, a primeira noite que dormia no hospital (a noite anterior foi a que eu fui internado). Já contava sete dias depois do exame positivo e como já mencionara, não dormia mais que 2 ou 3 horas por noite.

O dia clareou. Era por volta das 6 da manhã, quando acordei com a movimentação da equipe de enfermagem. Elas precisavam nos medicar e nos trazer o café da manhã, pois às sete era a troca de turno. Sentei na cama, dei bom dia a Seu Carlos, que prontamente me respondeu, junto a um sorriso sincero e contagiante. O café nos foi servido.

Comemos em silêncio. As enfermeiras perguntaram se estávamos bem, se a noite tinha sido tranquila. Uma delas brincou comigo, dizendo que tinha dormido pesado, pois até roncado eu tinha. Uma outra chegou e me aplicou injeção na barriga para evitar trombose, além de retirar sangue para exames.

Rotina feita. Puxei assunto com o meu novo amigo de enfermaria. Apresentei-me para ele. Disse meu nome e quem eu era. Perguntara a ele como ele foi parar ali. E contei para ele minha saga até aquele momento. Seu Carlos era um senhor simples, mas muito carismático. Gostava de conversar. Encontrei o companheiro certo, afinal falar era uma das minhas características.

Seu Carlos me disse que já estava internado há 8 dias e que estava em outra ala do hospital (acredito que ele foi transferido, assim como Edmilson, para a enfermaria onde estava para que eu não ficasse sozinho). Ele continuou falando dizendo que era morador do bairro do Jockey e que era casado.

Ele me perguntou qual era minha profissão, disse que era professor. Ele me disse que trabalhava na portaria de um edifício. Começamos a conversar sobre outros projetos que fazia aqui fora. Falei para ele que gostava de escrever, e ele disse que tinha uma netinha que também gostava de escrever e ler.

Falava dela com orgulho de avô coruja. No meio da conversa, a enfermeira e o técnico, que ficariam conosco naquele dia, entraram e se apresentaram para gente. Estava chegando a hora do banho. Seu Carlos prontamente se levantou foi tomar o banho dele.

Fiquei sozinho no quarto até ele retornar. O fisioterapeuta chegou para nos ver e decidir se eu conseguiria tomar banho sozinho no chuveiro (essa parte vou contar no próximo capítulo).

Ao longo da manhã, conversamos muito sobre o passado do município e como era melhor viver nas décadas anteriores. Ele disse que era pai e me perguntou se eu também era. Disse a ele que era casado e pai de duas meninas. Falamos um pouco sobre os filhos, sobre a vida e principalmente sobre o que faríamos quando tivéssemos alta.

Seu Carlos foi ganhando minha admiração. Ele era sempre otimista e alto astral. Ele me disse que usava as redes sociais e gostava de postar fotos e vídeos. Prometi que assim que saísse o adicionaria no Facebook e no Instagram. E assim o fiz.

Quando o fisioterapeuta me passou os exercícios para fazer, ele me incentivou e fez os mesmos comigo. Sempre me falava que faltava pouco para eu ir embora. Víamos pessoas indo e escutávamos a comemoração dos familiares na recepção do hospital.

Depois que tive alta, a primeira coisa que fiz, quando cheguei em casa, foi procurá-lo nas redes. Torci, a cada momento, para receber a notificação que ele havia me aceitado, assim eu teria certeza de que ele tinha recebido alta, estava em casa e bem.

Três depois da minha alta, a notificação chegou. Finalmente Seu Carlos estava em casa. Percebi que, nas redes sociais, a cada vídeo que postava ele sempre encerrava com uma frase, que aumentou ainda mais minha admiração por ele. Ele sempre fala: “Viva o amor, viva a vida”.

Hoje, toda vez que vejo uma postagem dele, lembro-me que nós dois fomos vencedores e compartilhamos momentos importantes e de superação. Que ele sempre comemore o amor e a vida. Seu Carlos ainda terá outros instantes neste livro.

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