Unicamente
Muitas vezes no inicio do sono
Penumbra entre acordada e já dormindo
Pareço olhar-me desconcertada
Eu distante de mim
Escondida na coxia de um teatro
Enquanto me olho brilhar entre holofotes
Roupas brilhantes e aplausos…
É como se eu mesma não acreditasse
Como se tivesse medo
E ao mesmo tempo orgulho
Em uma emoção dupla
Admiro o que vejo… desacreditada
Mas com esperança
De que um dia
Não olharei de longe…
Terei coragem de invadir o palco da vida
Alegre, sendo eu mesma…
Unicamente!
(Michelle Carvalho)
Sabe aquele sentimento de não merecer estar numa posição de destaque ou ter sucesso?
Após muitas pessoas falarem sobre esse sentimento, estudiosos após pesquisa apurada chegaram a conclusão de que 70% das pessoas que possuem altos cargos ou que chegaram ao sucesso profissional não se veem merecedoras de tal patamar e se enchem de desculpas para se provarem que não foram seus esforços que os fizeram chegar até lá porque se sentem uma farsa.
Dentre esse percentual, a grande maioria que pensa assim são mulheres!
Sim! Mulheres!
Quando olhamos de fora, temos inúmeros motivos para crer no quanto as mulheres são merecedoras de todo o sucesso que alcançam principalmente por tudo que têm que provar para a sociedade diariamente, ou principalmente pela imensa jornada de tarefas que têm de realizar para conseguir se aperfeiçoar e estarem nos mesmos lugares que os homens.
Muitas vezes vi pessoas falando que quem assim se sente tem a “síndrome do cachorro vira-lata”, aquele que não se vê com valor, que tem que se contentar com qualquer coisa e que como sempre viveu de migalhas nem acredita que tem possibilidade de chegar longe por ser quem é.
Porém, segundo estudos psicológicos, esse comportamento quando exacerbado precisa de acompanhamento médico eis que tamanho prejuízo pode trazer à vida da pessoa, a qual pode ser detectada como a “síndrome do impostor”.
Mesmo galgando vitórias não conseguimos chegar à felicidade, ou se a alcançamos, rapidamente encontramos um meio de dizer que “não é bem assim”, que “só aconteceu porque…” ou tantos outros subterfúgios que tiram o mérito de sua conquista.
Essa armadura de não merecimento vem sendo composta por anos de luta, fracassos, imposições da sociedade, frases escutadas durante anos e que muitas vezes foram proferidas por quem deveria passar segurança e amor, mas que agrediam invés de acolher, causando e fomentando a baixa autoestima.
Daí se explica porque tal síndrome envolve principalmente as mulheres, as “de sexo frágil”, as que se conseguirem algo é porque “deu algo em troca”, as que “escrevem coisa banal de mulherzinha”, as “emotivas e choronas (fracas)”, as que “não tem tempo porque perdem tempo no salão (fúteis)” ou “cuidando da casa – tarefas que qualquer um pode fazer”, as que “tem cota porque agora é lei de que os cargos sejam compostos pela quantidade X de mulheres”…
A própria sociedade deprecia a mulher, e ela, que luta tanto todos os dias para provar o contrário, quando consegue, se pergunta se realmente foi capaz de alcançar tal patamar.
É triste pensar nisso! Pensar que mesmo com tanto esforço chegamos a duvidar de nós mesmos ou simplificar os êxitos menosprezando nossa trajetória.
Essa síndrome é grave e necessita de tratamento para vislumbrarmos nossas vitórias tais como são, sem véu, sem medo, sem angustia por não nos sentirmos merecedores ou evocarmos dúvidas ou desculpas esfarrapadas.
Necessitamos colher e acolher nossos louros da vitória com sorriso no rosto, emoção e gratidão à nossa trajetória, seja ela qual for, mas que seja pautada no esforço, na honestidade, na ética e na força de ser a cada dia o melhor de si porque, unicamente sabe o que se passa dentro de cada um, aquele que vive e não o outro que lhe julga por não conseguir chegar aonde você chegou.
Michelle Carvalho
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