Engolindo dores
Engolindo amores
Engolindo medos e temores
Vivências e horrores
Externando flores
Externando sorrisos
Externando amores
Olhares e sabores
Entre um e outro
Na intercessão dicotômica
Reina o belo
Reina o amor
Que faz pesar e entender
Na balança da vida
A leveza sublime e suprema
Que o amor traz!
(Michelle Carvalho)
Durante semanas pensei no que escrever hoje.
Foi praticamente uma submersão em um bloqueio literário que nunca pensei viver, mas impossível passar por tudo que estamos vivendo e continuar criando e pensando como antigamente.
Tudo é novo, tudo está em ebulição, em transformação no mundo, na ciência, na sociedade e consequentemente dentro de nós.
Em meio a este turbilhão de informações que se aglomeram em nossas mentes, eu via a minha bloqueada para a escrita que tanto me conforta e me faz viva!
Sentei por inúmeras vezes em frente ao computador e nenhuma palavra fluía… folha em branco…
Até que ao ler um livro me veio o toque inspirador juntando as coisas que pra mim são essenciais: amor e escrita…
Ao permear as linhas daquelas páginas li algo muito significativo que dizia somente para escrever, fosse o que fosse, uma carta, um diário, qualquer coisa, mas que eu escrevesse… parecia um chamado que foi deglutido e aqui estou para falar de amor em um momento tão dolorido da sociedade, mas que abre brecha para a data em que sempre é celebrado com romantismo.
Seja com uma rosa vermelha, um coração de cartolina ou com sonhos de menina eu sempre fui encantada por este momento do ano.
Esperava ansiosa pelo dia em que teria um namorado para passear de mãos dadas, para sentar no banco da praça, comer pipoca e sorrir até as bochechas doerem de encantamento.
Pensava em como seria meu primeiro beijo, o pedido de namoro, seria com flores e bombons?
No entanto, o que permeava mesmo meus pensamentos era o olhar que meu namorado teria sobre mim, seria um olhar terno, porém com uma pitada de malícia? Seria galanteador? Seria um olhar em brasa de paixão?
No fundo eu queria que aquele olhar me aceitasse e me visse como minha alma é, um olhar sem julgamento sobre meus cabelos, sobre meus quilinhos a mais, sobre minha pele imperfeita, sobre minhas unhas nem sempre feitas, sobre minha gargalhada alta, sobre minhas caretas desconcertadas e meu choro em comercial de tv…
Esse olhar foi chegando com o tempo, com o passar dos anos, com o desabrochar dos sentidos através da vida!
Esse olhar teve que ser cultivado em mim porque por mais flores e declarações que me viessem, eu estava refém dos olhares que me julgavam internamente e exteriorizava bloqueios que me continham de ser feliz com qualquer namorado que se encantasse pelo que eu não enxergava.
A couraça foi se rompendo e quando me olhei e me acolhi imperfeita, mesmo na busca da perfeição, não mais esperei do mundo o que eu já tinha identificado de bom dentro do meu coração, o mundo me surpreendeu…
Despretensiosamente encontrei, não só aquele que me encanta, todavia aquele que me aceita, me respeita, ri do meu riso e me olha com o olhar que vai muito além das imperfeições, com o olhar que me entende, admira e que a cada dia me faz ser melhor…
Com o passar dos anos entendi cada dia mais que não devemos aceitar menos do que amor, não podemos viver em cárceres emocionais vindos de outrem ou de nós mesmas, nem mesmo vivermos enclausuradas em relacionamentos permeados por medo ou violência emocional e psicológica.
A felicidade vem de dentro, a vida vem de dentro e o amor também!
Quando nos vemos como somos e não como nos moldaram para ver, quando a lente de aumento é voltada sobre os pontos importantes e não sobre os que nos incutem, descobrimo-nos radiantes de beleza que encanta todos os olhares, mas o primeiro a ser encantado é o nosso!
Michelle Carvalho
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Fonte:
Imagem destacada: Acervo pessoal da autora – Fotografia: Alexia Leal
